Denúncias na saúde exaltam ânimos de vereadores e bate-boca marca sessão
Uma série de denúncias na área da saúde exaltaram os ânimos dos vereadores na manhã desta terça-feira (27) e transformaram a Câmara Municipal de Campo Grande em um palco de discussões. O primeiro a ocupar a tribuna para ler o documento, 11 dias após ser acusado de não cumprir a carga horária como médico na Prefeitura da Capital, foi o presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Calote, Paulo Siufi (PMDB).
As revelações chegaram de maneira anônima, enviadas pelo correio ao gabinete do vereador Eduardo Romero (PT do B). Ele inicia falando, “por letras do alfabeto”, que o depósito de remédios ao lado da Semed (Secretaria Municipal de Educação), na Vila Margarida, está vazio, sem jaleco, luva descartável, material correto de esterilização para os materiais odontológicos, papel para procedimentos cirúrgicos, além da falta de seringas, agulhas e bisturis.
Já na área da saúde animal, Siufi diz que o documento ressalta que o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) também está sem anestésico e a necessidade é tamanha que os servidores estão pedindo doações em pet shops de Campo Grande, o que inclusive também está comprometendo a eutanásia nos animais.
Enquanto lia o texto, o vereador Marcos Alex (PT), líder do prefeito na Casa de Leis, pediu aparte (intervalo para fala). “É um abecedário de denúncias e, se depender da oposição, vai chegar a letra Z”, afirma, insinuando ainda que sempre ocorrerão denúncias contra o prefeito Alcides Bernal (PP) e ainda pergunta quem assinou o documento, por conta da gravidade das alegações. “Se não tiver assinatura, não tem credibilidade”, emenda o líder do prefeito.
O petista ainda ressaltou que levou a filha na UBS (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Tiradentes, na semana passada, e foi muito bem atendido. “Ela foi tomar a vacina e em menos de 15 minutos recebemos o atendimento”, comentou o vereador.
Já exaltado, neste momento Siufi disse que ele “mordeu a isca”, principalmente porque tal denúncia também estaria em seu gabinete e Alex sequer abriu o documento. O presidente da câmara ainda comentou que desde o início do ano até este mês já foram gastos R$ 300 milhões na área da saúde, sendo R$ 5 milhões destinados a engenharia. “É por isso que eu não entendo porque o Hospital da Mulher, nas moreninhas, está com um gerador que não funciona há meses”, comentou.
Nepotismo - No auge, ao citar nomes, Siufi diz que parte da família do secretário adjunto de saúde, Victor Rocha Pires de Oliveira, está trabalhando na Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). “Victor é coordenador de urgência do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) e recebe R$ 25 mil por mês, inclusive estou com a cópia do contracheque dele”, alfineta Siufi.
Ele ainda complementou que não teve direito a defesa na sindicância aberta contra ele, que encerrou no dia 9 de agosto. “Como todos os denunciantes, também sofro perseguição. Temos inclusive câmeras de vigilância nas unidades de saúde de Campo Grande para ouvir a conversa dos funcionários”, diz.
Sem papel - Ainda no assunto do “caos na saúde”, Eduardo Romero (PT do B) falou que as unidades de saúde do bairro Universitário e Mata do Jacinto estão até sem o papel para ser feita a prescrição médica. “O paciente tem que atravessar a rua e buscar o papel em uma papelaria próxima se quiser receber o remédio”, fala.
Na sua vez, a vereadora Luíza Ribeiro (PPS), comentou que Campo Grande precisa de investimentos na saúde. “Essa área enfrenta graves problemas, tanto que é objeto de duas CPI´s. O problema é que no passado houve um grande desvio de verba para beneficiar muitas pessoas. Como exemplo, sabemos que 26% do recurso foi para a saúde no ano anterior, mas cadê o resultado?”.
Siufi retomou a fala e disse que Wagner Rocha Pires de Oliveira tem quatro vínculos com a prefeitura, Polícia Civil e o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) . “Ele possui quatro holerites, além de ser irmão do Victor, coordenador do Samu”, denuncia. Neste momento, ele ainda citou o atual secretário da saúde, Ivandro Fonseca.
“Ele utilizou o celular da maternidade Cândido Mariano, após finalizar a administração, por seis meses. Fonseca ainda possui vínculo com Marcelo Soriano, que era advogado da maternidade e agora está na Sesau, além de vínculos com filho do antigo interventor da Santa Casa, que recentemente foi nomeado”, fala.
“Se for pra falar de república, nepotismo, vamos falar da “república dos Trad´s”, porque tinha o Mandetta como secretário de saúde, parente do ex-prefeito Nelson Trad Filho (PMBD), além do Siufi que é primo dos Trad. Então, vamos começar convocando esta família”, argumenta Alex.
O líder do prefeito diz ainda que ocorre agora a desmonta da gestão passada e que todas as denúncias serão apuradas. “Não vou ter comportamento leviano de não me posicionar sobre a CPI da Saúde, mas muitos parlamentares só estão querendo holofotes da mídia para pregar a lógica perversa da cassação do prefeito”, finalizou.