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O que significa “Formoso”

Angelo Rabelo (*) | 16/02/2023 13:15

A polêmica e o pânico que envolvem o rio Formoso e suas águas barrentas devem ser motivos de atenção e tomada de decisões importantes, pensando no futuro que almejamos. O presente e o futuro estão em nossas mãos.

O significado do nome do rio (formoso, garboso, que deve ser exaltado) já deveria ser suficiente para que adotássemos uma política pública permanente de proteção. Não somente nos momentos de ameaça e risco para a beleza.

Existem fatores climáticos como “El Niño e dependência dos “rios voadores” que não temos controle, mas muitas ações locais podem fazer diferença. O rio está inserido em cadeias socioeconômica e ambiental gigantescas.

Gera um número superior de 10 mil empregos, detém mais de R$ 100 milhões em infraestrutura instalada, beneficia a agricultura como um dos nutrientes fundamentais para o desenvolvimento das plantas, contribui no controle de pragas e ainda corresponde a um ativo biológico. São inúmeras as espécies que compõem a rica biodiversidade do rio.

Estas espécies são dependentes do equilíbrio e da qualidade do recurso hídrico para poderem sobreviver.

Inúmeras iniciativas, nos últimos 30 anos, foram implementadas e de alguma forma minimizaram ameaças que deram sobrevida ao rio. Mas, por experiência, os rumos do trabalho desempenhado até aqui podem não ser os mais favoráveis. Pego exemplo do que foi feito na bacia do rio Miranda nos últimos anos. Houve foco mais para a criminalização do que para a discussão na busca da solução. Ou, ainda, uma busca incansável por culpados e não aliados. Esse direcionamento não trouxe solução efetiva.

Há necessidade de um diálogo entre todos os atores e ações práticas permanentes. Se usamos esse recurso todos os dias, não temos que cuidar todos os dias?  É a única alternativa para não sermos derrotados pela nossa incapacidade de diálogo, de sentarmos na mesma mesa.

A solução está pautada nas inúmeras técnicas de uso e manejo de solo, especialmente na utilização das estradas, e na interrupção de usar o rio como destino urbano de se jogar sedimentos e drenagem sem critérios, rio abaixo. A necessidade de um “pacto de diálogo” permanente onde usuários diretos e indiretos contribuam para que a “formosura” daquele lugar sobreviva.

Os eventos extremos nos obrigam, hoje, a rever e redobrar as práticas e políticas públicas existentes. A cultura das ações esporádicas impõe alto risco. Proponho instalar uma sala orgânica de monitoramento com sistema de alertas de desmatamentos, de chuvas, de uso das estradas. O sistema de vigilância com Satélites Planet, oriundo da Noruega, permite estas ações diárias. Somos um Estado modelo para o país, com uma performance econômica de referência, mas somos o Estado que mais perdeu espelho d’água nos últimos anos, cerca de 40%.

Precisamos atrelar estratégias de conservação nos projetos de futuro do nosso Estado. Afinal, algumas perdas poderão se tornar irreversíveis, ofuscando o brilho das nossas conquistas. As licenças ambientais devem dialogar obrigatoriamente com uma estratégia de conservação no território. A ideia de avanços num território de alta vulnerabilidade de solo precisa de um olhar estratégico e responsável.

Precisamos de soluções e estratégias pautadas na natureza. Precisamos produzir natureza. Que a formosura daquele rio não se esgote na sua sua aparência. E que seu significado seja convertido em oportunidade sobre como vamos lidar com um desafio para o presente e o futuro.

(*) Ângelo Rabelo é presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro).

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