Vítimas de erro médico vão à Câmara cobrar fim da impunidade
Portando faixas ou vestindo camisetas com as fotos dos entes queridos, familiares e amigos de vítimas de erro médico protestaram e cobraram apuração de erros médicos esta manhã na sessão da Câmara de Campo Grande. Contra a negligência e a impunidade, eles cobram postura dos poderes públicos e do CRM (Conselho Regional de Medicina) sobre os casos ocorridos em Mato Grosso do Sul.
Uma das vozes mais ativas nesse protesto foi a de Claucéia Alves de Lima, doméstica, mãe de Fernando Lima, de 22 anos, estudante que morreu vítima de erro médico, após peregrinação por postos de saúde e hospitais durante um mês e nove dias.
“Meu filho tinha problema de bronquite asmática desde criança. Ele passou muito mal e foi internado no Hospital Regional com suspeita de pneumonia. Ficou um dia só e foi liberado, deram alta. O médico falou que se ocorresse alguma coisa era para voltar. Um dia depois passou mal de novo e foi levado para o Posto de Saúde da Vila Almeida, tendo ficado três horas e liberado. Passou mal no mesmo dia e foi para o posto do Coronel Antonino, atendido e dispensado. Se passasse mal era para chamar o Samu e ir direito para o Hospital Regional, o que acabou acontecendo. Morreu na ambulância”, contou a mãe, com a voz embargada pela emoção.
Antes disso, segundo Glaucéia Alves, o rapaz já tinha ficado internado um mês no Hospital Regional. “Eu acompanhei ele e raramente eu via médico atendendo. Só enfermeira que dava remédio. Entupia o menino de remédio”, protestou ela. “A causa da morte não saiu até hoje”, acrescentou. E avisou: “Quero justiça e nunca vou parar de lutar em nome do meu filho”.
O presidente da Associação de Vítimas de Erros Médicos, Valdemar Moraes de Souza, que fez uso da palavra da tribuna da Câmara, nesta terça-feira, a convite da vereadora Rose Modesto (PSDB), nesses 5 anos de criação a Associação, fundada em julho de 2007, já tem 700 processos de erros por parte de médicos em andamento. “Por dia recebemos de 10 a 15 denúncias e isso precisa ser investigado a fundo”, revelou ele.
Muitos dos casos, segundo Valdemar, são relativos a crianças e jovens vítimas de erros médicos, cujo exame necroscópico não aponta a causa da morte. “Como um perito não consegue achar a causa da morte de uma pessoa?”, questionou o dirigente. “Temos muitos casos de pessoas que morrem em casa ou em ambulâncias, porque são liberadas pelos médicos e deveriam estar internadas no hospital, usufruindo toda estrutura médica necessária”, denunciou.
Segundo Valdemar Moraes, a população tem “medo” de posto de saúde, devido aos recorrentes erros médicos. “Toda vez que fala disso eu sento na pele, porque convive diariamente com isso”, afirmou Moraes, que criou a Associação em 13 de julho de 2007, depois que perdeu o irmão, vítima de erro médico.
Valdemar Moraes pediu ajuda dos vereadores para fiscalizarem os hospitais e postos de saúde do município. “Gostaria que os vereadores fizessem o trabalho da CPI da Saúde com transparência”, reivindicou.
Apoio dos vereadores – Durante o pronunciamento de Valdemar Moraes, vários vereadores, em apartes, declararam apoio à causa, se colocaram à disposição das famílias e se comprometeram a fiscalizar a fundo a saúde pública para que casos como esses não voltem a ocorrer.
Paulo Siufi (PMDB) parabenizou Valdemar pela luta incansável e disse que “infelizmente depois que o erro acontece não dá para voltar atrás”. Segundo o vereador peemedebista, trata-se de um “problema que afeta toda a família”. E advertiu: “Médico não tem direito de errar, porque isso custa vida”.
O vereador Zeca do PT relembrou o caso das vítimas de cirurgia plástica ocorrido no Estado, quando dezenas de vítimas do médico Alberto Rondon vieram a público denunciar as mutilações a que foram submetidas. Segundo Zeca, o governo do Estado, na época sob sua gestão, tomou a iniciativa e deu todo o amparo para as mulheres, jurídico e médico, inclusive com mutirão para reparação dos erros, quando possível.
Eduardo Romero (PT do B) também pediu aparte, em nome do PT do B, e disse que acredita que CPI da Saúde irá tratar do assunto com “legitimidade”.