Já há dois meses na ativa, nenhuma das CPIs convocou Adalberto Siufi
Criadas praticamente ao mesmo tempo, as duas CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Saúde, instaladas na Câmara Municipal de Campo Grande e Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, começam a repetir oitivas. Já ouviram, por exemplo, 3 vezes o ex-diretor do HU, mas ainda não convocaram o principal protagonista das denúncias sobre desvio de verba do SUS (Sistema Único de Saúde), o médico Adalberto Siufi, peça-chave para solucionar o caso da “Máfia do Câncer”.
O oncologista aparece em praticamente todas os diálogos revelados por escutas telefônicas veiculadas na mídia, até sua filha, Betina Siufi, protagonizou alguns episódios registrados nas gravações. Mesmo assim, mais de dois meses de audiências se passaram e nada das Comissões chamarem pai ou filha. A dupla comandava o Hospital José Abrão (HC) e estava à frente da unidade quando ocorreu a Operação Sangue Frio.
Na semana passada, o vereador Coringa (PSD) requereu a convocação de Siufi à comissão instalada na Câmara, no entanto, até o momento, nada foi confirmado. Durante acareação na semana passada, um e-mail onde Betina determina o que deve ser comprado para ala oncológica do HU foi entregue à comissão. A médica, teoricamente, nada tem a ver com o hospital Universitário, portanto, a mensagem eletrônica seria mais uma denúncia.
Na Assembleia a cena se repete. Ontem o presidente da CPI, deputado estadual Amarildo Cruz (PT), chegou a mencionar o nome do médico, mas nada aprofundado. “Não descartamos a possibilidade de convocar o Adalberto Siufi”, se limitou a dizer.
Em contrapartida, o ex-diretor do Hospital Universitário, José Carlos Dorsa, prestou depoimento três vezes. Duas na Câmara Municipal e a outra na Assembleia Legislativa. Em absolutamente todas as ocasiões, Dorsa deu as mesmas declarações, sempre ressaltando que é inocente e que foi a pessoa que mais lutou para ativar o setor de radioterapia do HU.
A reitora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Célia Correa, bem como a médica física Regina Prestes, também fizeram parte de duas oitivas com os vereadores. Na Casa de Leis do município, apenas integrantes do Conselho Curador do HC foram ouvidos. Os parlamentares chegaram a visitar o hospital, nada além disso.
Suspeitas - Conforme a denúncias, Siufi fez manobra para manter contrato com a empresa Neorad, do qual é proprietário, e rendia, em média, R$ 3,1 milhões por ano. Pressionado pelo Conselho Curador, o contrato com a Saffar & Siufi Ltda (nome oficial da Neorad), que perdurava desde 2004, foi rescindido em agosto do ano passado.
Contudo, em março deste ano, sete meses depois, o Ministério Público recebeu a informação de que a sucessora no contrato foi a Siufi & Saffar Ltda. Apesar dos nomes invertidos, as empresas tem o mesmo quadro societário. O detalhe é que o contrato previa o pagamento do valor estipulado pelo SUS, mais acréscimo de 70%. No HU o setor de radioterapia estaria propositalmente inativo justamente para encaminhar os pacientes à Neorad.
Tempo hábil – A CPI da Câmara teve início no dia 7 de maio, na Assembleia a comissão foi criada sete dias depois, 14 de maio. As duas têm 90 dias de prazo para entregar relatório conclusivo, com direito a estender para mais 60 dias, caso haja necessidade.