Chance de eleição é o que movimenta troca-troca de partidos em MS
Políticos percorrem legendas que, na teoria, têm propostas bastante diferentes
Com a combinação a partir de 17 letras, é possível criar os nomes dos 35 partidos políticos registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A facilidade também se mostra em saltar de uma sigla para outra, numa verdadeira “sopa de letrinhas”, mas que, na verdade, tem como pano de fundo números que atendam a uma questão primordial: em qual partido tenho mais chances de me eleger?
“Faz as contas para ver o melhor partido para ser eleito. Não tem mais relação ideológica, o sentido de consciência politica. Mudar de partido é o direito de cada um, assegurado pela Constituição. Mas cada vez que mexe no sistema eleitoral, o político fica procurando a melhor forma de ser eleito”, afirma o professor universitário e cientista político Eronildo Barbosa da Silva.
Para entender os altos e baixos dos partidos políticos, é preciso retroceder na história brasileira. De 1946 a 1964, predominavam poucas siglas, como PTB, UDN e PSD. “Lá atrás, não havia esse troca-troca. Era muito difícil mudar de partido. Era uma vergonha. Porque o partido tinha uma definição muito clara e a palavra do politico um peso muito forte”, afirma Eronildo. Neste cenário, UDN contemplava a direita e PTB a esquerda.
A proliferação de partidos veio no começo da década de 1980, no período da redemocratização, mas oportunizando as siglas de aluguéis e o balcão de negócios. “Você vende o partido para um maior, o tempo de televisão. Então, quando se aproxima a eleição, é muito comum ver quem paga mais para o partido pequeno. É um horror, uma excrecência”, diz Eronildo.
Quanto mais, pior - “É um equívoco brasileiro de permitir essa quantidade enorme de partidos. Isso é exatamente o processo contrário de democracia. Você não tem quantidade de ideologia na mesma proporção de partidos”, destaca o cientista político Tito Carlos Machado de Oliveira.
Para existir, um partido deveria atender, ao menos, três requisitos: ter linha ideológica, trajetória de trabalho e propostas consistentes para a sociedade. “Mas têm partidos montados a partir de interesses pessoais e não a partir de propostas coletivas. O cacique político não gostou de alguma coisa e funda outro partido. Isso é antidemocrático”, afirma Tito.
Apesar da “explosão” de partidos, o eleitor migrou para um perfil mais personalista. Em geral, vota no candidato, sem grandes preocupações a sigla partidária. “No Brasil, a eleição é personalista, não prestigia o pensamento, mas a ação de um determinado indivíduo. Nos anos 50, brigava-se por causa de partido. No processo de redemocratização, aquilo que era típico no Brasil se demonstra. Cria a estrutura partidária personalista, em cima de determinados personagens”, diz Tito.
O cientista político vê os futuros processos eleitorais com mais otimismo, quando a cláusula de barreira tende a reduzir, gradativamente, o número de partidos.
Troca-troca liberado – Até 7 de abril, os partidos e políticos com mandato vivem o alvoroço da liberdade de trocar de sigla sem perda de mandato. Em Mato Grosso do Sul, a janela partidária foi aberta pelo deputado estadual George Takimoto, que migrou do PDT para o MDB.
O deputado federal Elizeu Dionízio saiu do PSDB para o PSB. Desde quando venceu eleição para vereador de Campo Grande, em 2012, ele passou também por PSL e SD.
Fora da janela partidária, outros nomes conhecidos se aninharam em novos partidos. Ex-prefeito de Corumbá, Paulo Duarte saiu do PTB e foi para o MDB, sigla a qual tem histórico de oposição quando foi filiado ao PT e era deputado estadual.
Ex-vice-governador e ex-prefeito de Dourados, Murilo Zauith voltou para o quadro do DEM, pelo qual já foi eleito vice-governador. Antes, já passou por PMDB, PSDB, PFL (que virou DEM) e peo PSB. Ex-deputado estadual, Carlos Alberto David dos Santos, o coronel David, vai se filiar ao PSL. Ele teve passagem por PTdoB e PSC. A reportagem tentou falar com os dois, mas eles não atenderam as ligações.
Com André – Paulo Duarte afirma que a mudança para o MBD foi determinada pelo desejo de apoiar o ex-governador André Puccinelli, que tenta voltar ao cargo. “Sou pré-candidato a deputado estadual, mas não fiz a escolha pensando nisso. O MDB já tem seis deputados estaduais e vem com uma chapa fortíssima. Onde eu estava, seria menos difícil. Mas escolhi apoiar o ex-governador André Puccinelli”, diz.