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Mais mulheres para decodificar o futuro

Fabiana Rosa (*) | 10/03/2021 13:31

No último ano vivemos um tipo de hackathon global, talvez o primeiro momento na história que reuniu governos, indústrias e indivíduos para resolver o mesmo problema. Em meio ao trabalho hercúleo de profissionais da saúde e de cientistas em busca de tratamentos e vacinas, presenciamos, paralelamente, um protagonismo da tecnologia nunca visto antes, como se o futuro estivesse sendo escrito em linhas de código.

A intensidade tecnológica e científica tem um peso cada vez maior nos países que lideram o crescimento econômico e o bem-estar de seus cidadãos, e as mulheres precisam ser mais protagonistas nesta esfera. É importante refletirmos nesta data sobre o papel da mulher na tecnologia e a quantidade de mulheres que optam por carreiras técnico-científicas. O público feminino, apesar de consumir muitos aplicativos, redes sociais e dispositivos digitais, ainda tem uma participação tímida na produção da tecnologia.

A necessidade de se ter mais mulheres na ciência da computação não é só uma questão de equidade de gênero, mas também econômica. Esse cenário poderia não ser importante se não fosse pela influência da tecnologia e da ciência na redefinição do presente e do futuro do trabalho: embora o número de cursos de computação tenha crescido 586% nos últimos 24 anos no Brasil, o percentual de mulheres matriculadas nesses cursos passou de 34,8% para 15,5%, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação (MEC).

Os motivos que explicam esta realidade são diversos e complexos: padrões e crenças, educação digital insuficiente, visibilidade reduzida das mulheres cientistas, desconhecimento da contribuição para o bem-estar e o desenvolvimento econômico da ciência e tecnologia, famílias e sociedade que não aceitam que a ambição é um valor que também pode ser feminino.

Os estereótipos continuam a apresentar as mulheres essencialmente como cuidadoras e a pressão sobre a imagem de nossas meninas foi intensificada pelo poder das redes sociais. Em geral, as curtidas e a grande visibilidade nas redes não são dadas às mulheres que despontam em carreiras tecnológicas.

A análise do perfil de diversidade na área de tecnologias digitais também demonstra que o acesso ao mercado de trabalho por mulheres é desproporcional se analisada a população nacional. Segundo estimativas do IBGE, em 2018, o Brasil tinha uma população de 51% de mulheres e 49% de homens. Das 47 milhões de vagas de empregos, 44% são ocupadas por mulheres. E quando se observa a proporção por gênero de profissionais no setor de tecnologia a divergência é ainda maior: 37% de mulheres contra 63% de homens. Ou seja, praticamente a cada três vagas, duas são masculinas.

Tecnologia e digitalização estão no centro das conversas públicas e são pauta obrigatória nas empresas que buscam se recuperar dos impactos econômicos gerados pela crise sanitária. Vemos, neste cenário, uma crescente no volume de ofertas de emprego ligadas às carreiras de tecnologia. Mais precisamente, estamos falando de um aumento de 310% no número de vagas abertas na área de tecnologia em 2020 no Brasil, segundo a GeekHunter, que atua no recrutamento de profissionais TI. Se analisarmos somente o estado de São Paulo, esse crescimento ultrapassa os 600%, segundo apontamentos da Catho.

Os impactos negativos da Covid-19 são inúmeros e tivemos que fazer muitos esforços para nos adaptar a uma realidade que ainda é difícil de prever e aceitar. No entanto, estudos apontam que esta pandemia tem contribuído para acelerar a digitalização da sociedade, antecipando algumas tendências tecnológicas em cinco a dez anos.

O desenvolvimento de vacinas em tempo recorde evidenciou ainda mais a importância de se ter uma base tecnológica muito bem estruturada, seja para garantir a cadeia fria das vacinas durante a logística de transporte e distribuição, prevenir ataques cibernéticos que possam prejudicar o sucesso do plano de vacinação e a continuar compartilhando informações, rastreando pessoas infectadas e monitorando o isolamento social, enquanto não pudermos declarar, ainda, nossa vitória neste crítico episódio da história da humanidade.


(*) Fabiana Rosa é gerente de comunicação

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