A cidade chegou, mas famílias ainda sobrevivem da produção do sítio
A aparição de 15 vacas na avenida Duque de Caxias com Avenida Afonso Pena surpreendeu os campo-grandenses na última sexta-feira (14). Mas as chances disso acontecer são maiores do que muitos imaginam. Com a correria do dia a dia, as propriedades rurais que estão dentro da Capital, passam despercebidas aos olhos dos moradores.
Exemplo disso é a propriedade localizada há 20 anos na Avenida Tamandaré, que aloja e treina cavalos da raça quarto de milha. Próximo à UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), a propriedade de meio hectare só não passa despercebida pelas crianças, que se encantam com os cavalos e galinhas que têm no local.
Quem cuida da lida dos animais e conta a história do lugar é Luiz Henrique de Souza Barborati, que trabalha com o dono do sítio há bastante tempo. Para ele, viver cercado de cavalos e galinhas não faz nenhuma diferença. Conhecido como centro de treinamento e de doma racional, Luiz afirma que a procura pelos serviços já foi maior. "Vinha mais gente. Aqui nós ensinamos a montar, treinamos com três e seis tambores, mas hoje em dia está meio parado", informa.
Com oito cavalos da raça quarto de milha, o cuidador diz que o sítio já chegou a alojar mais de 24 animais. Hoje em dia, apenas os cavalos do dono que estão no local. Há também criação de galinha, renda extra para Valdemir dos Santos Rodrigues, outro ajudante do sítio. "Vendemos frango e ovos quando o pessoal vem aqui pedir", completa dizendo que se puder, não troca a vida no sítio por nada.
Próximo da comunidade Tia Eva, também existem sítios com criação de gado, galinhas, cavalos e até carneiros.
"Eu não queria que a cidade chegasse, mas chegou", dessa forma que Eduardo Figueiredo da Silva, 55, comenta sobre o que ele acha dos prédios em volta da propriedade rural dele, localizada na avenida Três Barras.
Com seis hectares, o rancho do Eduardinho como é conhecido, sobrevive alojando cavalos, ensinando crianças a montar e com a venda de ovos de galinha. Ele conta para a reportagem do Campo Grande News que todos os dias as pessoas fazem proposta pelo local e que o condomínio da Rossi, bem ao lado, fazia parte da propriedade.
Sentado embaixo de uma sombra enorme feita pelo pé de manga, o calor do dia a dia parece que não existe no sítio, tamanho é o frescor e a comodidade do lugar, apesar de não apresentar nenhum luxo. Mas foi assim que Eduardo criou os filhos e agora cuida dos netos.
Há 32 anos no mesmo lugar, ele ressalta que com o passar dos anos a privacidade foi acabando. "São muitos carros que transitam aqui, muita gente que olha para dentro do sítio, porque mesmo com as árvores, dá para ver todo o movimento", lamenta.
Questionado se já cogitou a ideia de se mudar para uma propriedade mais longe da cidade, ele diz que sim. "Mas e como eu faço com os clientes? Tem cavalo que está aqui faz mais de três anos. Se eu mudar para longe, perco a freguesia", informa.
Cobrando apenas R$ 150 por mês pelo alojamento dos cavalos, o proprietário afirma que precisou aumentar o preço. “Eu cobrava R$ 120, mas ai tudo subiu, eu precisei cobrar um pouco a mais. Os cavalos recebem todo cuidado aqui, são bem alimentados, só que os donos que compram a ração dos animais”, enfatiza.
Quando Eduardo começa a mostrar a pista de laço que tem na propriedade, ele afirma que acha que vai chegar a hora em que vai ter que embora. “Pelo jeito que as coisas estão, acho que não fico nem mais dois anos, por causa da cidade que vem chegando cada vez mais. Aqui é minha vida, criei meus filhos e agora cuido dos meus netos, são três”, conta.
A neta mais velha chama Eduarda e tem cinco anos. O proprietário conta que ela é muito apaixonada pelo sítio e que já sabe montar e cavalgar. “Ela ama os animais, ama montar, aqui é a vida dela e criação das crianças no sítio é diferente, eles crescem mais saudáveis e são mais felizes”, conclui.
De acordo com a Sedesc (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Ciência e Tecnologia), em Campo Grande, são 900 famílias da agricultura familiar, que tem como atividade a plantação de hortaliças.
Os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) são do Censo Agropecuário de 2005-2006. Na época, eram 9.206 propriedades em uma área de 2.408.576 hectares.
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