Do despertar
Acredito que a grande finalidade das religiões e filosofias é conduzir ou orientar o ser humano para que ele desperte do profundo sono letárgico em que está submerso.
A intenção é essa. A questão é: Como? Aí está a verdadeira incógnita da equação humana.
Entendo que as sucessivas encarnações que constituem o processo evolutivo de cada um buscam exatamente provocar esse despertar. E para isso é indispensável a participação consciente de cada um.
Cada encarnação é uma nova oportunidade. E o fato de não lembrarmos das encarnações anteriores constitui o enigma que devemos decifrar. Como a questão do nó górdio, não adianta cortá-lo, como fez Alexandre Magno. Ele deve ser desatado. Por cada um, individualmente. Não tem atalho, não tem truque.
Da mesma forma, cada novo dia representa a continuidade dessa busca infinita.
No livro O Consolador, o espírito Emmanuel, por meio do médium Francisco Cândido Xavier, acrescenta a essa situação, confirmando minha tese:
“Em todo homem repousa a partícula da divindade do Criador, com a qual pode a criatura terrestre participar dos poderes sagrados da Criação. O espírito encarnado ainda não ponderou devidamente o conjunto de possibilidades divinas guardadas em suas mãos, dons sagrados tantas vezes convertidos em elementos de ruína e destruição. Entretanto, os poucos que sabem crescer na sua divindade, pela exemplificação e pelo ensinamento, são cognominados na Terra santos e heróis, por afirmarem a sua condição espiritual, sendo justo que todas as criaturas procurem alcançar esses valores, desenvolvendo para o bem e para a luz a sua natureza divina”.
Somos potencialmente deuses, como Jesus ensinou (João, 10:34). Potencialmente. Significa que para alcançarmos esse estado devemos trabalhar. E é para isso que estamos encarnados.
“Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós, filhos do Altíssimo” (Salmos 82:6). A minha interpretação é a de que como deuses, somos criaturas originais do Deus Pai, e assim, devemos nos voltar para o nosso ser interior, e não nos deixar influenciar por nenhum guru, mestre ou dirigente que represente o caminho que devemos trilhar, já que cada um traz dentro do seu próprio coração a consciência e a presença divina.
A consciência, uma vez despertada, alça voo sozinha, não copiando nada de ninguém; porque, a rigor, tudo o que devemos entender e aprender já está à nossa disposição. Mas ter coragem e ousadia para empreender essa caminhada exige disciplina, paciência, perseverança, honestidade, e, sobretudo, esperança.
A dúvida, alimentada pelo ego, se constitui na grande barreira a ser vencida. O que só acontece com uma fé verdadeira – lembrando que fé é fidelidade – e determinação férrea, ao não se deixar influenciar pelas circunstâncias e pelo discurso alheio. Temos que aprender a ouvir a nossa voz interior.
É preciso superar a inércia, a pressa e a preguiça. E evitar, a todo custo, a mentira. Nós mentimos muito para nós mesmos e também para os outros. A consciência é o instrumento que desperta em cada um o processo evolutivo, e que, depois de acionado, não tem volta. Ela dispara um movimento próprio e constante. E, aos poucos, faz desaparecer a ansiedade, o ódio, o medo, a irritação, o apego e o desejo.
O despertar da consciência é o meio, o chamado para colocar Deus dentro de nós mesmos, não pela fé cega, mas pela expressão plena dos princípios universais que valem para todos, da graça, de sermos então deuses, como nos ensinou Jesus, o Cristo, o filho de Deus encarnado.
A consciência é inerente ao nosso espírito. É ela que nos acompanha pela eternidade. É a guardiã do nosso ser. É a ela que devemos nos conectar e depois prestar contas. Quando passarmos para a espiritualidade, somente ela nos acompanhará. Tudo o mais, TUDO, ficará por aqui.
O momento é o de despertar, meus irmãos. Vamos fazê-lo, o quanto antes. Antes cedo do que tarde. E antes tarde do que nunca. Como já repetiu Chico Xavier: “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim.”
Heitor Rodrigues Freire (*) – Corretor de imóveis e advogado.