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Michelangelo: O mestre da Capela Sistina

Elza Ajzenberg(*) | 04/02/2023 13:28

Aexposição Michelangelo: O Mestre da Capela Sistina, realização do MIS Experience, utiliza alta tecnologia imersiva, animação, sonorização e a participação de equipes de pesquisa. Estes itens convergem para momentos de descobertas e encantamento! Multiplica questões históricas, sociais, teológicas e estéticas. Pode-se perguntar, com esta exposição, o que mudará nas futuras interpretações da Capela Sistina?

Michelangelo Buonarrotti (1475-1564), scultore fiorentino – assinatura do conhecido gênio solitário -, possui produção bastante abrangente: escultor, pintor, arquiteto. É importante somar as suas cartas de profundo cunho poético. As várias biografias e estudos, dos quais é alvo, insistem na densidade de sua Arte. Vasari, um dos principais escritores do Renascimento, assinala este ponto. Nas várias conexões da Capela Sistina estão sempre presentes: o contexto, a abrangência de sua produção e as vivências do artista.

O pai de Michelangelo exerce funções administrativas em Caprese – território florentino – onde o artista nasce. Em Florença, na companhia do pai, com 13 anos, entra como aprendiz na oficina de Domenico Ghirlandaio. Depois, passa a trabalhar na escola de Bertoldo, conservador de esculturas antigas reunidas pelos Médicis. Observando as excepcionais qualidades do jovem artista de 15 anos, Lourenço de Médicis convida Michelangelo para viver em seu palácio. A morte de Lourenço, o Magnífico, em 1492, e a expulsão dos Médicis de Florença dão novo rumo à vida de Michelangelo.

Em Roma, entre 1508 e 1512, são realizados os afrescos da Capela Sistina, a convite do Papa Júlio II. A Capela, construída para o Papa Sixto IV, no início prevê a representação dos Doze Apóstolos. Com o passar do tempo, o projeto evolui para um elaborado complexo com dezenas de figuras e detalhamentos. À medida que Michelangelo avança em suas criações, conteúdo e representações passam por mudanças. Passagens bíblicas são registradas: a Criação do Universo e do Homem.

No teto são assinalados: a Criação de Adão, a Criação de Eva e o Pecado Original. A conhecida cena: Deus com o indicador esticado cria o primeiro Homem – torna-se emblemática. O mapeamento do teto registra o Sacrifício de Noé, o Dilúvio e a Embriaguez de Noé. No entorno, nas denominadas lunetas, Michelangelo reúne ideias, com representações de Profetas ligados ao cristianismo, e sibilas, como ecos do antigo mundo pagão.

A Criação de Adão, de Michelangelo – Foto: Domínio Público
A Criação de Adão, de Michelangelo – Foto: Domínio Público

 Anos depois das criações do teto da Sistina, Michelangelo retorna ao Vaticano (1536-1541), para incluir cenas do Juízo Final, atrás do altar. As cenas do Novo Testamento provocam grande (ou mesmo terrível) impacto.

As estadias de Michelangelo em Roma são acompanhadas de retomadas de sua paixão pela escultura e pelo mármore. Em momento anterior, está a criação da Pietá (1497-1500). Esta obra tem a assinatura do artista, na fita cruzada sobre o tórax da bela Virgem. A obra encontra-se na Basílica de São Pedro. Em 1501, esculpe o Davi, acompanhando a expressão do artista: retirar da enorme pedra um corpo rico de energia. Em Florença, acontece uma façanha histórica: o transporte da macroescultura da oficina do artista ao portal do Pallazzo della Signoria. Hoje, o original encontra-se na Galeria da Academia. A obra é elaborada para exaltar a Nova República. Na mostra do MIS Experience há um estudo sobre o Davi exposto.

A morte de Júlio II (1513) está conjugada a uma série de figuras projetadas para o túmulo do Papa. No momento atual, o famoso Moisés encontra-se na igreja de São Pedro in Vincoli, em Roma. Alguns críticos afirmam ser um autorretrato de Michelangelo. A expressividade do rosto está associada ao temperamento do artista, à sua terribilitá. O irado profeta, de torso atlético, braços musculosos, traz as tábuas da Lei. Os dois chifres, que lhe dão aspecto satírico, representam raios de luz (ou a Fé) – tradicionais na iconografia de Moisés.

Este universo, repleto de criações e vivências do artista, é potencializado pelas pesquisas e recursos tecnológicos. Inserem a artista no cerne da obra. O efeito é de mergulhar nas cenas da Capela Sistina. Provocam deslumbramento e fortes emoções. Há o convite para descobrir o artista como termômetro de seu próprio tempo e a ênfase em direção ao território livre da Arte. A mostra MIS Experience: Michelangelo: Mestre da Capela Sistina promove contínuas pesquisas científicas, estéticas e aprendizados.

(*) Por Elza Ajzenberg, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP

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