"Coração da cidade", 14 de Julho evoluiu bastante, mas movimento está em queda
Comerciantes e trabalhadores se preocupam com o futuro e lamentam a crise de popularidade da avenida que já foi a principal
O carro solitário e o cavalo, provavelmente preso a uma carroça, deram lugar a um mar de veículos modernos. A rua larga parece até que ficou mais estreita. As calçadas hoje têm muito mais gente circulando. A fiação elétrica está muito mais presente. O prédio, que aparece ao fundo, de esquina, hoje é ocupado apenas por estabelecimentos comerciais.
Muita coisa mudou na Avenida 14 de Julho, dos anos 1930, como visto na foto de arquivo, até os dias atuais. E, por outro lado, vários elementos permaneceram inalterados. Na foto, dá pra ver a loja Pernambucanas, que continua ali, intacta. Passou por uma grande ampliação, teve seu momento de alvoroço quando inaugurou a primeira escada rolante da cidade, em 1974, mas é a mesma loja de mais de 80 anos atrás.
Assim como a loja, tem muita gente que permanece na 14, vendo de perto as transformações, boas e ruins. E quem trabalha lá, há décadas, não troca o calor da avenida pelos ambientes climatizados dos shopping centers. "Nunca!", afirma, com veemência, a vendedora Lurdes de Souza, de 55 anos e há 29 trabalhando na mesma loja na avenida. "Eu já recebi convites e recusei. Eu gosto daqui", justifica.
"Eu não consigo nem comprar no shopping. Pode ter mais conforto, mas eu só me encontro aqui mesmo", alega a gerente de loja de roupas Lucy Vidal, 42, que há 30 anos trabalha no mesmo comércio. "Comecei cedo, é uma loja da minha tia", explica.
Apesar do apego que sentem com a avenida e o centro, os comerciantes e trabalhadores não escondem a frustração que enfrentam devido a constante queda do movimento. A 14, que já foi o coração de Campo Grande e tinha índices de vendas exorbitantes, anda perdendo a competição com os shoppings e lojas da periferia.
"O fim de ano era uma loucura, não dava pra andar. Hoje em dia, não é mais", lamenta Lurdes. "Até os anos do Cruzeiro, era muito bom. Depois, começou a decair", conta Maria Souza Fernandes, de 73 anos, indicada como uma das mais antiga da 14.
Ela conta que está ali, no mesmo ponto, na esquina com a Dom Aquino, há quase 60 anos. No começo, a loja era uma perfumaria mas, por meio dos pedidos dos clientes, virou uma loja de roupas e acessórios.
Maria lembra das três lojas mais fortes dos tempos de glória da 14: Pernambucanas, Riachuelo e Casas Buri. Essa última já extinta. Ela confirma que o número de carros aumentou, os clientes vão diminuindo com o passar dos anos, mas fora esses detalhes, insiste que a avenida continua quase a mesma.
Sua neta, Marriele Correa, 19 anos, praticamente cresceu vindo na rua. Hoje, ela trabalha como vendedora, ajudando a avó. "Lembro daqui desde muito pequena. Eu gosto, né?", confirma, por ser um local que faz parte constante da sua rotina.
Outro que acompanhou a evolução da avenida é o comerciante Hélio, conhecido como "Hélio da Banca". Há 56 anos, ele cuida da banca de revistas, na esquina com a Dom Aquino. Mas, para sobreviver, a maior parte da banca agora vende capinhas para celular. "Hoje o povo passa longe do papel", lamenta.
Apesar das frustrações, a Avenida 14 de Julho ainda tem nome. A comerciante Sueli Rosa, de 53 anos, abriu uma loja mesmo sabendo da crise. "A 14 ainda é o coração de Campo Grande", aposta. Lurdes, a vendedora que está ali ha 29 anos, não perde as esperanças. "Existem as promessas, não é? Dizem que vão fazer um calçadão. Aumentaria muito o movimento. A gente espera", conclui.
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