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Método para medir e analisar custos no sistema de saúde

Vários autores (*) | 30/09/2022 13:30

Qual o custo da saúde? Responder a perguntas como esta, em diferentes cenários e para diversas doenças, tem sido a motivação para o desenvolvimento de uma linha de pesquisa do Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS). O IATS é um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia e está sediado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Entre as várias parcerias que são desenvolvidas entre essas duas instituições, e com a participação de outros hospitais, estão os estudos na linha de pesquisa que avalia custos de cuidados em saúde – e que apresenta importantes desdobramentos internacionais.

O IATS tem atuado ativamente na produção científica de métodos de custeio em saúde e, recentemente, foi responsável pela escrita da Diretriz Brasileira de métodos de microcusteio em avaliações econômicas, na qual está sugerido o uso do método Time-drive Activity-based Costing (TDABC) como uma técnica padrão para o alcance de informações mais acuradas de custos em saúde.

O TDABC permite avaliar o custo do ciclo completo de cuidado no âmbito do indivíduo, permitindo medir e analisar o consumo de recursos do sistema de saúde. O pressuposto fundamental do método está na identificação das atividades consumidas ao longo de um ciclo de cuidado e no tempo de duração de cada atividade, o que aumenta a acurácia do valor de custo obtido.

Para chegar ao custo total, é necessário identificar os custos diretos e indiretos. Essa classificação, conforme exemplificado na figura abaixo, inclui custos médicos, não médicos e de perda de produtividade, que são identificados a partir do mapeamento dos processos envolvidos na prestação de serviços de saúde.

 figura exemplifica os itens mensurados em uma análise de custo, classificados em custos diretos e indiretos. Em marrom, estão os custos hospitalares; em amarelo, os domiciliares. O TDABC proporciona informações acuradas que podem subsidiar análises críticas de processos e, consequentemente, estimular a eficiência no atendimento aos pacientes.

Entre as vantagens do método está a possibilidade de visualização de pontos em que é possível ajustar o uso de recursos de acordo com a verdadeira demanda dos pacientes, possibilitando o seu maior aproveitamento e, consequentemente, a maximização dos resultados de saúde e a minimização de custos.

Pelas suas características, o TDABC tem grande importância na visualização dos custos na perspectiva hospitalar, pois a instituição consegue medir quanto, como e onde está alocando os recursos disponíveis, possibilitando uma melhor gestão destes. Além disso, a inclusão de custos domiciliares, como os ligados à perda de produtividade, mostra o impacto dos tratamentos de saúde na vida dos pacientes e de suas famílias.

Como em várias situações a família é muito envolvida no tratamento, para se estimar o custo de todos os procedimentos é preciso considerar também os custos fora do ambiente hospitalar. Na avaliação domiciliar, além do custo da perda de produtividade do paciente e/ou familiar em decorrência da doença, são incluídos itens como o transporte utilizado para as consultas de rotina e as adaptações de estrutura na casa, possibilitando a análise de custo também na esfera familiar.

A pesquisa brasileira tem sido de grande importância para os avanços metodológicos em estudos sobre custos em saúde, e os projetos de TDABC realizados no HCPA fazem parte dessa história. Entre os trabalhos já publicados em revistas científicas da área e que aplicaram essa metodologia de microcusteio, podem ser destacados os estudos em transplante de medula óssea, transplante de coração, procedimentos da doença arterial coronariana e atrofia muscular espinhal (AME). Pesquisas mais recentes, que ainda estão em fase de análises e em processo de publicação, avaliam os custos de tratamento com acidente vascular cerebral isquêmico, distrofia muscular de Duchenne e covid-19.

Elaborar estratégias de atendimento, embasar políticas de remuneração e compreender o impacto do tratamento de diversas doenças nos sistemas de saúde são alguns exemplos de resultados que podem ser alcançados a partir de estudos de custeio em saúde. Esses dados têm se mostrado críticos para o reconhecimento dos fluxos e das demandas no cuidado aos pacientes, além do efeito positivo para a sustentabilidade do sistema de saúde.

(*) Nayê Balzan Schneider é aluna de doutorado do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia (PPGEpi) da UFRGS e pesquisadora do Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS).

(*) Érica Caetano Roos é aluna de doutorado do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) e pesquisadora do Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS).

(*) Ana Paula Beck da Silva Etges é professora da PUCRS e pesquisadora do Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS).

(*) Carisi Anne Polanczyk é médica cardiologista, professora da UFRGS/FAMED e coordenadora do Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS).

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