Aquele remédio
Cheguei aos setenta e seis. A minha infância, até a idade escolar - sete anos naqueles tempos - passei na fazenda, onde derrubei o meu umbigo. A minha mãe não nos deixou em seguida ao parto, vítima que foi de uma infecção gravíssima, por receber a medicação descoberta pelo escocês Alexander Fleming em 1928 e então recentemente chegada ao nosso país, a hoje banalíssima penicilina.
Na meninice pantaneira sobrevivi a muitas infecções e afecções. Os fitoterápicos eram então receitados pelos melhores e mais renomados médicos àquela época. Boa parte da farmacologia brasileira tinha como base a nossa rica flora, esta desde sempre pirateada para o mundo todo. A saúde brasileira deve muito à medicina alternativa, como a homeopática e o mundo em geral se dobra a essa realidade.
A Alopatia nunca foi e nunca será a única vertente do tratamento médico. Os povos primitivos e as mais avançadas civilizações são a prova cabal desta afirmação. Da raizada do xamã à medicina nuclear a Humanidade tem sobrevivido às doenças mais simples e às pandemias mais devastadoras. De uma coisa todos temos certeza: todo e qualquer tratamento tem dose e momento certos. Da auto sugestão ao procedimento cirúrgico, como por exemplo o transplante de órgãos, tudo é medicina. Na medida certa e no momento adequado.
Mas o ser humano é algo tão complexo e ao mesmo tempo imperfeito que é capaz de menosprezar a sua própria história, a sua real essência, e, quando se deixa levar pela burrice, essa faceta cruel da grande loucura que nos domina, abandonando a simples lógica da sobrevivência em favor da mais abominável das atitudes que é o egoísmo, então percebe-se que algo está muito errado e chegamos ao ponto em que ou retomamos o caminho da razão ou nos entregamos de vez ao obscurantismo moral, à selvageria, ao caos existencial.
Meu Deus, mas o que houve com o nosso país? Por que nos deixamos levar pela estupidez a esse ponto? Seriamos uma nação inviável? Mesmo por outros motivos, estaria certo o Papa argentino ao dizer o que disse? Somos o país de muita cachaça e pouca oração? Em outras palavras, somos irresponsáveis?
Estamos obrigados a assistir e custear a palhaçada montada no Senado brasileiro? Parlamentares envolvidos em processos por corrupção fazem da Casa do Povo o cenário desse teatro burlesco em que se transformou a CPI da Covid.
Vamos nos curvar às molecagens dessa gente? Ficaremos em atitude passiva diante de tudo isso? Por outro lado, continuaremos a dar audiência à imprensa corrupta, facciosa e oportunista que desinforma a população deformando a percepção da nossa realidade?
Todos os diagnósticos da nossa tragédia já foram feitos. Toda matéria podre está exposta, mas nada disso importa, pois o que realmente interessa é discutir o uso da Cloroquina que, de princípio ativo para formulação de medicamentos, passou a ser o pomo da discórdia nacional e tema da grande farsa montada nos palcos do Congresso Nacional.
Os Renans continuarão impunes e afrontando a Nação?
A Carta Magna apequenou-se diante dos caprichos de seus intérpretes?
A inversão de valores nos aponta os irreversíveis caminhos da nova ordem mundial?
Fomos vendidos e não ficamos sabendo?
Respeito toda e qualquer discordância sincera, mas para essa enfermidade que nos acometeu só há uma prescrição: a segunda dose daquele remédio através do voto auditável.
(*) Manoel Martins de Almeida é produtor rural.