Foton começa construção de fábrica no Brasil
Planta gaúcha, a primeira do grupo fora da China, produzirá caminhões a partir de 2016
Em terreno terraplanado de 1,5 milhão de metros quadrados, na cidade de Guaíba, vizinha da capital Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Foton Aumark começou a construir na quinta-feira, 24, a primeira fábrica dos caminhões do Grupo Beiqi Foton Motors fora da China.
Em cerimônia que reuniu o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e o vice-presidente da Foton Motors, Jiang Jian, o presidente da Foton Aumark do Brasil, Luiz Carlos Mendonça de Barros, prometeu produzir até 21 mil veículos por ano na unidade a partir do primeiro semestre de 2016 e com qualidade superior aos caminhões que têm sido feitos atualmente na China.
Em 2010, a empresa Foton Aumark foi criada para representar a empresa chinesa no Brasil. O grupo asiático não irá colocar dinheiro no País, mas trará a expertise de sua engenharia de produto e de manufatura para a operação. O investimento, de R$ 320 milhões, como salientou Mendonça de Barros, é brasileiro. Serão injetados inicialmente R$ 250 milhões para a construção da fábrica, sendo 50% de recursos próprios e 50% financiados pelo BNDES. O terreno foi cedido pelo Rio Grande do Sul para a empresa. E mais R$ 70 milhões serão destinados às operações de logística, distribuição de peças e desenvolvimento de rede de concessionárias, que deverão totalizar 90 lojas até 2016.
A expectativa da Foton Aumark é montar inicialmente, com 150 empregados diretos e 900 indiretos, em um turno de trabalho, caminhões de 3,5, 6,5, 8,5 e 10 toneladas, com preços mais baixos do que os praticados pela concorrência, mas com itens a mais de série (ar-condicionado, freios ABS, cd player, vidros e travas elétricas, acelerador automático), e já com 65% de nacionalização para atender a linha de financiamento BNDES/Finame. Para tanto, os modelos terão motor Cummins e transmissão ZF feitos aqui. Outros itens do chassis também serão nacionais, de parceiros como a Eaton e Dana. A cabine virá pronta da China por causa do alto custo de investimento para a produção local.
Em uma segunda etapa, o plano é fazer, com o dobro de funcionários, em uma linha adicional, caminhões médios e semipesados de 13, 15 e 17 toneladas. “Os chineses já estão estudando a homologação destes produtos”, comentou o presidente. “É evidente que não vamos produzir 21 mil caminhões logo nos primeiros anos, uma vez que a Foton tem um plano consistente de crescimento em participação de mercado no Brasil, em cada segmento em que atuar. A nossa estratégia será começar com caminhões menores, para só depois de consolidada a marca no Brasil entrarmos no segmento dos pesados”, completou.
EXPECTATIVAS
A previsão de Mendonça de Barros para o mercado brasileiro é bastante otimista. O executivo, ex-presidente do BNDES, acredita que o País passará por um período de acentuado crescimento econômico e, como grande parte de tudo o que se produz por aqui é escoado por caminhões, estima que o volume destes veículos a ser comercializado no Brasil possa chegar a 240 mil unidades até o fim desta década, considerando-se todos os segmentos a partir de 2,8 toneladas.
“Avaliando este cenário, mesmo com uma projeção conservadora, e levando-se em conta a qualidade técnica de nossos produtos, podemos vislumbrar um volume de aproximadamente 90 mil caminhões da marca no País em um ciclo de 12 anos.”
Orlando Merluzzi, vice-presidente do conselho gestor da empresa, aposta que a participação de mercado da Foton Aumark no Brasil possa chegar a 5% após oitos anos de operações. “Nós temos plena consciência da competitividade do mercado brasileiro de veículos comerciais e conhecemos a dificuldade para se conquistar cada ponto de market share, mas o que nos ajudará será a atuação em segmentos que totalizam mais de 65% de toda a indústria de caminhões”, avalia Merluzzi.
Mais do que apostar no avanço do mercado de caminhões, “Mendonção”, como ficou conhecido como figura política, confia na força da China em todo mundo, inclusive no Brasil. “A Foton tinha planos de se instalar em três mercados emergentes: Rússia, Índia e Brasil. Nestes dois primeiros o processo está sendo muito mais trabalhoso por causa de dificuldades de negociações dos chineses. Já no Brasil, com a nossa assistência para conseguir as aprovações do Estado do Rio Grande do Sul, tudo foi mais rápido. Estou confiante no sucesso desta operação porque a China vai ditar o futuro da indústria no mundo. A Foton sozinha produz no seu país de origem mais caminhões do que os Estados Unidos com todas as suas marcas. É uma grande promessa para o Brasil”. O grupo tem comercializado 625 mil caminhões por ano, desde 2011, na China e nos 90 países para os quais exporta seus produtos. Faturou US$ 65 bilhões somente em 2013.
Mas o presidente deixou claro que, mesmo diante do sucesso da marca, poderá vender a fábrica brasileira pronta para os chineses. “Nós temos dois contratos com a Foton, um para a fabricação de veículos e outro para revendê-los no Brasil. Nada nos impede de apenas representar as vendas da marca no futuro”, revelou.
Enquanto a planta não começa a produzir, a Foton Aumark aproveita para formar a rede de concessionárias, hoje apenas com 23 lojas, com produtos importados. Habilitada como investidora no Inovar-Auto, a empresa pode trazer da China até 8,5 mil caminhões dos mesmos modelos que serão feitos aqui, volume que considera mais do que suficiente para cobrir as necessidades do mercado até 2016.