Morar em casa com vitral no coração comercial da Capital é "bom demais"
O Centro de Campo Grande é muito movimentado e na hora do almoço é possível ver as pessoas caminhando aceleradas para não perder tempo, as faixas de pedestres lotadas de gente querendo atravessar e nesta correria se vê inúmeras lojas abertas, mas o que ninguém espera é ver alguém pedindo permissão para estacionar na frente de uma residência particular que fica no meio de pontos comerciais.
Nunciata Sarubi, 64 anos, sabe bem o que é morar no coração central de campo grande, porque está ali desde que nasceu. A casa que foi de seus pais está localizada na Rua 13 de Maio, quase esquina com a Barão do Rio Branco, um ponto bem movimentado durante o dia, mas, segundo a moradora, uma calmaria durante a noite após às 20h.
A casa tem quatro quartos, uma cozinha, sala e um banheiro. Lá a ex-educadora de escola prisional conta que vive atualmente com mais dois irmãos, após o falecimento de sua mãe. A casa mantém o mesmo projeto arquitetônico, inclusive o vitral na entrada da residência feito em 1915 pelo seu tio que era serralheiro. Devido fortes chuvas, alguns vidros foram trocados, mas a base de ferro é a mesmo há 100 anos.
Ela acompanhou todo o crescimento daquela região, mesmo sendo muito pequena ela lembra que as ruas eram de terra, passava carro de boi. Era da época em que o leiteiro e o padeiro entregavam o leite e o pão, respectivamente, na porta das casas. Até mato havia no Centro.
Nunciata ama morar ali e diz que nada melhor do que a comodidade de atravessar a rua e ter o banco, a farmácia, tudo ali, pertinho, a poucos metros de casa. O barulho infernal do trânsito diurno quase nem escuta dentro de casa. O único ruido que atrapalha é o ar condicionado do Hotel Jandaia, que à noite, é bem alto.
Contou que a arquitetura mudou na região e que sente muito por isto. "A 1º igreja Batista tinha um prédio muito bonito com uma arquitetura especial, mas daí derrubaram e construíram outro prédio bem diferente. Uma pena porque deveria ter sido tombado o primeiro prédio. Aqui em Campo Grande há poucos edifícios tombados, o que fez muito do Centro perder o seu charme" justificou.
Ela afirma que o barulho diurno e as pessoas que estacionam em frente de sua casa, não chegam a ser um problema. Nunciata procura não se estressar, porque garante que a modernidade não atrapalhou na qualidade de vida dos moradores antigos.
Perto dali, no edifício "Palácio do Comercio", situado na Rua 15 de Novembro, em frente a Praça Ary Coelho, Maria Abidu Ahad, 60 anos, afirma que não troca o Centro da Capital por nenhum bairro de classe alta.
Sempre morou no Centro. Quando criança, morava em uma casa que não existe mais na Rua Barão de Melgaço. Aos 18 anos, resolveu se mudar para o Rio de Janeiro, porque achava Campo Grande muito parada, sem ensino de qualidade. No entanto, na sua opinião, hoje, não há lugar melhor para viver.
Segundo Maria, o crescimento veio após a divisão do Estado, que tornou Campo Grande uma Capital moderna e progressista. "Eu nunca fui assaltada morando no Centro. Dizem que o centro é perigoso, mas eu mesma desconheço" declarou Ahad.