Doleiro diz em delação que Temer veio a MS em 2012 para agradecer propina
Segundo Funaro, a Eldorado pagou a propina para ele por meio de emissão de notas fiscais frias
A visita do então presidente em exercício Michel Temer (PMDB) a Três Lagoas em dezembro de 2012, na inauguração da Eldorado, gigante do setor da celulose, teria sido um agradecimento por propina. A afirmação é do doleiro Lúcio Funaro, operador do ex-deputado federal Eduardo Cunha, que fez delação premiada.
Conforme o depoimento de Funaro à PGR (Procuradoria-Geral da República), em 24 de agosto deste ano, propina paga pela Eldorado para obter benefícios na Caixa Econômica Federal foi dividida entre Cunha, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB) e Michel Temer. O valor da propina foi em torno de R$ 32 milhões, sendo 3,2% pago ao trio.
“Que se recorda que, em sinal de agradecimento, Michel Temer foi na inauguração da Eldorado na cidade de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul em dezembro de 2012”, diz Funaro na delação. A empresa pertencia à Holding J&F, cujos donos Joesley e Wesley Batista também fizeram delação premiada.
Segundo Funaro, a Eldorado pagou a propina para ele por meio de emissão de notas fiscais frias. Em seguida, o valor foi repassado em dinheiro vivo para Cunha, “que ficou responsável por distribuir o montante entre Henrique Alves e Michel Temer”.
A inauguração da fábrica, em 12 de dezembro de 2012, teve show do tenor italiano Andrea Boccelli. Politicos e Joesley Batista marcaram presença. Na ocasião, Michel Temer declarou que o investimento do BNDES(Banco Nacional de Desenvolvimento) na construção da empresa “mostra que a política é de incentivar investimentos para industrialização em várias regiões”.
Captação – No mês de maio, com a delação de Joesley Batista, veio à tona que esquema de corrupção injetou R$ 3,4 bilhões na Eldorado. Do total, R$ 940 milhões teriam sidos captados ilegalmente em 2012. A fonte do dinheiro foi o FI-FGTS (Fundo de investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), da Caixa Econômica Federal.
Joesley afirmou à PGR “que ouviu do doleiro Lúcio Funaro, ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que sua empresa não conseguiria financiamento do FIFGTS se não pagasse propina e que o pedágio equivaleria a algo entre 3% e 3,5% do valor das operações”. A Eldorado foi vendida no mês de setembro.