Com 80% de vagas sobrando, diretor da Funsat quer priorizar qualificação
Novo diretor da Fundação Social do Trabalho, Paulo da Silva, encara fim de ano com mesmo problema de 2021
Escolhido pela prefeita Adriane Lopes (Patriota) para ser diretor-presidente da Funsat (Fundação Social do Trabalho), o contador Paulo da Silva tem um desafio que vem se arrastando pelos últimos anos na gestão do órgão: encontrar gente qualificada e interessada nas milhares de vagas que empresários de Campo Grande oferecem diariamente.
No fim do ano passado, o balanço foi de 11 mil vagas e apenas 1,6 mil contratados, o que representa 15%. Agora, cerca de 20% das vagas têm sido preenchidas, conforme estimativa, portanto 80% ficam abertas.
Conforme o levantamento, noticiado pelo Campo Grande News na época, as demais vagas foram ignoradas por falta de interesse dos desempregados em abraçar jornadas de trabalho que incluíam os finais de semana, por insatisfação com os baixos salários oferecidos ou ainda por falta de qualificação, na avaliação do então presidente da Funsat, Luciano Martins, que foi exonerado no mês passado, a pedido, conforme a prefeita.
Sobra vaga - Com experiência em gestão administrativa, o novo diretor revela que neste fim de ano o balanço não é diferente e mudar esses números é o maior desafio da nova gestão. Para começar a implementar estratégias e tentar mudar o cenário, o diretor vai, naturalmente, fazendo mudanças na equipe da pasta.
“A qualificação das pessoas é fundamental. Vamos intensificar a qualificação em várias áreas, uma delas teleatendimento, que é um mercado que tem crescido bastante. Recentemente fizemos mais de um feirão em que o Grupo Pereira ofereceu 300 vagas para inaugurar duas novas lojas, mas conseguimos encaminhar apenas 59 pessoas, que já foram contratadas. Atualmente, cerca de 20% das vagas são preenchidas todos os meses. Hoje, temos mais de 2 mil vagas diariamente”, comenta Paulo.
O diretor não arrisca afirmar o que leva a taxa tão baixa de vagas preenchidas, mas já aposta na qualificação por perceber que é um dos gargalos.
“Tem outros fatores. Não temos ainda um diagnóstico. Isso está sendo apurado pela nossa equipe, mas temos uma missão muito importante dentro do processo da gestão da prefeita. A Funsat não estava parada, vem fazendo trabalho de gestores anteriores e vamos ampliar essa busca por pessoal. Os números de emprego são verdadeiros. Há muitas vagas, principalmente de comércio e serviços”, explica o diretor.
Paulo quer focar nas necessidades básicas do grupo de pessoas em vulnerabilidade, mas também aprofundar o trabalho de qualificação de outras categorias.
“Queremos buscar esse público, mas como trabalhei muito tempo em grandes empresas, quero resgatar um público que se perdeu ao longo do tempo, resgatar o emprego de nível médio e alto, gente como coordenador, diretor, trazer também para as vagas, mas não é o foco que são as pessoas em vulnerabilidade”.
Proinc - Sobre as fraudes constatadas em um dos principais programas da pasta antes de sua gestão, o Proinc (Programa Assistencial de Inclusão Profissional), Paulo afirma que a equipe trabalha para que isso não se repita, mas alerta para o fato de que isso passa por um trabalho de averiguação em que pessoas que dão falsas informações podem até entrar no programa até “caírem” na checagem de dados.
Neste ano, a lei mudou para deixar mais rígidos os critérios de admissão do programa que paga salário mensal de R$ 1.212, após pressão dos vereadores da Capital. Depois da circulação na internet de lista de contratados que tinha de engenheiro a empresário dono de clínica e pessoas com 9 anos de permanência, o programa demitiu 280 pessoas e, pelo menos, 25 pessoas tiveram que devolver dinheiro.
Dos 2.684 funcionários, ficaram 2.404 após as demissões, conforme apurado pelo Campo Grande News em 26 de agosto. No entanto, agora, as informações no portal indicam que o mês de agosto fechou com 2.133 pessoas no Proinc. Tudo indica, portanto, que outros 271 servidores foram demitidos.
Em setembro, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, por meio do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), instaurou inquérito para investigar supostas fraudes, após denúncia do vereador André Luís Fonseca, o "Prof. André" (Rede).
"Hoje estamos melhor qualificados. Não tem esse risco [fraude]. Burlar a lei, as pessoas podem, porém quando ela faz as declarações, se negar que tem outra renda por exemplo, mentiu lá, essa mentira é de responsabilidade dela. Por conta disso, existe a possibilidade de entrar. Só que a Funsat tem a função de fazer o chamamento, sistema social faz levantamento. Tive uma pessoa que estava há mais um ano desempregado, mas tivemos acesso ao Caged para consultar e descobrir que o cara tinha 11 meses e o serviço social reprovou ele. Somos legalistas temos que cumprir a lei. Às vezes, uma pessoa diz que é de baixa renda, mas tem uma conta de energia de valor alto em seu nome, e aí? Vamos averiguar”, detalha Paulo, referindo-se ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.
Currículo - Paulistano, Paulo foi assessor do esposo da prefeita, o deputado Lídio Lopes (Patriota), em mandatos de vereador e também na Assembleia Legislativa. Além disso, já trabalhou na concessionária Águas Guariroba e em Campinas (SP) por 22 anos. Também foi professor durante seis anos.
"O convite para ser diretor veio de um relacionamento longo com a família e pelos muitos trabalhos sociais ao longo de 14 anos. Trabalho em gestão administrativa há 22 anos", comenta Paulo.