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2023, o ano do coelho

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 06/01/2023 08:10

No calendário chinês, doze animais se sucedem a cada ano e 2023 é o ano do coelho. Essa notícia chama atenção porque 1939 também foi o ano do coelho, animal doce e pacífico. No entanto, naquele ano teve início o grande conflito mundial.

Não é de hoje que as nações se armam e se testam para demonstrar seu poder de fogo como forma de contornar as guerras, mas a voz do povo perdeu força e os maiorais agem sem dar explicações. Os donos do poder, no alto nível, vão estabelecendo suas metas e suas disputas, mas o povo fica cada vez mais como massa de manobra com direito a obedecer ao que eles determinarem.

A individualidade está em extinção. A grande maioria não faz mais reflexões intuitivas, não tem tempo nem vontade; foi fisgada por atrativos improdutivos e se acomodou. Nas mídias sociais o conteúdo atual é meio rasteiro com autobajulação, medo, ódio, censura, faltam palavras beneficiadoras.

Em 21 de dezembro de 1804, nasceu Benjamin Disraeli, um político conservador britânico, aristocrata e que foi Primeiro-Ministro do Reino Unido em duas ocasiões, além de autor de vários livros e frases famosas como a que se segue: “O mundo é governado por personagens bem diferentes do que imaginam aqueles que não estão nos bastidores.”

A geopolítica está adquirindo novos contornos com o agravamento das condições climáticas, o que desperta a atenção das potências para as regiões bem-dotadas de recursos naturais e minerais. Isso é preocupante para as nações atrasadas sem capacidade de enfrentamento e, no geral, com péssima governança.

A América Latina, incluindo o Brasil, tem sido quintal da Inglaterra e da Europa. Os EUA assumiram a posição com exclusividade. Surgiram outros atores, como Rússia e China. Todos olham para as matérias-primas e mercados. Não é difícil semear descontentamento na população, sempre deixada em plano secundário, e dividi-la mais ainda com os desequilíbrios provocados pela globalização que levou a produção para onde houvesse menor custo. Isso acarretou desequilíbrio global. Com o surgimento da dependência externa, países estão trazendo de volta suas fábricas.

A governabilidade das nações tem de ser aprimorada. O que acontece numa pequena nação, acontece nos grandes arranjos mundiais. Com falta de disciplina nos gastos a gestão pública esvazia o cofre, aumenta a dívida e chega ao ponto de os países ficarem sem verba para gastos essenciais, como remunerar médicos e pagar outras necessidades básicas.

Um partido elege o presidente e indica milhares de indivíduos comissionados com bom salário. A quem eles vão seguir, que objetivos vão atingir? Logicamente os do partido; a nação e seus interesses maiores ficarão para depois. E tudo vai estagnando, pois fazem arranjos inadequados ao país para se manterem no poder, esquecendo as finalidades para as quais foram eleitos.

Há que se pensar mais seriamente na vida e na forma de produzir, consumir e preparar as novas gerações para uma forma de viver adequada à espécie humana. Precisamos educar para a vida, formar seres humanos de qualidade interior com respeito ao próximo, sem teorias ideológicas ou preconceitos.

Há dois mil anos, Jesus brigava com os sacerdotes em Jerusalém, não por ideologias político-sociais, mas porque estes impunham o regulamento deles, colocando de lado as leis divinas da Criação, pois se estas fossem respeitadas, não haveria exploração de uns pelos outros. Ama ao próximo como a ti mesmo. Não o prejudique para satisfazer as próprias cobiças. Eis o quanto basta para estabelecer a paz e a bem-aventurança.

O ano de 2023 já está com as portas abertas. A humanidade quer paz, mas para isso é preciso que haja o esforço de todos, em vez de ficar exibindo poder destrutivo num jogo perigoso de atemorizações, que a qualquer momento poderá ficar tão emaranhado, impossível de ser desfeito, pois a utilização desses armamentos seria a grande tragédia e o fim de uma era da humanidade. Uma parte das pessoas entra no ano novo produzindo armas e munições; outra, detonando, e o restante brincando ou rezando; no entanto, todos deveriam estar empenhados em alcançar grandeza humana pela paz e progresso geral.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP.

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