O sabor do saber
A palavra saber na sua origem do latim é sapere e traz como significado “ter conhecimento, ciência, informação ou notícia”. A palavra sábio no latim é sabidus, significa “ajuizado, prudente, culto erudito”, mas sabidus, na sua raiz, é sabor, saboroso e sapiência. É belo descobrir pela etimologia que o saber tem sabor.
O sabor do conhecimento traz abertura para o novo. Saímos da ignorância apenas pela abertura ao novo, ao conhecimento que está diante de nós. Aprendemos se não houver enrijecimento pela bagagem que já temos.
O sabor do saber leva a mundos antes não percorridos, dá asas à imaginação e à criatividade. Traz liberdade de “pensar fora da caixinha”, fora de esquemas limitantes. A abertura para ver o mundo com os olhos da alma mostra como aproveitar melhor o que nos serve, deixando de lado o que já serviu para viver atualizado com o que se é no aqui e agora.
“O sabor do saber é libertador!” Nesta frase há um valor, um princípio de vida que alimenta a busca constante do saber com sabor. Traz a emancipação dos padrões da família e da sociedade para, num momento seguinte, colaborar com elas. O que numa família ou numa sociedade é aprisionante, inevitavelmente será fator de sofrimentos desnecessários. Quando as ideias e os modelos fixos escravizam, consciente ou inconscientemente, uma pessoa, uma empresa, uma família e também a sociedade, certamente já faltou abertura ao saber do momento presente. O saber do passado já está insípido, sem sabor, sem a novidade da vida.
O saber é saboroso, toca a alma em novidade, apresenta saídas óbvias, mas não pensadas. Talvez já sentidas, mas como fomos educados a desconsiderar o que sentimos, para considerar apenas como os outros pensam, sob pena de rejeição ou julgamentos, negamos as nossas percepções. Negamos nossos processos psicológicos básicos pela rigidez da educação e da cultura local. Percebemos que o universo é infinito só mais tarde, quando o desejo de liberdade se encanta com o céu estrelado e percebe que o mundo é muito maior do que este que sabemos ou enxergamos.
O sabor do saber se expande quando nos conectamos àquelas pessoas que também estão abertas ao conhecimento, que não se fixam em rótulos e papéis, que buscam viver cada dia como uma nova possibilidade aprimoramento.
Estas pessoas são abertas a crescer e a viver o que é essencial, sem perder tempo com superficialidades, mas buscam de cada situação algo verdadeiro, que possa trazer um acréscimo de inteligência e personalidade. Raramente se confundem com as exigências externas, sabem ser para si mesmas e, com isso, servem à sociedade no que lhes compete, sem se perder com as figurações desnecessárias. Isso porque antes vem a vida de cada um, o projeto de cada alma e, depois, vem a relação com o mundo externo.
O saber de si e das coisas pode perde o sabor quando a ordem externa gera anulação ou escravidão psicológica.
E o teu saber, tem sabor de que?
(*) Arlete Salante é psicóloga