Agropecuária brasileira: Desmistificar para evoluir
Desmistificar a produção da pecuária brasileira e o consumo da carne bovina por meio de informações e conhecimento científico. Esta é uma das propostas do Centro de Inteligência da Carne Bovina – CiCarne, instalado em 2014, pela Embrapa Gado de Corte, e que também aposta no combate a mal entendidos, mitos, fakenews e consequentemente, no aumento da competitividade do setor.
Mas por que desmistificar? E desmistificar o que, exatamente? Vamos avaliar as respostas.
Atualmente, informações sobre produtos e modos de produção circulam com velocidade e superficialidade. No caso da carne bovina, o acesso rápido a informações negativas sobre o setor (como crises sanitárias e de impacto ambiental) pode gerar resistência ao consumo de produtos com reflexos socioeconômicos imediatos. As respostas precisam ser rápidas e pautadas num arcabouço de conhecimentos e ferramentas comunicacionais que deem conta de administrar crises, mas, principalmente, de promover a cadeia e servir de suporte para as tomadas de decisão dos stakeholders.
De acordo com o estudo prospectivo “O futuro da cadeia produtiva da carne bovina brasileira: uma visão para 2040”, realizado pelo CiCarne, e divulgado ano passado, o avanço tecnológico pelo qual passou o setor, na última década, esbarrou em fatores como restrições socioambientais, apagão de mão de obra, elevação de custos e falta de governança. Segundo o pesquisador e coordenador do Centro, Guilherme Malafaia, tal situação tem levado a cadeia da bovinocultura brasileira a se ajustar e a considerar “novos processos, métodos, sistemas, produtos e serviços” para seguir evoluindo. A comunicação está no centro desta mudança, como fator estratégico. E determinará a posição dos grandes players no mercado. Temos as redes sociais, a imprensa, diversos canais de comunicação para explorar.
Eis a chave para nossa primeira resposta. Desmistificar porque os mitos foram construídos culturalmente, com o aval da mídia e, em muitos casos, por ela mesma. Os conceitos aceitos no universo do agronegócio são complexos por si só. Há termos e ideias como carne-carbono zero, efeito poupa-terra, sustentabilidade e tantos outros que precisam se tornar compreensíveis e populares para daí serem defendidos e adotados como ações de negócio, de consumo, de estratégias públicas e privadas. É importante lembrar que a complexidade é uma norma no agro. Não é uma dificuldade ou algo ruim. As múltiplas variáveis são da natureza do setor e devem estar presentes até nas estratégias de comunicação.
O economista francês Yves Morvan, em 1985, no livro Fundamentos da Economia Industrial, já trouxe o desafio e a necessidade deste processo de desmistificação das cadeias de produção. Segundo ele, a “cadeia produtiva” só poderá constituir-se verdadeiramente em um conceito claro, frutífero e geral se as “cadeias produtivas” se empenharem em especificar seus enfoques e “lançarem luz sobre as sombras”. Ou seja, o setor precisa falar sobre si mesmo. Algo ainda incipiente.
Isso nos leva a nossa segunda resposta. Devemos desmistificar o processo como um todo e todas as suas etapas. As relações entre cada elo, dos elos e da cadeia com o mercado e com a sociedade. É preciso focar no que define a pecuária brasileira.
Por fim, apesar de toda a importância da cadeia da bovinocultura brasileira e seu papel na garantia do abastecimento e da segurança alimentar do país e do mundo, o setor ainda precisa superar os desafios internos de comunicação. Para garantir seu posicionamento estratégico, e em se tratando de mitos e mal-entendidos, a cadeia da carne deve combater, ao máximo, aquilo que, em geral, pode não ser nada, mas que, quase sempre, vira tudo.
(*) Ana Carolina Monteiro é Jornalista, Mestre em Comunicação (UFMS) e Doutoranda em Administração (UFMS).