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Meio Ambiente

Venda de carne para a Europa ampliou desmate no Pantanal, mostra estudo

Foram 13 as fazendas exportadoras identificadas em Mato Grosso do Sul pela publicação

Por Cassia Modena | 17/11/2023 11:57
Fazenda em Porto Murtinho teve 11,1% de sua vegetação convertida em pastagem, segundo dados analisados pela fundação (Foto: Reprodução/EFJ)
Fazenda em Porto Murtinho teve 11,1% de sua vegetação convertida em pastagem, segundo dados analisados pela fundação (Foto: Reprodução/EFJ)

A exportação para a Europa da carne bovina que sai de fazendas do Pantanal sul-mato-grossense e mato-grossense foi apontada como causa da intensificação do desmatamento no bioma num estudo da Fundação para a Justiça Ambiental (EJF, na sigla em inglês).

A produção também relaciona a derrubada de vegetação para criar pastagens de gado, ao lançamento de 4,6 milhões de toneladas de CO2 à atmosfera. Isso equivale ao consumo de 10,6 milhões de barris de petróleo, para se ter ideia.

A entidade, que é inglesa e foi criada há duas décadas para a defesa do meio ambiente e direitos humanos, publicou a análise no mês passado. Um dos objetivos é informar a Comissão Europeia, norteadora de decisões do parlamento europeu, sobre os impactos da pecuária no Pantanal, considerando regulamento da UE (União Europeia) para exportação de produtos livres de desmatamento.

Arte: Lennon Almeida
Arte: Lennon Almeida

A publicação da fundação não cita, mas o Brasil pode estar próximo de assinar acordo comercial entre o Mercosul e a UE. A regulação relacionada ao desmatamento, além de mudanças relacionadas às compras governamentais brasileiras, são dois tópicos que atrasaram as negociações.

Onde estão - Foram 36 as propriedades rurais identificadas na publicação como fornecedoras diretas de carne para países europeus, sendo 13 em Mato Grosso do Sul, nos seguintes municípios: Aquidauana, Corumbá, Miranda, Porto Murtinho e Sonora.

Outros 276 fornecedores indiretos em Mato Grosso, localizados parcial ou inteiramente no Pantanal, foram estudados. Entre eles e os diretos, soma-se área equivalente a 5,5% do bioma.

Nas conclusões do estudo, a fundação destaca dificuldade de rastrear todas as atividades de pecuária ligadas à exportação para a Europa no bioma, ressaltando que os impactos avaliados podem ser ainda mais expressivos.

"As perdas dessa vegetação estariam fora do escopo dos requisitos de desmatamento zero do atual regulamento da União Europeia", diz trecho da publicação. Ela menciona de forma recorrente a ameaça à biodiversidade e às funções de regulação climática do Pantanal que o desmatamento traz, lembrando que o bioma teve área correspondente ao território da Bélgica consumida por incêndios em 2020.

JBS - A empresa é mencionada no estudo como a principal abatedora de bois criados no Pantanal e a responsável pelas exportações até a Europa.

O produto é processado sobretudo na unidade da empresa em Campo Grande e enviado à Bélgica, Espanha, França, Itália, Países Baixos, Polônia e Suécia, que são alguns dos compradores principais.

Contatada via assessoria de imprensa para se manifestar sobre o estudo e os impactos da pecuária de exportação para a Europa, a empresa não enviou retorno até a publicação desta matéria.

Lei do Pantanal - Em Mato Grosso do Sul, o aumento do desmatamento no bioma motivou o anúncio, pelo governador Eduardo Riedel, da criação da primeira Lei do Pantanal.

O projeto começou a ser discutido em agosto e segue em análise na esfera administrativa. Uma proposta deverá ser apresentada à Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul até 24 de novembro. A discussão deverá ficar para 2024, no entanto.

Entre 2016 a 2022, o incremento do desmatamento no Pantanal sul-mato-grossense foi de 3.517 km², crescimento de 25,4% em comparação com os 2.622 km² registrados de 2009 a 2015, segundo dados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

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