2021, o ano que (enfim) terminou
Faz praticamente dois anos que vivemos quase o dia da marmota, como no filme O Feitiço do Tempo. As preocupações se repetem, as estratégias também. Nem os medos se renovam, são os mesmos. Faz quase dois anos que vivemos entre a nostalgia e a expectativa. E o tal “novo normal” nunca vem. Esperar o fim da pandemia é mais angustiante que esperar Godot.
E as listas?
Listas (sejam pré ou pós-tecnologia) sempre foram úteis. A de aprovados nos vestibulares faz a alegria de tantos. A de convocados, seja para o que for, premia o esforço de quem buscou. A de indicados ao Oscar exalta a arte. E o que dizer dos indicados ao Jabuti? Tanto orgulho de escritores e autores que, enfim, ganham destaque no cenário nacional. Já a de Schindler, por exemplo, salvou tantos judeus. Qual seria a sua lista preferida? Quem você deixaria de fora da sua?
Neste 2022, para além de um ano novo, cabem metas e desejos de modo que possamos seguir para um outro dia. Por isso, listei meus desejos (ou metas) e, também, para que o resto de nossa vida seja menos repetitivo. Não são promessas de nova dieta, nem de matrícula na academia. Variam entre aquilo que é novo e aquilo que eu quero de novo (ou “de volta” como se fala em Curitiba).
Mais letras de Chico,
Muitos versos de Vinícius,
Mais melodias de Tom,
Muito cinema em dia de semana,
Mais traços de Niemeyer,
Muito almoço gostoso e só com quem importa,
Mais lives de Toquinho e de Caetano,
Muita Bossa Nova na voz de João Gilberto,
Crônicas de Martha Medeiros todo dia,
Mais olhar infantil para despertar a fantasia,
Mais valorização de professores de todas as categorias,
Enaltecimento dos profissionais da saúde,
Mais gentileza.
Nosso futuro sofreu uma tentativa de cancelamento. Mas, fomos à luta: resistimos, perseveramos, aprendemos e ressignificamos. E talvez tenhamos que dar um passo atrás para, enfim, correr para frente.
Há muito o que fazer ainda. Ainda estamos caminhando pela floresta em busca das migalhas deixadas para encontrar o caminho em que estaremos a salvo: do vírus e das incoerências. E não se trata de escolher entre a vida e a liberdade, pois, uma vez que aquela seja perdida, esta também se foi. O paradoxo é justamente essa beleza da vida, já que, para manter a liberdade, regras e restrições são necessárias.
Nesses últimos dois anos, sobrevivemos. Que neste 2022, o espantoso realmente espante; que a miséria, a injustiça e a violência indignem mais do que as restrições sanitárias. Que o júbilo parental se alie à felicidade marital e ao entusiasmo profissional. Um bom peru de Natal pode acompanhar também.
Foi uma longa quarentena de saudade. Que possamos lembrar com carinho dos que ficaram pelo caminho e que possamos evitar novas perdas.
(*) Candice Almeida é professora.