Extensão universitária na socioeducação
A graduação de Licenciatura em Pedagogia costuma ser perspectivada apenas pela prática docente, afirmada no título concedido às profissionais da área – licenciadas. No entanto, considerando a amplitude curricular e a multiplicidade dos campos para atuação, ela é atravessada por experiências amplas e agregadoras ao percurso acadêmico, não se limitando ao espaço escolar e, muito menos, à docência. Nesse cenário, a extensão universitária se apresenta como possibilidade para esses aprofundamentos em áreas não muito visibilizadas no curso, incluindo a socioeducação – campo de atuação com adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa.
O tema deste artigo faz parte do meu trabalho de conclusão de curso, orientado pela professora Karine dos Santos, que recebeu o título Percepção das Estudantes de Pedagogia na Extensão Universitária em Socioeducação: tecendo experiências na Socioeducação. Focando no percurso de quatro mulheres que se constituem, desde já, pedagogas, o estudo se inicia com o intuito de analisar as trajetórias das (ex-)bolsistas extensionistas do Programa de Prestação de Serviços à Comunidade (PPSC – programa de extensão no campo socioeducativo) que foram minhas colegas e/ou referências para este trabalho. Amplia-se, todavia, para o contraste dos conhecimentos e percursos de treze estudantes que não possuem experiência na extensão em socioeducação. Em que medida seus percursos se diferem e se relacionam? Quais os saberes das (ex-)bolsistas que as destacam dentro desse contexto? Como se relacionam com a minha caminhada?
Em meio à pesquisa, notou-se o quanto a experiência extensionista no espaço do PPSC evidencia aspectos essenciais de uma prática pedagógica assentada nas relações, seja com os adolescentes atendidos, seja com a própria equipe de trabalho. Os medos, os aprendizados e o ser referência – ao adolescente e às colegas também bolsistas – são elementos que perpassam a experiência e a tornam potência e essencialidade, inclusive dentro de caminhos únicos até a chegada no Programa. Estar nesse espaço, e na extensão universitária, parece possibilitar a ressignificação dos discursos, percursos e percalços de uma trajetória acadêmica por meio de redes de acolhimento e apoio criadas na equipe. Assim, os motivos pelos quais esse ingresso aconteceu revelam como a jornada de cada uma dessas mulheres, em sua individualidade, coincide entre si na medida em que todas permanecem no espaço até a sua formatura. Nas muitas convergências, evidencia-se que a curiosidade – primordialmente – e o interesse pelo campo, junto à remuneração, são aspectos que as move para a extensão universitária em socioeducação. Porém o que as faz permanecer nela são os fortalecimentos dos vínculos. Ao longo desse processo, a metodologia de trabalho do PPSC – no fazer com – se destaca como o principal elemento que é encaminhado e introduzido como parte da prática educativa das bolsistas nas mais variadas áreas em que se propõem a estar posteriormente a essa vivência.
Quando essas trajetórias são comparadas às compreensões de estudantes sem experiências extensionistas na socioeducação, contudo, nota-se o quanto o currículo da Pedagogia é amplo e, por vezes, sem visibilidade a esses campos. Isso é corroborado na medida em que a socioeducação não aparece nem como desejo de atuação e nem é mencionada como possibilidade para além do espaço escolar. Devido a isso, observa-se que estar aberta às possibilidades de experiência em outros campos, bem como às próprias ações dentro da Universidade – percebida em apenas algumas dessas estudantes –, é um fator que agrega valor à formação, junto à vivência como bolsista.
As motivações e disposições pessoais, acrescidas da postura de abertura a novos aprofundamentos, são impulsionadores para a vivência nesses espaços e constituem ações que suplementam a formação profissional.
Logo, infere-se que quanto maiores a imersão nos estudos e a possibilidade de participação em ações para além do currículo, mais se amplia o olhar. Quanto maior a experiência na extensão universitária, neste caso em socioeducação, melhor essa noção estaria desenvolvida, implicando o exercício de repensar a prática e os pré-conceitos com que cada uma chega à Universidade. Nisso, seriam alcançados e proporcionados meios para uma educação emancipatória.
Então, no intuito de visibilizar quem viabiliza o trabalho socioeducativo e na busca pela exaltação do percurso individual, acadêmico e profissional de cada uma dessas mulheres, essa pesquisa e esse artigo se formam. O PPSC, portanto, constitui-se referência de trabalho e de programa extensionista na Universidade; ressalta o quanto essas ações são essenciais na formação integral, especialmente da profissional pedagoga. Já viver a extensão é ampliar o olhar sobre as possibilidades de atuação, neste caso, de uma pedagoga; dialogar sobre o que foi apreendido e o que é levado para outros campos e experiências profissionais.
Frente às multiplicidades de vidas e histórias com que cada bolsista se depara nessa experiência, não há sentido em ser e estar com esses sujeitos a partir de uma única pedagogia. Isso se aprende no PPSC e se vive na extensão universitária. Os resultados, com isso, evidenciam consonâncias, divergências e ressaltam importâncias, inclusive do papel extensionista na (form)ação profissional e humana. O estudo, portanto, é sobre vidas e trajetórias que coincidem, também, com a minha. É sobre como nos constituímos pedagogas durante os encontros da e na graduação, especialmente na extensão universitária em socioeducação. Somos conexão.
(*) Laura Becker da Silva Silveira é estudante do curso de Licenciatura em Pedagogia e atua como bolsista no Projeto de Extensão Fio da Meada/UFRGS.