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Reportagens Especiais

Da vergonha e dificuldades ao orgulho de morar no 3º maior bairro da Capital

Michel Faustino | 18/08/2015 08:00
Da vergonha e dificuldades ao orgulho de morar no 3º maior bairro da Capital
Moreninhas, divida entre a unidade 1 e 4  é considerado o terceiro mais populoso do município, conta com agências bancárias, lotéricas, comércio variado, terminal de ônibus, unidades de saúde e policial, escolas, área de lazer. (Foto: Vanessa Tamires)
Moreninhas, divida entre a unidade 1 e 4 é considerado o terceiro mais populoso do município, conta com agências bancárias, lotéricas, comércio variado, terminal de ônibus, unidades de saúde e policial, escolas, área de lazer. (Foto: Vanessa Tamires)

Quem hoje visita as Moreninhas e vê uma estrutura de dar inveja a muitos municípios do interior do Estado, nem imagina que no passado os primeiros moradores que por ali se instalaram sofreram, e muito. Passados 34 anos desde a fundação, o bairro, atualmente dividido entre as unidades 1 e 4, é considerado o terceiro mais populoso do município, conta com agências bancárias, lotéricas, comércio variado, terminal de ônibus, unidades de saúde e policial, escolas, área de lazer e hoje é motivo de orgulho para quem mesmo com todas as dificuldades decidiu construir a vida ali.

A história das Moreninhas, começa em meados de 1981, quando o então governador Pedro Pedrossian, autorizou a construção de 2 mil casas em uma área distante da cidade, que pertenceu a um industrial. Os trabalhos foram divididos entre duas empreiteiras, ficando cada uma responsável pela construção de mil casas. Na divisa das ruas Pedra Branca e Muruci nasceu a Moreninha I e II.

A partir da construção das casas, famílias começaram a povoar o local e em dezembro de 1981 foram entregues as primeiras chaves. As casas foram ocupadas, mas não havia nenhuma estrutura para os moradores.

Fotos mostram como era as casas em 1981. (Foto: Vanessa Tamires)
Fotos mostram como era as casas em 1981. (Foto: Vanessa Tamires)
 Esposa e filho de César em frente a casa em meados de 1984. (Foto: Vanessa Tamires)
Esposa e filho de César em frente a casa em meados de 1984. (Foto: Vanessa Tamires)
Da vergonha e dificuldades ao orgulho de morar no 3º maior bairro da Capital
Barba mostra a escritura da casa que pegou a qual mora desde o Natal de 1981. (Foto: Vanessa Tamires)
Barba mostra a escritura da casa que pegou a qual mora desde o Natal de 1981. (Foto: Vanessa Tamires)

Adversidades estas vivenciadas e que hoje estão na memória do aposentado Júlio César de Oliveira Novaes, 62 anos, conhecido por ali, como “Barba”. César, ou Barba, lembra em detalhes o dia em que se mudou para o bairro.

“Era 24 de dezembro, véspera de Natal, e eu estava correndo atrás de carro de mudança e pedindo ajuda para os amigos para vir pra cá. Eles (empreiteira) entregaram a chave no dia 17 (dezembro de 1981) e a gente não tinha muito tempo pra mudar. Eu passei o Natal aqui, com tudo bagunçado”, disse.

Barba lembra que a distância do centro da Capital era apenas um dos empecilhos. Faltavam ainda escolas, unidade de saúde, policiamento, e por aí vai. O ônibus mesmo, só parava a quase dois quilômetros do residencial.

“A gente tinha que descer lá na BR, na entrada da Cidade Morena. Tinha que subir andando pra chegar aqui. Em época de seca comia poeira e na época de chuva, lama”, diz. Por conta da lonjura, quem salvava os moradores na hora do aperto era o “Bar do Amendoim”, onde se encontrava de tudo, conta Barba.

“O Amendoim era o único mercadinho que tinha aqui. Tudo que a gente precisava a gente comprava lá, inclusive leite de saquinho, que era mais difícil encontrar. Ai quanto acaba o estoque dele, não tinha jeito, a gente tinha que ir pra cidade, pra Campo Grande”.

Mas, na lembrança do aposentado não tem só coisa ruim, ele fala empolgado das amizades, feitas principalmente dentro das quatro linhas, do campinho de pedra.

“A gente se reunia todo o fim de semana pra jogar. Levávamos a sério. Tinha o o Líder, que era o nosso time aqui. Tínhamos até patrocínio a gente era o terror dos campeonatos amadores”.

Apesar da boa convivência e da união entre os moradores, a quantidade de gangues que reinavam no bairro e os altos índices de violência, merecem um capitulo a parte.

Barba comenta que, no passado, pelo fato do bairro ser violento, existia muito preconceito com os moradores. Ele mesmo, diz que viveu isso na pele.

“O povo falava que quem morava aqui nas Moreninhas era bandido, e a gente sofria muito com isso. Eu me lembro quando trabalhava com móveis, fui até a casa de uma dona lá no centro e ai ela me perguntou durante uma conversa boba onde eu morava, e eu falei a verdade, que morava nas Moreninhas e sem qualquer explicação ela não quis mais fazer o serviço comigo. Aquele dia eu aprendi, que infelizmente, eu teria que desconversar toda vez que me perguntassem onde eu morava, pra não passar vergonha”, lembrou.

Passados 34 anos, hoje Barba enche o peito para dizer que é morador das Moreninhas e fala do orgulho de ser “um sobrevivente”.

“Hoje a realidade é diferente de 34 anos atrás. Hoje tenho orgulho de falar que sou morador das Moreninhas. E digo mais, eu sou um sobrevivente. Porque já passei muita coisa aqui, muita coisa mesmo. Tanto ruim, quanto boa. E ai andando pelas ruas do bairro você vê que hoje é diferente. A gente tem tudo. Eu mesmo, dificilmente vou para o centro. Fico por aqui mesmo, porque tenho tudo o que preciso. Se fizermos uma comparação com quando tudo isso aqui começou a ser erguido, hoje estamos no céu”, finalizou.

3º mais populoso - De acordo com dados do Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana do município, criado em 2009 e aprovado pelo Executivo no mês passado, o bairro, que está localizado a 13 quilômetros do centro da Capital, é terceiro mais populoso do município e conta com 22.874 habitantes, ficando atrás do Santo Amaro, com 22.926 e do Aero Rancho, com pouco mais de 45 mil moradores.

Em tempos de dificuldades, time de futebol era uma das poucas alegrias dos moradores. (Foto: Vanessa Tamires)
Em tempos de dificuldades, time de futebol era uma das poucas alegrias dos moradores. (Foto: Vanessa Tamires)
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