Sem ameaças pelo fogo no Pantanal, Porto da Manga volta a atrair pescadores

A pandemia do coronavirus e a seca no Pantanal não impactaram a comunidade ribeirinha do Porto da Manga, distrito distante 60 km de Corumbá, na beira do Rio Paraguai. A região é polo da pesca esportiva. Na semana passada, os moradores foram surpreendidos com a divulgação, pela mídia nacional, de uma notícia infundada: o fogo os teria expulsado, gerando um caos social.
A vida continua na lentidão do sossegado e isolado lugar. Quando se atravessa o rio de balsa, viajando pela Estrada-Parque (MS-184/MS-228), se percebe como pouco ou nada mudou numa região, importante entreposto comercial no passado. Agora, o que move Porto da Manga é o turismo de pesca, fonte de renda de pesqueiros, piloteiros e vendedores de iscas.
“O fogo nem chegou aqui”, diz, contrariado, o comerciante Delson Castelo, dono de um surtido mercadinho ao lado do Sonetur, único hotel da comunidade. “No ano passado, chegou pertinho, foi assustador. Tivemos que correr pra segurar o fogo com um aceiro. Mas até agora, graças a Deus, está tranquilo”, sustenta ele, uma das lideranças locais.
“Chuvinha ajudou”
A vegetação seca em volta das casas simples de madeira ainda é visível e lembra aquele dia de outubro de 2019, quando um incêndio de grandes proporções foi empurrado pelo vento em direção à comunidade. Um dia para ser esquecido. O fogo foi controlado com a ajuda de maquinários de uma empresa que estrava construindo um dique próximo dali.
Por enquanto, os focos que surgiram na região, entre maio e agosto, não colocaram em risco a comunidade. Os moradores já estão se mobilizando para uma propagação desse fogo. A situação foi amenizada com a chegada das chuvas não normais para o período. “Foi uma chuvinha, mas ajudou”, diz Castelo, referindo-se às primeiras precipitações, ocorridas no domingo passado.

O que ainda intriga aquela gente pacata, porém, é a notícia do incêndio que teria afetado os 200 moradores. “Ligaram aqui de um jornal do Rio de Janeiro, pelo zape, insistindo para que a gente confirmasse o fogo. Não sei como descobriram os nossos contatos”, relata um ribeirinho, que não quis se identificar. “Estão nos usando, com certeza.”
A notícia alarmante não repercutiu. O Corpo de Bombeiros não foi informado, bem como a Defesa Civil de Corumbá. “Não estamos sabendo de nada”, disse o coordenador municipal, tenente bombeiro Isaque Nascimento. O dono do hotel Sonetur, Dílson Zório, acredita que o fato não prejudicará o turismo. “Essa notícia do fogo é uma mentira”, comenta.
Turista está voltando
Porto da Manga é habitado hoje por 45 famílias, ou cerca de 240 pessoas. A comunidade se concentra na margem da MS-228, que demanda a Corumbá e, atravessando o rio, aos pantanais da Nhecolândia e Abobral. Da Manga à BR-262 (são 60 km de estrada cascalhada em manutenção permanente pelo Estado), o passeio vale a pena pela fauna e flora exuberante.
Os operadores da pesca esperavam um ano excelente com a previsão de uma cheia normal no Pantanal, isto é, sem inundar o distrito e interditar a estrada. Mas a pandemia do coronavírus reduziu o fluxo, sem fechar totalmente o hotel e os oito pesqueiros no entorno. “Estamos operando normalmente, embora com 30% de restrição dos leitos”, diz Zório.
Os turistas, após uma retração inicial, estão retornando aos principais polos de pesca na região – além da Manga, tem os empreendimentos situados no Passo do Lontra, distante 8 km da BR-262. O movimento é grande de pescadores transitando ou na beira dos rios Paraguai e Miranda. As pousadas que trabalham com ecoturismo, porém, não estão operando.
Os serviços para a pesca esportiva são variados, conforme o gosto do visitante. Desde pesqueiros simples a hotéis de alto nível de conforto, como o Parque Hotel Passo do Lontra. O Sonetur oferece boas acomodações, com diária completa (café da manhã e refeições) de R$ 250,00 por pessoa. O aluguel de barco com motor (três pessoas) e piloteiro custa R$ 400,00.