O ano em que o PMDB perdeu a hegemonia de 20 anos em Campo Grande
2012 também foi marcado pela eleição de uma “nova cara” à Câmara da Capital; no interior, operações policiais em 6 Prefeituras
Dois mil e doze termina com o resultado da eleição para prefeito de Campo Grande como a maior mudança política no ano. Após uma disputa em dois turnos, a primeira desde 1996, Alcides Bernal (PP) venceu seu concorrente Edson Giroto (PMDB) e quebrou a hegemonia de duas décadas do PMDB à frente da administração da Capital.
A vitória de Bernal foi contra uma corrente que desacreditou sua, em chapa única. Desde que se lançou candidato no início do ano, a desconfiança de que ele não teria “estrutura” para vencer a eleição imperou.
Isso porque, de outro lado, o PMDB se articulava para lançar candidatura própria com apoios de peso como o prefeito de Campo Grande, Nelson Trad Filho, e do governador André Puccinelli. O nome de Giroto foi oficializado em março.
No fechamento das alianças nas convenções, no final de junho, a chapa peemedebista consegue aglutinar 16 partidos aliados, enquanto Bernal seguia isolado. Mesmo assim, confirmou a candidatura, porém, sem anunciar o vice. O nome veio quase uma semana depois: Gilmar Olarte, liderança evangélica, foi escolhido e o deputado estadual seguia para a disputa, com outros seis candidatos, em chapa pura.
Com um tempo de pouco mais de três minutos de propaganda eleitoral gratuita, Bernal iniciou o processo em desvantagem. As primeiras pesquisas eleitorais apontavam liderança de Giroto na preferência dos eleitores. Nesta altura do jogo, sua candidatura ainda era apontada como fraca e sem condições de vitória.
Com o passar das semanas, a desvantagem nas pesquisas foi caindo até Bernal terminar o primeiro turno na liderança dos levantamentos para intenção de votos dos eleitores. Na votação, 7 de outubro, ele recebe 176.288 mil votos (40.18%) contra 122.813 de Giroto (27,99%), diferença de 53,4 mil votos. Depois de 16 anos, a eleição a prefeito da Capital ia para o segundo turno.
Em meio aos números, a votação do candidato Reinaldo Azambuja (PSDB) teve espaço para destaque. O tucano, que teve como vice Athayde Nery (PPS), recebeu 25,9% dos votos válidos e ficou dois pontos percentuais atrás de Giroto.
E se a primeira etapa do jogo foi disputada em chapa pura, Bernal passa a contar com apoios de peso como PT, PPS e PSDB no segundo turno. Alianças feitas por conta do “pacto da oposição”, selado pelos candidatos em 30 de junho, que tinha o combinado de formar um bloco para enfrentar o candidato do PMDB.
Com a votação expressiva no primeiro turno, os apoios consolidados, e a igualdade do tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão de dez minutos para ambos os candidatos, Bernal seguiu na liderança das pesquisas; naquela altura do campeonato, a vantagem não seria mais desfeita. Tanto que sua candidatura resistiu a ataques, em forma de impressos ou vídeos, que o acusaram, entre outros fatos, de receber dinheiro por debaixo da mesa numa negociata.
Além disso, mostrando segurança com os rumos da eleição, Bernal se negou a comparecer a debates televisivos da última semana de campanha. Foi apenas ao da TV Morena, afiliada da Rede Globo, no dia 26 de outubro. Dois dias depois, foi declarado prefeito eleito da Capital com 270.927 dos votos válidos (62,55%) contra 162.212 votos (37,45%) de Giroto.
Depois das urnas – Os dias que seguiram a vitória do progressista nas urnas não foram tão tranquilos como a vantagem nos votos. Uma das primeiras críticas foi a demora para anunciar sua equipe de transição. Os nomes foram revelados apenas no dia 12 de novembro, 15 dias após a vitória.
Outro contratempo nos primeiros dias após sua eleição foi um “jogo de empurra” com vereadores e o prefeito Nelsinho Trad sobre a aprovação do projeto do reajuste do IPTU, uma das principais receitas da administração municipal, para 2013, seu primeiro ano de mandato.
Bernal defendeu, ao longo da campanha, o congelamento do tributo, o que fez os parlamentares encamparem a ideia no Legislativo. Nelsinho enviou um projeto que indicava aumento de 5,3%. Durante as discussões, vereadores reclamaram da ausência do prefeito eleito no debate e, por fim, modificaram a matéria e aprovaram o congelamento do imposto para 2013.
O progressista considerou a atuação dos vereadores como política e egoística; ele admitiu que o congelamento do tributo, que reduz a receita para seu primeiro ano de governo, trará prejuízos aos cofres municipais. Ele chegou até a usar as redes sociais para fazer críticas, o que azedou a relação antes mesmo dele tomar posse.
Mas a aprovação do projeto sobre o IPTU seria apenas a primeira indisposição dos parlamentares da Capital com Bernal. O Legislativo ainda aprovou a emenda ao orçamento 2013 que reduziu de 30% para 5% a abertura de créditos adicionais a ser utilizado pelo prefeito sem que as transações financeiras precisem passar por autorização da Câmara, o que diminui a autonomia do chefe do Executivo Municipal.
Além disso, no encerramento dos trabalhos na Câmara, parlamentares aprovaram o aumento do salário do prefeito. Bernal vai assumir a cadeira do Executivo com salário de R$ 20,8 mil, 31% a mais do atual rendimento. Os dois textos referendados na Casa foram contrários ao desejo de Bernal, que terminou o ano com derrotas na Câmara.
Ele, por outro lado, além de definir a atuação de “alguns” parlamentares como continuidade da eleição, o terceiro turno, defendeu-se dizendo que se há alguém que sofre derrota com os textos “é o povo” de Campo Grande. Entre os aliados, a leitura é que Bernal espera os novos vereadores da Capital para “virar a página”, “começar do zero” e construir a maioria entre eles em busca da governabilidade à frente da Prefeitura.
Os novos vereadores da Capital – E se o comando da Prefeitura sofreu mudança, a disposição da Câmara seguiu a mesma linha. Vereadores veteranos sofreram derrotas nas urnas.
Clemêncio Ribeiro (PMDB), Magali Picarelli (PMDB), Loester Nunes (PMDB) e Marcos Alex (PT) não conseguiram reeleição e terminaram o pleito como suplentes nas coligações. Cristóvão Silveira (PSDB), que abriu mão da reeleição, Lídio Lopes (expulso do PP), que assume vaga do prefeito eleito de Corumbá, Paulo Duarte (PT), na Assembleia Legislativa, além de Athayde Nery (PPS) e Marcelo Bluma (PP), que concorreram à Prefeitura de Campo Grande, são outros parlamentares que não voltam ao Legislativo no ano que vem.
Com o aumento para 29 vagas na Casa, as novas caras são Alceu Bueno (PSL), Ayrton de Araújo (PT), Carla Stephanini (PMDB), Derly dos Reis de Oliveira, o radialista Cazuza (PP); Francisco Almeida Teles, o Chiquinho Telles (PSD); Waldecy Batista Nunes, o Chocolate (PP); Ademar Vieira Júnior, o Coringa (PSD); Delei Pinheiro (PSD), Edson Shimabukuro (PTB), Eduardo Romero (PT do B), Elizeu Dionísio (PSL), Gilmar Neri da Cruz (PRB), Luiza Ribeiro (PPS), Otávio Trad (PT do B); o vice-prefeito e ex-vereador Edil Albuquerque (PMDB) ficou com uma vaga e o ex-governador Zeca do PT terminou a disputa como o mais votado: 13 mil votos. O menos votado foi Chocolate: pouco mais de 2,5 mil votos.
Garantiram reeleição Airton Saraiva (DEM), Flávio Cesar (PTdoB), Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), Jamal Salem (PR), Thais Helena (PT), Vanderlei Cabeludo (PMDB), Grazielle Machado (PR), Professor João Rocha (PSDB), Herculano Borges (PSC), Rosiane Modesto, a professora Rose (PSDB), Paulo Pedra (PDT), Paulo Siufi (PMDB) e Mário César (PMDB).
Pelo menos na teoria, 21 vereadores eleitos na coligação encabeçada por Edson Giroto seriam oposição a Bernal; apenas oito formariam a base do governo do progressista.
No interior, operação em prefeituras – Além das eleições municipais, que contabilizaram mais de 6 mil candidatos a vereador e mais de 200 candidatos a prefeito em Mato Grosso do Sul, o ano foi marcado por uma série de operações policiais em seis prefeituras do interior.
Em maio, a Polícia Federal desencadeou a operação Decoada que investigou desvio de dinheiro público e fechou a Prefeitura de Corumbá, onde documentos foram apreendidos até no hospital da cidade. A ação também se estendeu à administração municipal de Ladário, município vizinho.
Em julho, operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) apurou suposto esquema de corrupção em contratos e desvio de dinheiro por meio de emissão de notas frias, que passariam dos R$ 100 mil. Os policiais ouviram até secretário municipal na Prefeitura de Paranaíba.
No mês de agosto, outra operação do Gaeco, desta vez, no município de Deodápolis, teve como alvo cinco vereadores e dois funcionários da Câmara Municipal. Eles foram levados para prestar depoimento no MPE (Ministério Público Estadual) na ação intitulada de “Curupira”. Os sete foram investigados por recebimento de diárias sem ter viajado e ainda por fraude em empréstimos consignados. A suspeita é que eles alteravam holerites para aumentar a margem para o financiamento.
Em setembro, o Gaeco deflagrou a operação “Falsário” na Prefeitura de Nova Alvorada do Sul para investigar a emissão de notas frias que teriam sido utilizadas em pagamentos de obras que não existiam. O secretário de Serviços Urbanos e um assessor foram ouvidos pelo MPE.
No mesmo mês, nova ação do Gaeco fechou a Prefeitura, desta vez, de Aquidauana. Cinco servidores foram presos sob acusação de peculato, desvio de dinheiro e fraude em concurso.