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Qualidade da carne: podemos evitar a extinção de raças bovinas naturalizadas

Por Marcos e Costa, Andréa do Egito, Maria Fioravanti e Raquel Soares (*) | 08/06/2011 06:02

As raças Curraleiro e Pantaneiro descendem de raças bovinas ibéricas introduzidas no Brasil durante o período colonial pelos portugueses e espanhóis. São bastante conhecidas pela sua adaptabilidade a ambientes de clima muito quente e que passam por períodos de restrição alimentar, tais como o Cerrado, o Semiárido e o Pantanal. Essa importante característica está relacionada ao processo de seleção natural a que foram submetidas essas populações durante séculos.

Como essas raças não sofreram qualquer processo de seleção ou melhoramento genético por parte dos usuários, foram substituídas e miscigenadas por raças especializadas. Esses animais foram estigmatizados como pouco produtivos, resultando em um processo de risco de extinção.

Cientes que a melhor maneira de promover a conservação das raças bovinas locais é viabilizar o seu uso em sistemas produtivos, pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos em parceria com a Universidade Federal de Goiás e colaboração da Embrapa Pantanal, investigaram a qualidade da carne dessas duas raças naturalizadas e esperam encontrar a presença de indicadores dessas características favoráveis nos genes dos animais.

Foram comparados, proporcionalmente ao padrão morfológico, o desempenho, qualidade de carcaça e carne de três raças bovinas (Curraleiro, Nelore e Pantaneiro) em sistema de confinamento para etapas de terminação até o abate, utilizando animais com dois anos de idade.

Os animais apresentaram maturação fisiológica semelhante, formando um grupo contemporâneo. Os resultados preliminares revelaram que a cobertura de gordura foi semelhante entre os grupos e ocorreu em tempo menor nas raças naturalizadas, que possuem menor proporção de osso na carcaça e maior proporção de carne que a raça Nelore.

Não houve diferença estatística entre textura, marmoreio, maciez e palatabilidade, entretanto o Pantaneiro apresentou maior suculência que o Nelore. O Curraleiro foi semelhante a ambos.

Animais da raça Nelore apresentaram maiores pesos absolutos nas medidas de carne de traseiro, dianteiro e demais cortes comerciais. Entretanto, quando é feita a correção para a proporção em relação ao peso, alguns cortes especiais do Curraleiro e do Pantaneiro, como filé mignon, picanha, maminha e patinho, se tornaram semelhantes aos obtidos com o Nelore.

Diante do exposto, é possível considerar que apesar de não ter sofrido qualquer processo de melhoramento genético para características produtivas, as raças naturalizadas apresentam potencial para que essa população passe por um processo de seleção e melhoramento, semelhante ao que ocorreu com as demais raças bovinas comerciais, utilizando suas aptidões para produção de carne e adaptabilidade mantendo o máximo de diversidade genética possível.

As pesquisas devem avançar no sentido de verificar, inclusive, qual a capacidade de que essas características sejam transmissíveis às futuras gerações.

O fato de a carne das raças locais possuírem potencial de qualidade de carne deve ser encarado como positivo. A proposta de uso dessas raças não visa substituir a raça Nelore, mas sim apresentar uma alternativa para sistemas de criação mistos ou de cruzamentos para formação de raças compostas.

A estratégia de utilizar os bovinos Curraleiro e o Pantaneiro em cruzamentos com raças comerciais pode estimular a expansão de núcleos de criação de raças naturalizadas. A aplicação de programas de manejo é indispensável para evitar a erosão genética e seleção de indivíduos com excelência em aspectos desejáveis

Na visão de que a ciência e o empreendedorismo são parceiros na construção de alternativas para a consolidação da cadeia produtiva da carne e na ocupação de nichos mercadológicos por seus diferentes produtos, ainda há muito que se fazer. Estudos sobre as condições necessárias para obter o máximo de qualidade da carne e a viabilidade econômica dessa atividade envolvendo o setor produtivo e o mercado, são indispensáveis e devem dar novas perspectivas às pesquisas a curto prazo.

(*) Marcos Fernando Oliveira e Costa (mfocosta@hotmail.com) e Andréa Alves do Egito (egito@cnpgc.embrapa.br) são pesquisadores da Embrapa Gado de Corte; Maria Clorinda S. Fioravanti é professora e pesquisadora da Universidade Federal de Goiás; Raquel Soares Juliano é pesquisadora da Embrapa Pantanal.

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