Pandemia
E nos vemos às voltas com uma pandemia de coronavírus. É interessante como, de repente, surge uma palavra aparentemente do nada e que passa a merecer a atenção de todos. Uma pandemia é uma epidemia de doença infecciosa que se espalha entre a população localizada numa grande região geográfica como, por exemplo, um continente, ou mesmo o planeta Terra. Assim estamos vendo hoje a disseminação do coronavírus, como foi a gripe espanhola no século passado.
É impressionante o que está acontecendo no mundo. Nunca vi nada, até hoje, que pudesse influir tanto no comportamento das pessoas, dos países, das empresas, das religiões, tudo ao mesmo tempo, em todo o mundo e de uma forma tão rápida. São os efeitos da proliferação do vírus e da globalização.
As medidas profiláticas estão bem orientadas pelas autoridades de saúde. Então é só cumprir. O que deve se evitar é o pânico que causa mais mal do que o vírus em si. E, no extremo oposto, evitar também a displicência, o pouco caso e a negligência.
Escolhi um conto sufi para ilustrar o que está acontecendo:
“Há mil anos, ia a Peste a caminho de Bagdá, quando encontrou Nasrudin.
Este, perguntou-lhe: ‘Aonde vais?’
A Peste respondeu-lhe:
‘A Bagdá, matar dez mil pessoas’
Depois de um tempo, a Peste voltou a encontrar-se com Nasrudin. Muito zangado, o mullah disse:
‘Mentiste. Disseste que matarias dez mil pessoas e mataste cem mil’.
E a Peste respondeu:
‘Eu não menti, matei dez mil. O resto morreu de medo’ ”
(Nasrudin foi satírico sufi que pertencia a um povo nômade turco, e acredita-se que viveu e morreu durante o século XIII em Akshehir, perto de Cônia, capital do Sultanato de Rum, na atual Turquia).
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Como a humanidade está sempre atrás de um “culpado”, agora são os chineses, como ontem foram os africanos, os romanos, os judeus, os árabes, os hindus, etc. Não podemos permitir que se instale o preconceito. Todos somos irmãos e filhos de Deus.
Aprendi que nada acontece por acaso. Ao contrário do que se diz, penso que Deus escreve certo por linhas certas. Precisamos aprender a ler. O coronavírus, de uma só penada, fez mais do que todos os compêndios de ciência esotérica e de filosofia juntos, de todos os tempos: levou a humanidade ao recolhimento e a um questionamento interior como nunca houve.
Esses acontecimentos que provocam reflexões como as que ocorrem agora acabam gerando mudanças de comportamento e criando novos (antigos) hábitos. Está proporcionando a todos um reencontro familiar, po que se constitui num grande avanço espiritual.
Há de se considerar, no entanto, que o número de pessoas contagiadas é pequeno e menor ainda o número de mortos. No Brasil, segundo dados recentes, temos l milhão de pessoas com HIV/AIDS e temos 30 mil casos de dengue. Essa é uma pandemia que não mereceu e nem está merecendo tão significativa atenção pelas autoridades constituídas.
A reflexão sobre os efeitos do coronavírus nos conduz a considerar a possibilidade da morte. De repente ela se apresenta como se estivesse até então ausente de nossas cogitações e emerge com um aspecto aterrador. Penso que devemos aprender a conviver com a morte. Ela faz parte da nossa vida. É um fato inquestionável. Aceitá-la nos torna livres.
Como de tudo o que acontece se pode tirar proveito, agora é o caso de olharmos para dentro e aprender com essa pandemia.
(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis, advogado, associado ao Instituto Histórico e Geográfico – MS.