200 anos de independência
Falta a boa convivência entre os seres humanos. Antes, havia um rumo, mas não era suficientemente forte, tanto que o sistema desmoronou. Hoje, poucos sabem o que querem da vida, muitos vão sendo empurrados pela superficialidade da multimídia, e sem saber estão indo atrás do beijo da morte. O descontentamento com as condições de vida não lhes permite perceber o quanto estão recebendo a cada dia, e que deveriam agradecer com a alma, retribuindo na convivência alegre, amena e natural.
Educar para quê? Por que encher a cabeça das crianças com coisas inúteis? Desde cedo as crianças têm de ser disciplinadas, aprender a viver e a conviver de forma construtiva e a respeitar a lei do equilíbrio, retribuindo por tudo que recebem, em vez de ficarem fazendo exigências descabidas, sem desenvolver esforço próprio. Falta bom senso intuitivo, iniciativa, foco, propósitos de vida. Os seres humanos deveriam buscar a Luz da compreensão do significado da vida. Muitos pensam apenas nas necessidades instintivas e no lazer e acabam se transformando em máquina sem conteúdo. Outros cobiçam riquezas e poder para dominar. É cada vez menor o número daqueles que se ocupam com o significado da vida.
Tudo gira em torno do dinheiro, a base da economia de produção e das finanças, e a cada instante ele tem de ser mobilizado pela maior parte da população do planeta, mas os interesses do capital acabaram suplantando as necessidades da humanidade. Quem controla o dinheiro, sua criação, sua distribuição? É uma importante variável para a produção, comércio e renda, mas que acabou adquirindo vida própria, podendo ser criado de forma irrestrita por interesses particulares, ou submetido à rígida escassez, sujeitando os seres humanos às suas regras, gerando o desequilíbrio econômico mundial.
Há montanhas de papel moeda pelo mundo e pouca felicidade, pois a humanidade ainda não achou o caminho do progresso real nas boas condições de vida, na saúde e no preparo das novas gerações. “Procurais e Achareis.” Pensadores achavam que o mundo se uniria pela democracia em condições de vida condizentes com a espécie humana. Cobiça de riqueza e poder impedem a convivência pacífica. Só o respeito às leis divinas da natureza poderá unir a humanidade num viver construtivo e benéfico, mas isso requer sinceridade e humildade espiritual diante da obra do Grande Criador, a qual os homens se julgam donos. No entanto, uma simples doença cerebral incapacita a atuação do espírito, impondo ao doente um viver vegetativo.
Há 200 anos surgia uma nação monárquica cujo rei era uma criança que tinha perdido a mãe. O Brasil, tornado nação independente, deveria ter sido administrado pelo casal D. Pedro e Leopoldina. Pedro se deixou arrastar pelos vícios e más companhias, e não cumpriu sua tarefa. Já naquela época os inimigos do Brasil não queriam um país livre e forte, tendo surgido uma casta de dirigentes corrupta e entreguista. Os ingleses fizeram a festa com Portugal afastado. O herdeiro da coroa tomou posse e estava dando um rumo à nação. Ao eliminar o trabalho escravo, foi banido e o país caiu nas mãos de oportunistas e foi transformado em república em 1889 por um grupo despreparado e predisposto à corrupção e dócil aos interesses externos.
Malgovernada, cobiçada pelos seus recursos, a jovem nação ficou estagnada e caiu na armadilha da dívida externa. Teve a ousadia de emparelhar o real com o dólar na base de juros altos. Fragilizou a indústria, a educação e a saúde. Com muita corrupção e desvio de verbas, o crescimento superficial não teve como se sustentar. Se não fosse pela produção agropecuária estaria à míngua como as republiquetas latino-americanas.
Os entraves são muitos. Os inimigos estão ativos, não querem o bem e o progresso do Brasil, que ainda não conseguiu se tornar uma nação de fibra, com população forte e bem-preparada, mas chegou à beira do abismo da ingovernabilidade, até que um elemento de fora da panela política chegou ao poder levado por uma população ansiosa por ordem e progresso. Ao completar 200 anos de sua independência qual será o futuro do Brasil e de seu povo ameaçado pela fome e falta de bom preparo para a vida?
(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP.