Empresa exigia 550 mil euros para prosseguir com obra do Aquário
Faltando sete meses para o fim do mandato o Governo do Estado teve dias de difícil negociação com a empresa Fluidra Brasil, que exigiu aumento de 550 mil euros para prosseguir com as obras, executadas por trabalhadores espanhóis. É o que mostram as conversas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça Federal. As comunicações evidenciam a preocupação com a paralisação dos trabalhos.
As conversas foram no dia 13 de maio do ano passado. Na ligação das 11h18, o secretário de Governo, Osmar Jerônimo, fala com o fiscal da Agesul e integrante da Comissão de Fiscalização do Aquário do Pantanal, Luiz Mário, sobre o valor cobrado pelos espanhóis para prosseguir com o trabalho no Aquário do Pantanal: 550 mil euros. Osmar pede então para falar com o representante da empresa contratada pela Egelte para executar o serviço e o secretário é incisivo em afirmar sobre a impossibilidade do pagamento. “Não temos como pagar, não temos como viabilizar. Se vocês quiserem montar a obra vocês montam, se não quiserem montar vocês não montam (…), não tem como a gente assumir umas coisas loucas dessas, porque é impossível, é inviável esse pagamento, não tem como justificar”, afirma Osmar.
Até então os diretores da empresa contratada estavam irredutíveis e Osmar Jerônimo então convoca o dono da Proteco e líder da organização criminosa investigada na Operação Lama Asfáltica, João Alberto Krampe Amorim dos Santos, para resolver o impasse. “Eu vou precisar que você entre naquele B.O. lá dos espanhóis, senão não vai resolver”, diz o secretário na conversa com João Amorim na ligação feita às 11h25 do mesmo dia. “Eu tô dizendo para não pagar o número que eles querem, a gente tem que dar um reajustezinho para ele, não tem como. Mas não da forma como eles estão querendo. O valor que eles estão querendo é exorbitante, por isso eu quero, que você é mais negociador, você entre no meio e já fecha.”, diz o secretário ao fim da ligação.
Mas nas conversas com o irmão Sandro Beal, João Amorim demonstra não estar disposto a entrar na negociação, que foi fechada no meio da tarde. Luiz Mário avisa a Osmar Jerônimo que eles abaixaram o valor para 350 mil euros e o secretário dá o aval: “fecha, fecha”. Ficou acertado então que o primeiro pagamento seria no final do mês e que em 35 dias a empresa concluiria a obra. “Pra terminar”, pergunta Osmar, e ouve a resposta do fiscal: “Pra terminar tudo”. A resposta do secretário é de alívio: “Tá ótimo, melhor ainda”.
Nas conversas subsequentes não se fala se esses 350 mil euros seria um aditivo ou parte do pagamento. O Campo Grande News tentou contato com o ex-secretário de Governo e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Osmar Jerônimo, mas não conseguiu. A assessoria da Secretaria Estadual de Infraestrutura informou que a Fluidra Brasil está executando a obra normalmente e não sabe do que se trata esse pagamento, pois todos os contratos referentes as empresas do grupo de João Amorim foram apreendidos no último dia 9, durante a Operação Lama Asfáltica. A Fluidra executa a parte de cenografia do Aquário do Pantanal, como reproduzir no fundo dos tanques o habitat natural dos peixes.