De olho em “likes”, políticos exibem vida pessoal e viram “blogueiros” nas redes
Especialistas afirmam que toda publicação é pensada para manter campanha eleitoral durante o ano inteiro
No cenário político atual, estar presente nas redes sociais é mais do que uma opção, é uma necessidade inescapável. Com um país que abriga um contingente de 250,8 milhões de linhas ativas de aparelhos celulares, um número que supera a população brasileira, ficar à margem das redes sociais significa estar distante do olhar atento do eleitorado.
Políticos têm se voltado para as plataformas on-line com estratégias de marketing, reconhecendo que para serem "vistos" precisam dominar essas ferramentas. Seja para compartilhar propostas ou construir relacionamentos com o público, cada postagem é muito bem pensada.
Um dos mais ativos nas redes, o deputado estadual João Henrique Catan (PL) mescla sua ideologia bolsonarista com memes e 'trends' do momento. “Quem está por trás de cada publicação sou eu. Monitoro e ajudo a criar. Às vezes recebo uma ideia, a ajuda do layout quando estou fora da cidade. Mas o conteúdo eu que faço. Procuro fazer diferente do que está todo mundo fazendo. O mais simples possível. Vejo que quando tem muito layout, distancia a comunicação. Quando tem conteúdo frio tem dificuldade de engajamento”, pontuou.
Neste terreno complexo das redes sociais, existem aqueles que não gostam de falar do assunto. A reportagem tentou uma opinião do decano, o deputado estadual Londres Machado (PP), mas ele não quis comentar o assunto.
Já os ex-governadores que possuem mais de 70 anos estão se jogando na comunicação digital e seguindo a orientação da equipe de marketing. Para o emedebista André Puccinelli, não tem como fazer política hoje em dia sem redes sociais.
“São ferramentas preponderantes na campanha política hoje em dia, pois abrange grande parte da população, rapidamente. Os meios de comunicação ainda devem ser usados, mas sem as mídias sociais, político nenhum alcança cargo”, afirma.
Ele disse que pega dicas com o eleitorado, durante as andanças pelas cidades do Estado. “Nos orientamos com o que a população dá. Perguntamos, o que faria se fosse prefeito? Governador? E a soma das ideias postas na sociedade são nossos indutores para retornarmos através das vontades manifestadas pela população”.
Já José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, é mais categórico. Ele ressalta que cada vez mais cresce a importância das redes sociais para os políticos. “Sou daqueles que acredita que a próxima eleição, se as redes já tiveram papel preponderante no debate, pode ter muito maior. Eu obedeço a tudo que me pedem, porque sou um bom aluno”, revela.
Buscando melhorar os números de alcance, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), recebeu o reconhecimento de ser a quinta colocada entre os 27 mandatários das capitais no ranking de engajamento nas redes sociais.
“Os dados são reflexo da interação com a população campo-grandense. Na rede social, mostramos o nosso trabalho, apresentamos projetos e avanços da gestão, o dia a dia com a minha família e amigos, além de ela ser um canal de interação com a população. Também é lá que recebemos as demandas e sugestões para Campo Grande. A nossa gestão é participativa, e desta forma é construída por todos que aqui vivem, por isso, sempre que possível, leio os comentários da população nas minhas redes sociais e encaminho para secretários. Estou sempre em contato com a equipe de marketing para sugestões de novas publicações e conteúdo”, explicoa a prefeita.
Análise - O cientista político Daniel Miranda observa que a campanha não se resume aos 45 dias fixados pela justiça eleitoral antes da eleição. “O político, para ter voto, precisa de visibilidade. Antes da internet, isso era feito com distribuição de camisetas, canecas, outdoor, placa de inauguração de obra etc. Tudo isso ainda existe, claro, apesar de a legislação ser mais restritiva. A internet, principalmente as redes sociais, são veículos relativamente baratos de se alcançar o público-alvo, ainda mais quando se considera as tecnologias atuais de "targeting"”, explica.
No entanto, a transição para as redes sociais pode ser particularmente desafiadora para políticos mais veteranos. “Essas novidades tecnológicas e de comunicação caminha, às vezes, mais rapidamente do que os veteranos conseguem acompanhar. Mas redes sociais tem seus limites e, talvez, figuras de décadas de história como Londres, com toda uma rede articulada de apoiadores em cidades pequenas, tenha conseguido sobreviver sem precisar recorrer em demasia a redes sociais”, avalia Miranda.
O cientista também ressaltou que eleição é algo incerto. “As redes sociais tem influência, pois campanha eleitoral é apelo emotivo também. Em 2018 e 2020, foi algo que teve muita força, mas em 2022 funcionou menos. No Estado, por exemplo, Contar que estava mais jovem e muito inserido nas rede foi para o segundo turno, mas não se sustentou”, relembra.
Há limites para o excesso de exposição. Se alguns parlamentares conseguem mostrar viagens no início da madrugada, comendo marmita às 16h ou recebendo seguidores do fã clube virtual no gabinete, há quem extrapola. “Lembro do Alcides Bernal, quando prefeito, que ficava discutindo com eleitor no Facebook. Algo desproporcional à posição que ocupava então. Também é relativo à situação da lacração. Tem político que foi eleito via lacração, porque isso dá engajamento, embora não seja regra”.
Kenneth Corrêa, especialista em marketing digital, afirma que é importante para os políticos estar presente nas redes para se comunicar, além de fazer a prestação de contas. “As redes sociais estão cada vez mais presentes na vida do brasileiro que passa 3h30 navegando nestas plataformas, todos os dias”.
Quando se usa de uma maneira estratégica, Corrêa destaca a frequência de postagens. “Quando é muito alta, os seus seguidores começam a se cansar, bloqueiam você, acaba perdendo o seguidor. Tem exceções, como os candidatos que nasceram nas redes”, pontua.
Ele trabalha com um planejamento de ‘alfaitaria’. “Fazemos para cada caso. Para cada pessoa pública tem uma pesquisa de referência para seguir. Se é um candidato com foco na saúde, vou procurar referências do país e do resto do mundo de postagens de políticos com pautas de saúde”, explica.
A pandemia foi outro ponto importante para a difusão das redes na política. “Alguns se deram bem, no sentido da forma de falar, o tipo de conteúdo e outros que só para ‘cumprir tabela’”, acrescenta.
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