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Padre de revólver e padre com habeas corpus: a disputa pela chave da igreja

O cenário é da Campo Grande de 1913 e a pendenga foi parar na Justiça

Aline dos Santos | 25/08/2015 08:00
Padre de revólver e padre com habeas corpus: a disputa pela chave da igreja
Igreja matriz que foi alvo de disputa e funcionou onde está construída a Catedral de Santo Antônio (Foto: Arca)
Igreja matriz que foi alvo de disputa e funcionou onde está construída a Catedral de Santo Antônio (Foto: Arca)

De um lado, um padre com revólver 44 na cintura. Do outro, um padre com habeas corpus na mão. O cenário é da Campo Grande de 1913 e a pendenga foi parar na Justiça: afinal, quem deveria ficar com a chave da matriz e por tabela assumir as funções eclesiásticas na vila?

Venceu o padre Mariano José Alves, que acionou o poder Judiciário em 25 de julho de 1913 contra o cônego José Joaquim de Miranda. A disputa pela igreja, a atual Catedral Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio, na Rua 15 de Novembro, entre a Rua do Padre e a Avenida Calógeras, começou quando o padre Mariano foi designado para assumir o cargo, mas foi surpreendido pela postura do antecessor, que se negou a fornecer as chaves. Então, ele ingressou com habeas corpus por se “achar impossibilitado de exercer as sua funções”.

A decisão lhe foi favorável. “Se um caixeiro requer habeas-corpus, se não lhe permitem a entrada no armazém em que trabalha, o juiz lha dará,” justificou o juiz no processo que faz parte do projeto de memória do TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).

Ainda no processo, o cônego José Joaquim alegou que foi nomeado por dois anos e que não deixaria a função antes de findar o tempo que lhe fora concedido. Porém, o magistrado considerou o adendo que dizia que o prazo era de dois anos se “antes não mandarmos o contrário”.

Desta forma, o padre Mariano obteve habeas corpus assegurando o “gozo da mais completa liberdade de locomoção, de modo que possa penetrar no edifício matriz desta vila e ali exercer, sem a menor coação ou constrangimento”.

Uma lista anexada ao processo mostra a simplicidade da então igreja e devoção mais acentuada à nossa senhora da Abadia, trazida em 1911 de Minas Gerais. A virgem acabou ficando com o título de padroeira da vila, depois, o padroeiro voltou a ser Santo Antônio. No “arrolamento das alfaias existentes na Igreja Matriz”, consta uma imagem do santo pequena, “velha e quase sem serventia”.

A lista também faz menção uma grande imagem de nossa senhora da Abadia, “em bom estado e nova”. Os bens incluíam quatro jarros de vidro para flores, um crucifixo de chumbo dourado, sete instrumentos de música velhos, quatro imagens velhas e um cofre pequeno e vazio.

A matriz de Campo Grande foi criada em 7 de abril de 1912. A capelinha foi demolida em 1921. A nova edificação foi construída na Rua 15 de Novembro, em 1922.

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