Bumlai diz que cedeu nome para empréstimo por medo de ter terras invadidas
Em depoimento dado ao juiz federal Sérgio Moro na tarde desta segunda-feira (30), o pecuarista sul-mato-grossense José Carlos Bumlai, um dos principais investigados pela Operação Lava Jato, afirmou que cedeu seu nome em um empréstimo para o PT porque teve medo de ter suas terras invadidas.
Bumlai e o filho, Maurício, foram até Curitiba (PR) para fechar a fase de depoimentos, podendo agora Moro abrir o período de alegações finais do processo. O pecuarista afirmou que ele não fez o empréstimo, de R$ 12 milhões, sendo apenas um "laranja" ao ceder o nome. Ele também acreditava que o financiamento não seria aprovado.
A versão dele contraria o depoimento dos proprietários do Banco Schahin, que revelaram ter participado de reuniões com Bumlai. Em contraponto, o pecuarista diz que só foi ao banco em 2004, após ser chamado para oficializar o empréstimo que já estava acertado entre PT e Schahin.
O valor financiado seria usado metade para a campanha eleitoral do segundo turno em Campinas (SP), onde Hélio de Oliveira Santos concorreu à prefeitura, e outra metade para quitar dívidas do partido, conforme teria explicado Delúbio Soares ao empresário sul-mato-grossense nessa primeira visita ao banco.
Para intermediar o repasse do dinheiro, o Banco Schahin pediu a indicação de alguma empresa para Bumlai, evitando assim que o repasse fosse feito diretamente para os petistas. Assim, o pecuarista indicou o frigorífico de um amigo, do grupo Bertin.
Calote e negociata - Porém, o PT não realizou os pagamentos do financiamento, fazendo com que o nome de Bumlai fosse negativado e cadastrado como inadimplente em 2005. Segundo Bumlai, sem saber o que tinha acontecido, ele procurou Sergio Tordin, presidente do banco e amigo dele.
Na conversa, Tordin, ficou sabendo do não pagamento por parte do PT. Assim, o pecuarista deu uma fazenda como garantia, porém, diz que ele não foi executado e o patrimônio não foi tomado dele. Ao procurar o PT, Bumlai ouviu do ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, que era sim responsabilidade do PT o pagamento.
Porém, em 2008, ele foi chamado para quitar a situação e cedeu embriões bovinos para o pagamento. Contudo, os embriões nunca foram entregues e mesmo assim a dívida foi quitada, afirmando em depoimento ter ficado sabendo sobre a negociata entre PT e Schahin em 2012.
No caso, a negociata que quitou os R$ 12 milhões foi o contrato de US$ 1,6 bilhão entre Grupo Schahin e Petrobras para operar o navio sonda Vitória 10.000, sendo que o contrato de venda de embriões foi usado para fraudar a quitação do empréstimo, tentando despistar assim o real motivo do contrato sobre a sonda Vitória.