Pertencimento é pertencer ao Pantanal!
“O Pantanal é nosso lugar de pertencimento. Ele só se deixa pertencer aos que se deixam pertencer a ele”. (Armando Lacerda, pantaneiro)
Em recente mensagem endereçada aos associados do Sindicato Rural de Corumbá, um grande e bravo pantaneiro chama a atenção dos companheiros para uma realidade de imenso significado nos dias atuais e também para o futuro do Pantanal e da sua gente.
E digo que não poderia vir em melhor momento.
Todos sabemos da grande batalha que foi o ano de 2020. Mas, também reconhecemos as dificuldades e as armadilhas que nos foram colocadas nos últimos anos e que ameaçam as nossas vidas diretamente, sejam elas através das normas inadequadas, sejam através de campanhas tendenciosas da imprensa engajada ou de movimentos radicais do Ambientalismo Global.
A exploração que se fez e ainda se faz em torno dos incêndios ocorridos nho Pantanal, sem o menor compromisso com a verdade, por si só dão o tom das próximas atitudes dessas forças contrárias ao nosso compromisso de convivência entre Homem e Natureza no Pantanal.
Por duas vezes vi o termo “Pertencimento” usado em referência ao comprometimento com o Pantanal em menos de uma semana.
A primeira vez, usado para definir a descoberta e o engajamento da sociedade brasileira à “causa pantaneira”, esta instigada pelo jornalismo faccioso e pela campanha irresponsável na Internet, alimentada, muitas vezes, por dezenas de “especialistas” sem o menor conhecimento e compostura; a segunda, esta no texto em referência, para dizer que esse Pertencimento é uma via de mão dupla, que pressupõe uma simbiose, uma perfeita troca e reconhecimento entre aqueles que se pertencem: Pantanal e Pantaneiros.
“O Pantanal é nosso lugar de pertencimento. Ele só se deixa pertencer aos que se deixam pertencer a ele”.
Aqui o cerne da questão. Esta a leitura que o assunto está a merecer desde sempre.
Por que então, sistematicamente, nos negam esse pertencimento?
Por que se empenham em sobrepor outros interesses aos legítimos da nossa gente?
Por que pertencer ao mundo em detrimento do nosso direito?
Patrimônio da Humanidade? Reserva da Biosfera? De que tem servido esses títulos se assistem impassíveis a destruição dos nossos rios e como consequência da nossa planície? Serão apenas colecionadores de riquezas pelo mundo? Não seria essa a mais cínica forma de colonialismo?
Mas não bastasse tamanho empenho internacional em nos tirar a legitimidade desse pertencimento, aqui mesmo em nosso país os vendilhões do tempo, financiados à larga pelo Grande Capital, autoridades em vários escalões de representação e comando, traem descaradamente o verdadeiro propósito conservacionista que deveria nortear as suas atuações em relação ao Pantanal.
Cerceiam os nossos direitos através de legislações restritivas. Praticam o terrorismo legislativo procurando inviabilizar nossas atividades. Fazem média com a opinião pública, reconhecendo direitos a indígenas, quilombolas e povos tradicionais – estes últimos e, sem querer injustiçar as legitimas populações tradicionais, em escandalosa progressão populacional, muitas vezes de origens as mais diversas e sem prova alguma de ancestralidade, como absurdamente lhes garante a lei.
Entretanto, não reconhecem também como tradicionais aqueles que aqui chegaram há bem mais de dois séculos, adquiriram terras, produziram, gerando emprego e riqueza e sempre foram, através de sua cultura e o seu modo de conviver com a Natureza, os grandes responsáveis pela manutenção deste território. Este território que hoje todos cobiçam, como se houvesse surgido do nada, como se fosse uma terra de ninguém! Moeda de troca é em que nos tornaram.
Aos destruidores do Pantanal, a leniência dos acordos descabidos; aos pantaneiros, os rigores da lei; aos infratores, o silêncio cúmplice e criminoso; aos pantaneiros, a difamação impune e orquestrada.
Basta!
Levantemo-nos contra essa tirania do oportunismo político, do interesse colonialista, do capital insidioso, do ambientalismo clientelista e de tudo aquilo que nos oprime nos dias de hoje. É necessário que todos saibam que temos consciência desse pertencimento mais que secular e dele jamais abriremos mão!
Façamos nossas as palavras de Armando Lacerda em seu corajoso chamamento: “Vamos reconquistar, revitalizar, repovoar, revalorizar, é missão urgente! Vamos de barco, de rabeta, de canoa, de caminhão, de trator, de carro de boi, montados ou “de a pé”; vamos assumir nossa comunhão e nosso compromisso com o Pantanal”.
Saudações pantaneiras.
(*) Manoel Martins de Almeida é produtor rural no Pantanal de Corumbá.