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Política

Réu por liderar jogo do bicho, deputado foi visitado por primo de Jarvis Pavão

Operação Successione investiga disputa pela atividade ilegal em Campo Grande

Por Aline dos Santos | 29/02/2024 10:13
Jarvis Pavão, o “Barão da Droga”, quando foi preso no Paraguai. (Foto: Arquivo Capitan Bado)
Jarvis Pavão, o “Barão da Droga”, quando foi preso no Paraguai. (Foto: Arquivo Capitan Bado)

A investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que coloca o deputado Roberto Razuk Filho (PL), o Neno Razuk, no topo de organização criminosa do jogo do bicho, mostra a relação de proximidade dele com Jonathan Gimenez Grance, definido como um “célebre criminoso”.

“Em virtude dessa liderança na organização criminosa e do já exposto interesse na expansão das atividades ilícitas, foi observado que o denunciado ROBERTO RAZUK FILHO (“NENO RAZUK”), apesar de ocupar o cargo de Deputado Estadual, tem se relacionado com célebres criminosos, a exemplo de JONATHAN GIMENEZ GRANCE (“CABEZA”), primo do megatraficante JARVIS PAVÃO e um dos líderes do grupo criminoso por esse chefiado”, informa o documento da operação Successione.

Jonathan é primo do narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Pavão, o “Barão da Droga”, que acumula pena de 70 anos e está na penitenciária federal de Brasília.

Apontado como peça importante na estrutura do crime na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, Jonathan chegou a ser preso com arsenal, em Ponta Porã, no ano de 2018. Segundo a investigação policial, o grupo preparava ataque ao traficante Sérgio Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, então principal chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) na fronteira do Paraguai com o Brasil.

Deputado Neno Razuk durante sessão da Assembleia Legislativa. (Foto: ALMS)
Deputado Neno Razuk durante sessão da Assembleia Legislativa. (Foto: ALMS)

“Deve ser destacado que o denunciado CARLITO GONÇALVES MIRANDA, um dos integrantes responsáveis pela execução dos roubos, já foi preso em flagrante delito ao lado de JONATHAN GIMENEZ GRANCE (“CABEZA”) e de outros membros do grupo criminoso liderado por JARVIS PAVÃO, em 7.12.2018, em posse de 6 (seis) pistolas e 1 (um) revólver, além de 8 (oito) veículos (quatro blindados), razão pela qual não se pode ser desprezada a possibilidade de existência de conexões entre os dois grupos criminosos”.

Dia especial - Em 2022, Jonathan foi colocado em liberdade. A Justiça reduziu a pena de 36 anos para 11 anos. Livre, ele esteve no condomínio de luxo Damha III, na Capital.

“A propósito, consta que o líder ROBERTO RAZUK FILHO (“NENO RAZUK”) foi visitado por JONATHAN GIMENEZ GRANCE (“CABEZA”), na residência no condomínio Damha III de Campo Grande, na data dos 3 (três) roubos praticados nesta capital (16.10.2023)”.

A visita foi às 21h53 daquele dia. Naquela data, 16 de outubro do ano passado, aconteceram três roubos forjados de malotes do “recolhe” do jogo do bicho.

Com três crimes semelhantes, a equipe do Garras (Grupo Especializado de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) foi acionada e perseguiu um dos veículos usados no primeiro roubo.

O Hyundai/HB 20 estacionou em frente a uma residência, na Rua Gramado, no Bairro Monte Castelo. O investigado José Eduardo Abdulahad, o “Zeizo”, recebeu os policiais e acompanhou a diligência.

“Foi, então, que as equipes policiais, durante a busca pelos assaltantes, encontraram verdadeiro ponto de concentração da organização criminosa voltado à exploração do jogo do bicho, contendo centenas de máquinas usadas nas operações do jogo de azar, além de acessórios e de R$ 2,5 mil em dinheiro”, descreveu o Gaeco na denúncia.

Outros nove homens que estavam dentro da residência afirmaram que foram ao local jogar pôquer. Dentre eles, dois eram militares: Gilberto Luiz dos Santos, o “Barba”, e Manoel José Ribeiro, o “Manelão”.

A investigação também teve acesso a câmeras de segurança do condomínio Damha III, onde mora o parlamentar, e descobriu os veículos usados nos roubos dos “recolhes” passando na portaria para ir à casa do “chefe”.

Já no dia 20 de dezembro, a operação Successione cumpriu mandado de busca e apreensão contra Jonathan, primo de Pavão.

Casa escritório – De acordo com o advogado João Arnar Ribeiro, que atua na defesa de Razuk, a casa no condomínio de luxo também era utilizada como escritório político. “E, nessa condição, recebia muitas pessoas. A priori, não se sabe exatamente quem esteve por lá, gente de bairro, movimento político. Recebia centena de pessoas”.

A defesa de Jonathan Gimenez Grance informa que ele não foi denunciado pelo Ministério Publico e que desconhece motivo do mandado de busca em dezembro.

Advogados - Ainda de acordo com o Gaeco, Neno Razuk "tem arcado com a defesa dos presos durante a Operação Successione (...), sobretudo, para controle do posicionamento de todos perante as autoridades, de forma que não seja implicado, tal qual até aquele momento tinha ocorrido".

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