E o futuro?
O futuro a Deus pertence. Desde o princípio e para todo o sempre. O homem põe e Deus dispõe. Ele tem a Sua estratégia. A nós, cabe procurar entender para agir de acordo. A nossa vida é única. Quando passarmos deste nível para o outro, da espiritualidade, a nossa vida continuará a mesma. Só levaremos para lá o que somos verdadeiramente. Assim, quando alcançamos a dimensão da eternidade, o que nos cabe fazer é, permanentemente, contribuir para o nosso aperfeiçoamento, nossa evolução, com aprendizado constante. Não existe aposentadoria.
Há um tempo para tudo.
"O tempo perguntou para o tempo:
Que tempo o tempo tem?
E o tempo respondeu:
O tempo que o tempo tem,
é o tempo que o tempo tem"
O futuro, na realidade, como um vir a ser, é uma ficção. A vida acontece no aqui e agora. No dia a dia, a todo momento, cada um de nós está a plantar seu futuro. Isso de ficar planejando, pensando e organizando não passa de uma ilusão, porque a qualquer instante tudo pode mudar. Como está acontecendo agora. E aqueles que se estruturaram interiormente, embora sofrendo as vicissitudes do momento, estão preparados para assimilar e vivenciar da melhor maneira os últimos acontecimentos.
"O problema do nosso tempo é que o futuro já não é mais o que costumava ser". O poeta francês Paul Valéry (1871-1945), com esta frase atemporal definiu com muita clareza o que está acontecendo com todos. Esse "costumava ser" também era utópico. Pelas mesmas razões expostas acima.
O que está acontecendo em todo o mundo não pode ser desconsiderado. É evidente que não podemos fazer como o avestruz e enterrar a cabeça no chão, fazer de conta que tudo está bem e esperar que as coisas voltem ao normal por si sós.
Fingir que se entende tudo, porque se tem pensado muito sobre os acontecimentos atuais, não vai nos orientar e vai nos tirar da realidade. Acredito que o fundamental é entender que Deus tem seus planos, e ter a força de continuar firme em nossas convicções. Através da dor fortuita, por trás de todas essas máscaras, há um objetivo que desconhecemos. E agora? O que fazer agora quando não há nada a fazer?
Me parece que fomos filtrados para o nosso âmago. "Quem sou eu?" e "Quem eu não sou?" E o que posso fazer, se não sou quem pensei ser? Por maior que possa ser a tarefa de assumir o controle de nossas vidas, podemos e devemos fazê-lo. Mas como? Em primeiro lugar, pela ação ativa, consciente. Mudar os hábitos, entrar em ação.
Examinar nossas vidas. Para isso, temos que verificar se o medo nos paralisa e não permite olharmos para nós mesmos. Será que tenho medo de ser sincero comigo mesmo? Quais são meus objetivos? A observação severa por meio de uma meditação clara e contínua que nos conduza ao autoconhecimento pode nos levar a seguir esse caminho com segurança. Devemos ter consciência de que acima de tudo, existe o amor, a energia pura e verdadeira que move o mundo.
E assim, vamos celebrar a vida, que é repleta de altos e baixos, conquistas, derrotas, perdas e ganhos. O importante é olhar a vida e celebrá-la. Para isso, é necessário reconhecer nossas próprias imperfeições, entendendo que não somos perfeitos e devemos aceitar a vida como ela é, para então agirmos para mudar o que deve ser mudado, assumindo a vida com alegria e responsabilidade.
É hora de parar, refletir, pausar, aperfeiçoar e aproveitar estes dias de recolhimento que são preciosos – apesar de estranhos – para descobrir quem somos de verdade, abraçando este tempo de transição, partindo para a jornada interior, deixando o supérfluo do lado de fora.
E, assim, quem sabe, conseguiremos salvar uma vida, a nossa própria vida. Expandir nossa fé, o instrumento infinito, eterno, o atributo que Deus nos concedeu ao nos criar.
Sigamos inventando o futuro hoje para vivê-lo de forma objetiva, com o pensamento voltado para Deus e caminhando em frente, para o alto e para dentro.
(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado.