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Capital

Deputado vira réu acusado de chefiar quadrilha

Deputado é acusado de exploração do jogo do bicho, mas diz ser vítima de armação

Por Anahi Zurutuza, Jackeline Oliveira e Helio de Freitas | 07/02/2024 09:45
uDeputado estadual, Roberto Razuk Filho, o Neno Razuk (PL), durante sessão ordinária do mês de dezembro, na Assembleia Legislativa (Foto: Alems/Divulgação)
Deputado estadual, Roberto Razuk Filho, o Neno Razuk (PL), durante sessão ordinária do mês de dezembro, na Assembleia Legislativa (Foto: Alems/Divulgação)

A Justiça aceitou a denúncia do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) que apontou o deputado estadual Roberto Razuk Filho, Neno Razuk (PL), como chefe de quadrilha que tentava assumir o comando do jogo do bicho de Campo Grande. Além do deputado, outros integrantes do suposto esquema também viraram réus.

O deputado diz ser inocente. “Eu vou ser inocentado e creio que a justiça vai ser feita. Ainda digo que estou sendo vítima de uma armação”, afirmou à reportagem na manhã desta quarta-feira (7).

A defesa de Neno, chefiada pelo advogado João Arnar Ribeiro, diz não ter sido notificada do recebimento da denúncia na 4ª Vara Criminal de Campo Grande e que só vai se pronunciar quando souber oficialmente os termos da decisão judicial. “Nem a defesa, nem tampouco o Neno recebeu qualquer notificação ou qualquer citação a esse respeito. Então, nós desconhecemos o assunto. A defesa não vai se manifestar acerca de assunto que não conhece e só vai se pronunciar após receber o comunicado da Justiça de eventuais andamentos processuais”.

Além de citar os réus, a Justiça também precisa comunicar oficialmente a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, uma vez que Neno Razuk tem imunidade parlamentar. O Poder Legislativo tem o poder de decidir pelo prosseguimento da ação contra o deputado.

O presidente da Alems, Gerson Claro (PP), nega ter recebido qualquer notificação a respeito. Neno Razuk também falou sobre a Casa de Leis não ter sido oficiada ainda. Por isso, não sabe seu destino no Legislativo. “A Casa não foi comunicada, ainda não recebeu nenhuma documentação da Justiça. Assim que receber, o presidente deve tomar suas atitudes em relação a esse processo”, disse em entrevista ao Campo Grande News.

O Gaeco chegou a pedir a prisão do deputado, alvo principal da Operação Successione, que teve duas fases no fim do ano passado.

A denúncia e documentação anexa, contendo um total de 526 páginas, foi apresentada à Justiça em dezembro. Todos os documentos, trocas de informações com unidades policiais e de inteligência, vigilâncias, entrevistas, reconhecimentos operacionais, tomada de depoimentos levaram a identificar Neno como o “cabeça” de organização criminosa que entrou na disputa pelo monopólio do jogo do bicho em Campo Grande, espaço deixado pela família Name, que sofreu revés com a Operação Omertà.

Para dominar o território campo-grandense de exploração do jogo de azar, ainda na tese do Gaeco, o político tinha em seu grupo agentes da segurança pública, que recebiam propina e auxiliavam na prática de roubos. O objetivo das ações era cooptar pessoas ligadas aos adversários para ampliar o poder na Capital.

Para a investigação, o deputado contava com a ajuda, por exemplo, do major aposentado da Polícia Militar, Gilberto Luiz dos Santos, conhecido como “Major G. Santos”, “Coronel” ou “Barba”, para gerenciar o esquema.

Polo branco alugado em nome do deputado estadual era utilizado por grupo para cometer roubos de motociclistas que faziam serviço para organização criminosa de São Paulo, segundo o Gaeco (Foto: Reprodução)
Polo branco alugado em nome do deputado estadual era utilizado por grupo para cometer roubos de motociclistas que faziam serviço para organização criminosa de São Paulo, segundo o Gaeco (Foto: Reprodução)

Começo – Tudo começou no dia 16 de outubro de 2023, após três roubos serem registrados, à luz do dia, com utilização de pistolas e o mesmo “modus operandi”.

Os assaltantes escolheram a dedo os “recolhes”, apelido dos motociclistas que realizam a coleta dos valores obtidos com as apostas dos jogos. Três vítimas de roubos relataram à polícia características de carros que foram cruciais para ligar Neno à organização.

Com três crimes semelhantes, no mesmo dia e horário, a equipe do Garras (Grupo Especializado de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) foi acionada e perseguiu um dos veículos usados no primeiro roubo.

O Hyundai/HB20 estacionou em frente a uma residência, na Rua Gramado, no Bairro Monte Castelo. O investigado José Eduardo Abdulahad, o “Zeizo”, recebeu os policiais e acompanhou a diligência. “Foi, então, que as equipes policiais, durante a busca pelos assaltantes, encontraram verdadeiro ponto de concentração da organização criminosa voltado à exploração do jogo do bicho, contendo centenas de máquinas usadas nas operações do jogo de azar, além acessórios e de R$ 2,5 mil em dinheiro”, descreveu o Gaeco na denúncia.

Outros nove homens que estavam dentro da residência afirmaram que foram ao local jogar pôquer. Dentre eles, dois eram militares: o “Barba” e Manoel José Ribeiro, o “Manelão”.

A investigação também teve acesso à câmeras de segurança do condomínio Damha III, onde mora o parlamentar, e descobriu os veículos usados nos roubos dos “recolhes” passando na portaria para ir à casa do “chefe”.

O Gaeco apontou Neno como líder de uma organização criminosa dedicada à prática dos crimes de roubo majorado, exploração de jogos de azar e corrupção. Além dele e o “Major G. Santos”, Diego de Souza Nunes, José Eduardo Abdulahad, Júlio Cezar Ferreira dos Santos, Luiz Paulo Bernardes Braga, Sargento Manoel José Ribeiro, Mateus Júnior Aquino, Taygor Ivan Moretto Pelissari, Tiano Waldenor de Moraes, Valmir Queiroz Martinelli, Leydianne de Matos Rios de Moraes, Flávio Henrique Espíndola Figueiredo e Weslei de Queiroz Santos, tinham papéis bem definidos para executar os crimes que sustentavam o esquema, segundo o Gaeco.

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