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A varinha mágica

Heitor Freire (*) | 10/01/2021 13:00

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. E Deus disse: ‘Faça-se a luz’, e a luz foi feita”. Com estas palavras do livro do Gênesis, o nosso Pai Altíssimo nos dá uma lição clara do poder da palavra. E nos mostra que por meio dela, podemos fazer tudo. TUDO mesmo. É só saber utilizá-la.

A falta de uma orientação sincera e verdadeira do uso da palavra resulta no seu uso inadequado. Devido à familiaridade e facilidade no falar, deixamos de nos beneficiar de um poder extraordinário que nos foi concedido pelo nosso Pai. Por intermédio da palavra, foi criado o universo, e através da palavra cada um de nós cria o seu próprio universo, sabendo ou não, querendo ou não.

Há em nosso inconsciente um poder que permanece silencioso e que muitas vezes se manifesta em sua plenitude e transforma a água em vinho: a nossa palavra. Ela muda tudo, é a nossa varinha mágica. Basta saber usá-la. Deus já disse a Moisés que colocou o seu mandamento no coração e na palavra do homem (Dt 30, 11-14).

O poder criador da palavra vai aos poucos moldando a nossa vida. Quando manifestamos a intenção de realizar um desejo e no instante seguinte, por outro motivo, condenamos alguém que obteve o que queríamos, esse conjunto de contradições – uma declaração positiva seguida de outra negativa – cria um estado de contrariedade que nossa mente não consegue entender, pois ela não é seletiva, não tem senso de humor, não sabe que estamos falando “só de brincadeirinha”, que é “só força de expressão”.

E assim, perdemos a oportunidade de utilizar a palavra no seu mais profundo poder, que é o da realização daquilo que desejamos.

Podemos comparar nossa mente com um canteiro de terra adubada e preparada para o plantio. A terra, da mesma maneira que a mente, não é seletiva, ela não seleciona o que vai produzir, apenas produz o que é plantado de forma natural. Devolve o que recebe. Assim, se plantarmos mandioca, colheremos mandioca, se plantarmos maconha, colheremos maconha; a terra não avalia se o produto do seu trabalho é bom ou mau. Ela apenas faz o seu trabalho: processar aquilo que foi plantado.

Dessa forma, quando utilizarmos o nosso processo mental com entendimento e conhecimento, poderemos conscientemente construir o nosso destino, dia a dia, usando a inteligência.

O professor Hildebrando Campestrini tinha uma frase lapidar: “Somos imortais pela palavra”. Com o que eu concordo plenamente. Por que a grande herança que cada um de nós deixa, no tempo e no espaço, é a nossa continuidade – que é o somatório de tudo o que falamos e fazemos – e se realiza por meio da palavra.

É necessário – mais do que necessário, indispensável –, o nosso despertar para a utilização plena de todo o potencial de que fomos dotados.

Vamos pensar antes de falar, para só falarmos aquilo que de fato queremos ver realizado. E assim, conscientemente – a palavra-chave é consciência – acordados, devemos estar presentes a cada momento, evitando agir de modo automático.

Outro ponto a ser destacado é quanto à pronúncia adequada das palavras e também quanto ao uso das palavras certas, sem utilização de chavões, de termos chulos nem de gírias, pois estas tendem a ter interpretações que acabam confundindo a nossa mente.

De um modo geral as pessoas procuram algo grandioso, algo espetacular e não enxergam o óbvio. É preciso ver o óbvio e nele descobrir as nossas raízes, usando o discernimento – o primeiro passo na evolução espiritual – para descobrir o sentido que se esconde por trás daquilo que nos parece tão simples. E para isso é necessário entender que a pressa, a preguiça e a pressão, associadas à arrogância e ao interesse não nos levam a lugar nenhum, pelo contrário.

Um ponto fundamental no que se refere à palavra é o cumprimento daquilo que se prometeu. Ninguém é obrigado a se comprometer, mas feito isso, obriga-se pela palavra ao seu cumprimento.

A partir do momento em que se entende o poder e o significado da palavra, se sente, inicialmente, uma frustração decorrente do tempo desperdiçado e que não volta, mas quando se compreende verdadeiramente, podemos parafrasear Chico Xavier: “Não podemos mudar o começo, mas podemos fazer um novo fim”.

“Conte sempre consigo mesmo e com a sua inteligência” Dizia um sábio antigo. E acrescentava: “Todo o meu levo comigo”.

“Façamos da nossa palavra a varinha mágica” – escreveu Lourenço Prado em seu livro Triunfo e Alegria – e façamos a diferença.

(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado.

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