Divergentes, deputados de MS debatem em início dos trabalhos da CPI do MST
Sessão foi marcada por bate-boca entre deputada petista de MS e parlamentar bolsonarista de SC
A sessão de apresentação do plano de trabalho da CPI do MST (Movimento Sem Terra), nesta terça-feira (23), contou com a participação dos deputados Rodolfo Nogueira e Marcos Pollon, ambos do PL, e da deputada Camila Jara (PT), todos suplentes na comissão que tem como objetivo investigar ações e quem financiadores das atividades do movimento pelo Brasil.
Antes do início dos debates, a deputada Camila Jara ofereceu um suco de uva produzido pelo MST ao relator da comissão, deputado Ricardo Salles (PL). Na sequência, a petista transformou a bancada onde está sentada num espaço para expor outros alimentos produzidos pelo movimento.
Como era esperado, o clima foi de trocas de ataques entre defensores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive em assuntos ideológicos que não tinham a ver com o propósito da comissão.
O primeiro de Mato Grosso do Sul a falar na comissão foi Rodolfo Nogueira, produtor rural e defensor do agronegócio, o parlamentar atacou as ações do MST, classificando o grupo como criminoso. “Quem pratica crimes de invasões e destruições infringem o código penal e são bandidos. Então não tem outros nomes a não ser tipificá-los como bandidos”, esbravejou o parlamentar.
Na mesma linha, o colega de partido Marcos Pollon fez uma enxurrada de acusações, classificando os membros do MST como terroristas. “Não vamos passar a mão na cabeça de criminosos, não vamos tolerar em hipótese alguma os crimes que vem sendo perpetrados no campo. É necessária a segurança no campo, que vai além da segurança física e jurídica”, reforçou o deputado, dizendo ainda que o movimento sem-terra não passa de “massa de manobra”.
Única de Mato Grosso do Sul na defesa das ações do MST, Camila Jara classificou as acusações de parlamentares ruralistas atribuídas ao movimento como “narrativas” para transformar o MST em inimigo. “Para alguns discursos é mais fácil criar um inimigo comum para conseguir cativar adversários. É muito mais fácil do que colocar os problemas reais do Brasil em discussão, que é a questão fundiária brasileira, que não é uma coisa que se resolve com jargões”, criticou a petista.
Ainda em sua fala, a parlamentar sul-mato-grossense comentou que é neta de assentados, que vivem em assentamentos que há mais de 20 anos espera por saneamento básico. Ao final de seu discurso, a petista foi chamada de “hipócrita” pela deputada Caroline de Toni (PL-SC).
“Vem aqui a deputada falar que é neta de assentados que não tem saneamento básico. Então o que o PT fez ao longo desses anos, que não levou saneamento básico?", questionou a deputada catarinense. “É fácil falar de justiça social com iPhone e bolsa da Louis Vuitton. Porque não vende a bolsa para compartilhar com o pobres e dar a justiça social que a deputada tanto fala? É fácil ser socialista de iPhone desse jeito”, discursou a parlamentar de Santa Catarina em direção à deputada de Mato Grosso do Sul.
Como resposta aos ataques, a petista exigiu que os parlamentares se atentassem ao tema da CPI em busca de soluções. “Aqui, não temos que fazer juízo de valor e muito pelo contrário, temos que buscar soluções para os problemas do dia a dia. Fico feliz em saber que estão preocupados com a questão de entrega de títulos rurais, então quando o governo federal mandar a medida provisória para entrega dos títulos, espero contar com o voto de todos os parlamentares para que a gente consiga solucionar esse problema”, finalizou Camila Jara.
Após diversos bate-bocas entres os parlamentares, a reunião chegou ao fim sem a apresentação do cronograma de trabalho. A sessão será retomada amanhã (23), para deliberar sobre 15 requerimentos apresentados pelos membros da CPI, entre eles pedidos de convocação ou convite para que autoridades, lideranças ou testemunhas prestem depoimentos à comissão.