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O futuro em construção

Por Marquinhos Trad (*) | 29/11/2019 11:12

O processo de desenvolvimento de uma cidade tem fatores imponderáveis. Muitas vezes o poder público realiza uma intervenção urbana em determinada área, esperando obter determinado resultado, mas o movimento espontâneo da população a coloca em outra direção.

"conseguimos realizar uma obra de mais de R$ 60 milhões sem que houvesse qualquer escândalo proveniente de suspeitas de corrupção."

Todo gestor de uma grande cidade aprende que a vontade de seus cidadãos e cidadãs é imperativa para induzir a qualidade de seu crescimento. Cabe à administração municipal orientar procedimentos, gerir interesses, ordenar fluxos de crescimento e atender as demandas sociais.

Trata-se de operação complexa porque as instituições e as leis que regulam uma cidade nem sempre estão de acordo com aquilo que o dinamismo interno da cidade induz e exige.

O asfaltamento de uma rua residencial, por exemplo, poderá, com o passar dos anos, fazer surgir uma inusitada via comercial, alterando sua finalidade. Ou vice-versa: a implantação de uma grande avenida, às vezes, se transforma em área de lazer para os moradores, que a utilizam para caminhadas e encontros sociais.

O centro de Campo Grande vivenciou esta experiência ao longo do tempo. Sua aptidão original foi se transformando à medida que a cidade crescia, embora mantivesse, na essência, sua vocação para o comércio. Foi assim que a Rua 14 de julho - e todo seu entorno - ganharam vida própria, definindo a identidade cultural de Mato Grosso do Sul.

O centro tornou-se o palco do chamado “jeito moreno” de ser, lugar para onde se confluía pessoas de todas as origens, formação e condições sociais. A rua e a história de Campo Grande passaram a integrar o mesmo fenômeno social, interagindo e mesclando nosso povo, dando-lhe perspectiva e rumo.

Neste aspecto, a Rua 14 de julho, ao longo de mais de um século, transformou-se em ponto de encontro, região comercial, local de moradia, tornando-se o espaço urbano vital de toda a cidade. Ali a cidade se revela com todas as suas nuances e peculiaridades.

Mesmo assim, conforme novos bairros foram surgindo e novos traçados foram delineados, a cidade redefiniu-se, impactando de maneira negativa toda a área central. Foi assim que, já na década de 70, projetou-se a primeira reforma do miolo da cidade. Ela não avançou como se desejava, e ficou apenas na implantação do calçadão da Rua Barão do Rio Branco.

Com crescente degradação dos imóveis e das malhas viárias, várias administrações deram início aos estudos de modernização do centro, a partir da revitalização da 14 de julho. O projeto teve a fase de maturidade e, finalmente, conseguimos fechar o acordo de financiamento com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para executar o tão sonhado projeto.

Cabe salientar que o Reviva Campo Grande não se trata apenas de uma obra física de reforma. Ela na verdade é um novo conceito de urbanização que certamente vai se irradiar culturalmente por toda a cidade, conforme a passagem do tempo.

Como afirmamos no início desse artigo, o processo de desenvolvimento de uma cidade é revestido de fatores imponderáveis. Neste sentido, o modelo implantado na 14 de julho poderá servir de referência urbanística para toda cidade. O centro funciona como um espelho do que serão os bairros no futuro.

Esse será o legado que pretendemos deixar para as futuras gerações. Tenho muito orgulho de entregar essa obra para nossa população porque ela impactará positivamente não somente na nossa economia, como principalmente na nossa auto-estima. Trata-se de um trabalho que mostra a ousadia de uma gestão que não teve medo de enfrentar o desafio, com todos os riscos e desgastes políticos imaginados no decorrer do processo de execução.

Reitero que conseguimos realizar uma obra de mais de R$ 60 milhões sem que houvesse qualquer escândalo proveniente de suspeitas de corrupção.

Vencemos e estamos orgulhosos de nossa equipe de trabalho que soube atuar com harmonia e paciência para vencer todos os obstáculos advindos da incompreensão de alguns setores da sociedade. O Reviva Campo Grande agora tornou-se um símbolo de esperança que homenageia o passado e projeta nosso futuro.

(*) Marquinhos Trad é prefeito de Campo Grande (MS).

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