Esquema de corrupção injetou R$ 3,49 bilhões na Eldorado, afirmam delatores
Empresa pertence à família Batista, donos do grupo JBS
O esquema de corrupção relevado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo JBS, envolve uma das empresas gigantes de Mato Grosso do Sul, a Eldorado Brasil, com unidade em Três Lagoas e produção anual de 1,7 milhão de toneladas de celulose.
Facilidades na aquisição de empréstimos via troca de favores e captações ilegais renderam à Eldorado pelo menos R$ 3,49 bilhões. Entre os políticos favorecidos, estão a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) o senador cassado Delcídio do Amaral e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB).
Conforme matéria publicada pelo Valor Econômico, a partir das delações dos irmãos Batista, a Eldorado, pertencente a holding J&F, da família Batista, nasceu e se fortaleceu sob o esquema de corrupção. A fábrica de Três Lagoas contou com investimento de R$ 6,2 bilhões na primeira fase.
Parte do dinheiro resultou de financiamento de R$ 2 bilhões do BNDES ( Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A facilidade da operação teria relação com a doação de R$ 30 milhões para a campanha da ex-presidente Dilma Roussef (PT) a pedido do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
Outro recurso, de R$ 940 milhões, teria sido captado ilegalmente em 2012. A fonte do dinheiro é o FI-FGTS (Fundo de investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), da Caixa Econômica Federal. Joesley afirmou à PGR (ProcuradoriaGeral da República) “que ouviu do doleiro Lúcio Funaro, ligado ao expresidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), que sua empresa não conseguiria financiamento do FIFGTS se não pagasse propina e que o pedágio equivaleria a algo entre 3% e 3,5% do valor das operações”, afirma a reportagem do Valor. Funaro e Cunha receberam, nesse esquema, R$ 150 milhões da Eldorado.
Joesley também relatou outro crime, que envolve dois acionistas da Eldorado, os fundos de pensão Petros (de funcionários da Petrobras) e Funcef (da Caixa), cujos investimentos são alvo de investigação do MPF (Ministério Público Federal). “Em 2009, quando a companhia atual ainda não existia mas o grupo já tinha um negócio de reflorestamento, Joesley conta que chegou a um acordo com Guilherme Lacerda, então presidente da Funcef, e Wagner Pinheiro, da Petros, para ampliar as atividades da empresa chamada Florestal”, diz a reportagem.
“Desse acerto nasceu o FIPFlorestal, usado como veículo de investimento na Florestal e no qual cada fundo de pensão aportou R$ 275 milhões a J&F e outro sócio, Mário Celso Lopes, entraram com ações da própria Florestal”, acrescenta. Lacerda e Pinheiro receberam, cada um, 1% do valor da operação. Lacerda já divulgou nota negando o recebimento da propina.
Também houve pagamentos indevidos em 2011, depois da fusão da Florestal com a Eldorado Celulose. Por essa transação, o expresidente da Petros Luis Carlos Afonso teria levado um apartamento em Nova York avaliado em US$ 1,5 milhão.
Essa operação resultou na estrutura societária atual da Eldorado. A J&F detém 63,59% da Eldorado (participação direta), enquanto o FIP Florestal tem 34,45% e o FIP Olímpia, do presidente da companhia, José Carlos Grubisich, 1,96%. No FIP Florestal, Funcef e Petros têm 24,75% cada, e a J&F, o resto.
Outro delator do grupo, o ex-diretor de relações institucionais da J&F, Ricardo Saud, afirma que Temer, ainda na vicepresidência da República, atuou para facilitar a obtenção de licença para construção do terminal de cargas da Eldorado no Porto de Santos (SP). Segundo Saud, a companhia iniciou em 2015 a reforma do terminal e com apenas um mês de execução, as obras foram embargadas pela Codesp, autarquia que opera o porto paulista. A ajuda foi solicitada a Temer porque, segundo o executivo, era ele quem controlava as nomeações na Codesp.
Delcídio do Amaral também é citado por Ricardo Saud. De acordo com ele, o senador cassado teria recebido "mensalinho" de R$ 500 mil por dez meses para atender a interesses da Eldorado.