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“Adeus, Cuiabá” foi grito preso até MS ser criado

População saiu às ruas com placa que definiu sensação diante da criação de Mato Grosso do Sul há 46 anos

Por Lucia Morel | 11/10/2023 07:05
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Alunos da antiga Mace nas ruas em comemoração à criação de Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo histórico)
Alunos da antiga Mace nas ruas em comemoração à criação de Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo histórico)

Entre jovens e adultos, a vibração foi imensa na criação de Mato Grosso do Sul, por decreto federal, assinado em 1977, pelo presidente militar Ernesto Geisel. Nas ruas e nos bares houve festa, como mostram registros da época resgatados pelo Campo Grande News. Alunos de escolas públicas e particulares saíram às ruas para manifestar a alegria e dizer “Adeus, Cuiabá”, ao lado de professores e a população.

O professor Pedro Chaves dos Santos Filho, de 82 anos, era diretor do Colégio Mace na época e lembra bem da comemoração. “Nós liberamos os alunos para se manifestarem, autorizamos e fomos atrás”, conta. A passeata ocorreu um dia antes de 11 de outubro de 1977, porque a data da criação, já prevista, seria feriado no novo Estado, que nesta quarta-feira completa 46.

“Foi maravilhoso, um sonho”, disse, recordando que o clima entre as pessoas era de euforia e que as manifestações representavam um “grito preso na nossa garganta há anos”, ressaltou. “Foi um momento mágico, fomos protagonistas desse momento histórico e havia um sonho para as futuras gerações de crescer e progredir.”

O professor destaca que a vontade de separar os dois estados era centenária, mas se consolidou com a Revolução Constitucionalista de 1932, quando até governo provisório foi implantado aqui em Campo Grande. “Desde a época da Revolução Constitucionalista, havia esse desejo intenso de separação, porque Campo Grande produzia e todos os recursos iam para Cuiabá”, rememora Chaves.

Clientes do Bar do Zé, na Barão do Rio Branco, se alegrando com a criação de MS (Foto: Arquivo histórico)
Clientes do Bar do Zé, na Barão do Rio Branco, se alegrando com a criação de MS (Foto: Arquivo histórico)

Registros da revista do Arquivo Histórico de Campo Grande, a Arca, revelam que “na década de 1940, a concentração populacional e o desenvolvimento local faziam de Campo Grande 'a capital econômica de Mato Grosso', beneficiada pelo processo de colonização que ocorreu no sul do Estado uno”, conforme edição número 10 da publicação, de 2004.

Para Pedro Chaves, além disso, havia muita distância cultural e social entre Campo Grande e a então capital de Mato Grosso, Cuiabá. “Cuiabá sempre se alinhou mais ao Rio de Janeiro e Campo Grande mais a São Paulo”, comentou.

Esse comentário também é reforçado por registros da Arca, que na mesma edição já citada, escreveu: “A velada competição entre campo-grandenses e cuiabanos tinha lá suas razões de existir. Cuiabá recebia influências do Rio de Janeiro, Goiás e parte de Minas Gerais. Campo Grande foi mais influenciada por São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná”.

O texto discorre ainda que “na Revolução Constitucionalista de 1932, os campo-grandenses aliaram-se aos paulistas, enquanto Cuiabá ficava com os legalistas. Nessa época, papel importante desempenharam os meios de comunicação que, além de informar, contribuíram para o posicionamento da população. O sul tornou-se independente do norte e, segundo historiadores - embora a autonomia tenha durado pouco tempo - o fato foi decisivo para arraigar o orgulho de ser campo-grandense”.

Inauguração do Paço Municipal de Campo Grande, em 1979. (Foto: Arquivo histórico)
Inauguração do Paço Municipal de Campo Grande, em 1979. (Foto: Arquivo histórico)

Quanto à passeata, o professor destaca que pelo menos dois mil alunos participaram e por onde passavam, mais pessoas iam se juntando à manifestação. “Ele bradavam 'Viva, Campo Grande', 'Abaixo, Cuiabá', daí a gente pedia para irem com mais calma”, lembra aos risos. Também gritavam “Agora é nossa vez!”, “Capital sul” e “Adeus, Cuiabá”, como mostra a foto.

Por fim, imagem captada no Bar do Zé, na Rua Barão do Rio Branco, em 11 de outubro de 1977, ilustra a página 89 da Arca, edição número 15 de 2011. Homens seguravam faixas que ostentavam o nome de Mato Grosso do Sul com alegria. A reportagem tentou contato com o local, mas ninguém atendeu às ligações para comentar sobre a foto.

Outra imagem interessante é do Paço Municipal, na Afonso Pena entre as ruas Arthur Jorge e 25 de Dezembro, em 1979. Foi a inauguração do local, que lotou de campo-grandenses.

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