Ex-assessor reitera que Chocolate ficou "rico" após cassação de Bernal

Depois do depoimento do radialista Evandro Batista da Silva, prestado na 3ª Delegacia de Polícia, no bairro Carandá Bosque, no último dia 18 de agosto, em que relatou que o patrimônio do vereador Waldecy Batista Nunes, o Chocolate (PTB), apresentou evolução patrimonial após a cassação do prefeito Alcides Bernal em março do ano passado, outro ex-assessor do vereador decide reforçar as declarações do colega de gabinete.
O também radialista Octávio Augusto Taveira do Carmo, de 22 anos, disse ter trabalhado com o vereador até o dia 30 de abril de 2015 e foi demitido sem qualquer motivo. Para o trabalhado com Chocolate desde o início do mandato, em 2013, ele recebia R$ 800,00 por mês, sem qualquer vínculo com a Câmara Municipal. “Ele me dizia que não poderia me nomear porque minha mãe recebia benefício do governo e poderia perder”, relatou ele, mesmo sabendo que não era nada disso, mas apenas uma forma do então “amigo e irmão” reduzir os gastos do gabinete.
Durante a entrevista ao Campo Grande News, ocorrida na manhã de hoje, na casa humilde em que mora com a mãe, no bairro Moreninha 3, o ex-assessor demonstrou estar magoado com o ex-patrão, que ele considerava “um amigo e irmão”, desde a época em que o conheceu e passaram a trabalhar juntos. Em alguns momentos Octávio Augusto se emocionou ao lembrar de alguns fatos ocorridos durante os cinco anos e meio em que esteve com Chocolate.
Octávio Augusto disse ter conhecido Chocolate quando ele ainda era assessor de palco do apresentador e deputado estadual Maurício Picarelli em 2010, mais precisamente no dia 1º de janeiro, na véspera da estreia do programa do apresentador na TV Record.
A partir daí, diante do trabalho que Octávio Augusto realizava na Rádio Comunitária Moreninha 106, Chocolate teria o convidado para trabalhar junto nas apresentações que ele fazia pelo Estado com a caravana do Picarelli. “Aí começamos uma parceria de trabalho e amizade”, contou.
Próximo das eleições de 2012, Chocolate teria levado o amigo e funcionário até sede da Rádio Cidade para apresentá-lo ao então deputado estadual Alcides Bernal, que tinha um programa lá. Octávio Augusto disse que Bernal expôs a ele vontade de ser prefeito de Campo Grande. Essa teria sido a única vez que participou de uma conversa em sala fechada com Alcides Bernal e Chocolate. Bernal teria dito que ele, Octávio Augusto, ajudando na campanha do amigo Chocolate estaria ajundando a ele também a se eleger.
O ex-assessor relatou que a primeira vez que se decepcionou com o então “amigo, irmão” foi durante a campanha para vereador em 2012, quando soube que Chocolate havia contratado pessoas de “má índole” para trabalhar. Lembrou ele de um episódio em que dois sobrinhos do candidato a vereador e um terceiro o acusou de roubar um celular e chegaram a agredi-lo fisicamente na rua, sem qualquer motivo. “Cheguei a registrar boletim de ocorrência, mas a pedido do Chocolate não levei a denúncia à frente.”
Com a eleição de Chocolate, Octávio Augusto, disse que foi convidado para a posse e depois chamado pelo vereador para trabalhar como assessor de campo, responsável por levar as demandas dos bairros ao gabinete, mas passou a acompanhar o vereador como assessor direto, junto com Evandro Silva. “Quando o Evandro não podia estar com ele era eu quem o acompanhava nas reuniões e visitas. Estive mais próximo ainda”, afirmou.
Octávio revelou ter acompanhando o ex-patrão em diversas reuniões às vésperas da cassação do prefeito Alcides Bernal, inclusive na casa do empresário João Amorim, investigado nas operações Lama Asfáltica e Coffee Break, por envolvimento em esquema de corrupção por fraude em licitações do governo do Estado e compra de vereadores na Câmara Municipal para tirar o Bernal do cargo de prefeito. “Inclusive teve reunião com a presença do vice-prefeito Gilmar Olarte”, afirmou.
Conforme Octávio, a reunião na casa de Amorim teria iniciado 18h30 e terminada 22h30, período em que ele ficou dentrou do carro, enquanto os guardas municipais do vice-prefeito vigiavam o local. “Eu tinha ordem do Chocolate de sair apenas para ir ao banheiro, mesmo assim avisando os seguranças do Gilmar Olarte”, lembrou.
Na época, conforme o ex-assessor, Gilmar Olarte fazia muitas visitas ao gabinete do vereador Chocolate para saber se estava tudo dando certo. Uma das conversas teria durado três horas e meia. Também disse que houve frequentes reuniões na casa do vice-prefeito e até na residência do ex-secretário de governo Paulo Matos. Ao mesmo tempo, de acordo com Octávio Augusto, o patrão participava das conversas com Alcides Bernal, “como se nada estivesse acontecendo”.
Octávio Augusto reiterou que tudo que o colega de trabalho Evandro disse à Polícia Civil é verdade e que ele está disposto a depor a qualquer autoridade, caso seja convocado. “Não tenho motivo para não falar a verdade. Estou muito arrependido de ter participado dessa política”, declarou, complementando que Chocolate mudou da “água pro vinho”, depois de eleito e que depois da cassação de Bernal ele teria ficado mais agressivo e “estúpido” na relação com os funcionários do gabinete.
Ainda de acordo com o ex-assessor, o ex-patrão teria viajado aos Estados Unidos em julho de 2014, onde permaneceu por cerca de três semanas com a esposa. “Eles foram até na Disney, como relatou e mostrou as fotos com o Mickey e outros personagens infantis. Apenas não postou foto no Facebook para não dar problema pra ele”, comentou Octávio.
Octávio Augusto afirmou que foi após a saída de Bernal da prefeitura que Chocolate conseguiu comprar e reformar a casa em que passou a morar, conforme depoimento do Evandro Silva. “Chocolate deixou o poder subir à cabeça. Vi e vivi tudo o que aconteceu e afirmo que a cassação do Bernal foi golpe mesmo”, concluiu.
O vereador Chocolate confirmou que Octávio Augusto o ajudava em algumas coisas e que não era nomeado na Câmara Municipal. O vereador ficou de conversar mais detalhadamente com a reportagem do Campo Grande News nesta quinta-feira.
Gilmar Olarte e João Amorim não foram localizados e os advogados deles não atenderam as ligações.
Paulo Matos afirmou que nunca participou de reuniões para falar sobre a cassação de Bernal. "Alguém está mandando ele falar isso, nunca houve isso que ele está dizendo", afirmou.