Réquiem por Leonardo e Breno
A violência é uma realidade presente em todos os lugares do mundo, assusta a toda a humanidade. Quando se apresenta próxima a nós, causa uma reação mista de revolta, espanto, aturdimento, impotência, incompreensão.
Não dá para entender o que leva alguém a cometer atos de agressividade, causando muitas vezes conseqüências irreparáveis como quando comete assassinatos para obter uma vantagem ilícita, e cuja ação de imediato, leva os assassinos à prisão. O fruto da ação ilícita não chega nem a produzir nenhum efeito “benéfico” para os autores.
Esta fase de evolução da humanidade está se caracterizando por atos extremos: de terrorismo, assaltos, assassinatos, estupros, violência. Penso que chegamos ao ponto mais baixo desta etapa.
Espero que, a partir de agora ou daqui a pouco a curva ascendente da evolução recomece o seu ciclo, proporcionando a todos nós uma reflexão sobre nossos atos, para que possamos todos, conscientemente contribuir para que a paz seja restabelecida em nosso planeta.
Na minha experiência só a doutrina espírita tem condições de explicar o que acontece. Seria extremamente injusto se a oportunidade da encarnação fosse única.
O que aconteceu dias atrás quando os jovens Leonardo e Breno foram covardemente assassinados deixando seus familiares, amigos e a sociedade em geral em estado de inconformismo é bem representativo disso que estou dizendo.
No caso do Leonardo, além da perda de um jovem em plena exuberância, perdemos também um poeta dotado de “admirável pendor literário” no dizer do dr. Salomão Francisco Amaral. Agradeço a ele a gentileza de ter me encaminhado a poesia Janela, de autoria do Leonardo, escrito no dia 10 de agosto último, 20 dias antes do seu brutal assassinato e que reproduzo para que os leitores possam avaliar a perda ocorrida.
JANELA
“A ponta do meu dedo
Está a descascar
E tenho medo
Que todo eu seja novo
Daqui a alguns dias
Mas qual me é
O problema de ser novo?
Perder tudo o que tenho?
E que é tudo que tenho?
Talvez eu seja nada...
Em minha casa
Havia uma janela no teto.
Uma vidraça difícil de se limpar,
Porque era muito alta,
Mas eu sempre limpava bem.
Até que um dia
Uma pedra irrompeu por ela
E eu me cortei um pouco
Com os cacos
Que caíram no chão.
Foi aí que pude
Pegas aqueles belos cacos
E examiná-los de perto,
Com cuidado
Um a um
Estavam ensebados,
Quase todos eles,
Então não repus a vidraça,
Nem procurei quem atirara
A simples pedra. Não importava
Dali em diante
O sol, a lua, o vento e a chuva
Entravam quando queriam
Lugar nenhum melhor
Para vasos, que flores, ali, conceberam.
Espero que mais coisas
Me entrem pela janela
E que obriguem a mudar a sala,
Assim não me entedio
E não canso dos dias.
Pensando bem...
Espero terminar de descascar logo
Assim não entedio de mim
Afinal só o eu e o que vivi
Me faz parte, nada mais...”
Na lembrança distribuída deles, está reproduzida parte de outra poesia – Olhar Vivente:
“Como agradecer? Como vou brindar?
Mesmo com os pesares deste mundo
Posso sorrir frente ao valoroso ar
Penetrar o céu adocicado mais fundo.”
Certamente Leonardo continua no seu labor poético, onde se encontra com o seu inseparável amigo Breno. Irmãos, juntos na vida, juntos na passagem, juntos na espiritualidade.
(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.
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