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Holocausto do pantanal, comoção ou luto coletivo?

Amanda Micheli Mariano de Mello (*) | 11/09/2020 13:50

É fato que os incêndios no Pantanal são um completo desastre. Eis o que  ocorre atualmente: o holocausto do Pantanal, se resgatarmos o sentido original da palavra holocausto: tudo queimado, no sacrifício dos tempos antigos entre os hebreus. Com duas distinções: primeira, que a holah do sacrifício judaico tinha o sentido de reparação, visava uma expiação geral dos pecados; segunda, que depois do nazismo sacrificar milhões de judeus, a palavra ganhou um significado mais assustador, e passou a ser considerada como sinônimo de destruição —sem importar a causa— até o extermínio.

Dessa forma é necessário que a população entenda que  florestas não são apenas estatísticas. Nem apenas objeto de negociações, de rivalidade política, de teses, de ambições, de pranto e sim um sistema de vida profundo e criativo. Têm espiritualidade, cultura,economia, organização, povos, legislação, ciência e progresso. É uma identidade tão forte que permanece como impregnado no entendimento, no olhar, nas emoções, por mais distante que se vá, por mais que conheça e admire as coisas do resto do mundo.

Os incendios até agora de acordo com os  dados do Prevfogo, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos incêndios florestais do Ibama, mostram que em 2020 a área queimada no Pantanal já passa de 2,3 milhões de hectares, sendo 1,2 milhão em Mato Grosso e mais de 1 milhão em Mato Grosso do Sul. Essa área de mais de 2 milhões representa quase 10 vezes o tamanho das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro juntas.

E o aumento de seu número pode ser atribuído, por inumeros fatores entre eles naturais, aliados ao uso incorreto do fogo para desmatamento; renovação de pastagens para agricultura extensiva;  controle de pragas; produção de carvão e  negligencia humana.

Visto isso maior parte, dos incêndios florestais têm causas antropogênicas e, no período de seca, há condições favoráveis para sua propagação em grande magnitude, visto que fatores climáticos como altas temperaturas, vento e baixa umidade relativa do ar potencializam sua ocorrência, uma vez que o ar mais seco provoca aumento da evapotranspiração das plantas, favorece maior atuação da radiação solar na superfície terrestre, que, por sua vez, eleva a temperatura do ar, criando assim um ambiente que é facilmente propício ao processo de combustão.

 Ademais de acordo com o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro até agora mais de 25,4 mil focos de calor foram registrados. O número é 29% maior do que no mesmo período do ano passado.

Agora vejo novamente o fogo matando a beleza da Pantanal e destruindo a perfeição de sua natureza. Lamento a perda de cada cheiro, cada cor, cada raiz, cada animal, cada planta, cada textura que nunca mais voltará. E embora não espere sensibilidade de quem não conhece a riqueza que se perde, sinto que é necessário alertar a todos e protestar contra um Governo que passa a senha da destruição, que torna a devastação fora de controle e causa enormes prejuízos para todos.

É necessário, no entanto, enfrentar a emergência ambiental no Brasil, com a coragem e o sentido de urgência que a situação nos impõe, para evitar que cheguemos ao lugar sem volta, em que nem por hipótese devemos chegar, o da inviabilização sistêmica do pantanal pelas ações predatórias que desequilibram as condições de sua existência.

É necessária a mobilização de todos que não querem ter, em suas genealogias, o DNA da barbárie: academia, movimento socioambiental, empresariado, governos estaduais e municipais, juventudes, líderes políticos. De forma plural e suprapartidária, sem qualquer politicagem, é dizer chega. Às derrubadas e queimadas, à violência contra as populações locais, aos prejuízos econômicos, políticos e sociais que já estamos sofrendo, dentro e fora do Brasil.

O pantanal está sendo queimado por uma mistura de ingenuidade com interesses truculentos. O Governo está inaugurando um tempo de criminalidade livre, em que se pode agredir a natureza e as comunidades sem receio de punição. Não negligenciemos os indicios, como no passado, pois o que ameaça refazer-se é, tanto pelo resultado, “tudo queimado”, quanto pela natureza sistemática da destruição, a tragédia das tragédias: o Holocausto.

A sociedade brasileira, por sua parte sensível e consciente, deve responder em nome dos povos antigos e das futuras gerações, do Pantanal e de toda a Natureza. Atendendo aos legítimos interesses da população, da civilização humana e da economia, declare-se o Brasil em condição de emergência ambiental.

(*) Amanda Micheli Mariano de Mello é engeharia ambiental (UFMS).

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