Sem Carnaval, Bonito mantém fluxo de turistas na temporada
Folia, que atrai grande concentração de pessoas e causa impactos pontuais, não combina com Bonito, um dos principais destinos de ecoturismo do Brasil. Isso é um fato concreto. Outros carnavais realizados na cidade causaram mais transtornos urbanos do que benefícios econômicos, além de onerar a prefeitura com gastos em infraestrutura e cachê de artistas.
A decisão da atual gestão bonitense de cancelar o carnaval deste ano não considerou apenas a crise econômica. A medida – tomada com aprovação da grande maioria da população, por meio de enquete – em nada influenciou no fluxo turístico para o período. Hotéis estão lotados e a comercialização dos passeios se mantém no patamar da alta temporada, segundo o trade turístico.
“O impacto no turismo sem carnaval é extremamente positivo”, afirma o empresário Cícero Peralta, dono de pousada e membro do Conselho Municipal de Turismo. Segundo ele, as experiências anteriores são as piores possíveis. Além de não agregar maior demanda de visitação, o carnaval gera tumultos e lixo por toda a cidade e causa insatisfação ao turista.
Hotéis lotados, passeios vazios
Levantamentos realizado pelo segmento turístico apontaram que o carnaval atrai um turista de perfil diferente daquele que visita o destino pelas suas belezas naturais. “Quem vem aqui brincar o carnaval não visita os passeios, há uma queda de visitação no período. E quem quer ir aos passeios, não tem vaga em hotel”, atesta Peralta, 25 anos de experiência no setor.
Definitivamente, estatísticas de mercado e os impactos urbanos em uma cidade de apenas 25 mil habitantes, causados por milhares de visitantes concentradas de forma desordenada em espaços urbanos, apontam para o bom senso e um regramento financeiro: não ao carnaval em Bonito! O prefeito Odilson Arruda Soares se diz aliviado com o apoio popular que recebeu.
“É um evento que não agrega, ao contrário, nos traz transtornos, os impactos ambientais urbanos, a preocupação com a segurança”, diz ele. “Fizemos uma campanha até despretensiosa, mas a população entendeu que investir na compra de uma ambulância e não na contratação de bandas seria uma medida mais racional, e assim o fizemos”, completou.
Carnaval é chover no molhado
O poder público entendeu que carnaval não é o foco de Bonito, que já vem sofrendo pressão em seus recursos naturais com a expansão da agricultura, e o trade turístico espera que a decisão de cancelar a festa seja assumida também pelas próximas gestões. “O nosso atrativo é a oferta de água, não precisamos de banda na praça para ter turista”, resume Peralta.
Para o secretário-adjunto de Turismo do município, Marcelo Gil da Silva, o carnaval não é considerado um produto agregador para o segmento. Ele defende a realização da folia pela iniciativa privada, como são promovidos outros eventos de entretenimento, sem dispêndio de dinheiro público. “Carnaval, para nós, é chover no molhado numa alta temporada”, diz.
Assim, a vida segue o seu natural (sem trocadilhos) em Bonito, às vésperas da folia momesca. A rede hoteleira espera lotação máxima nesse período e as 52 agências de turismo que vendem o destino comemoram grande procura pelos 41 atrativos ofertados com controle de visitação e bons serviços. Bonito tem 113 opções de hospedagens, totalizando 5.500 leitos. lugares.eco.br