Resposta aos filhos da nova década
Em 2021, nascerão 140 milhões de crianças no mundo, sendo 2,5 milhões no Brasil. Já no primeiro dia de 2021, a Terra recebeu 371.504 habitantes, os primeiros filhos da década que se inicia. Em nosso país, foram 6.935. Os dados são do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Multiplicam-se, portanto, os desafios e a responsabilidade da civilização de prover vida de qualidade às presentes e às novas gerações, em um cenário econômico abalado pela Covid-19, que aumentou a pobreza, empurrando cerca de 150 milhões de pessoas para patamar abaixo do nível da miséria, segundo estimativas da ONU.
Os números mostram que, apenas com o crescimento vegetativo de 2,5 milhões de habitantes, teremos no Brasil um novo contingente equivalente à população de Belo Horizonte (MG). A comparação dimensiona a premência de promovermos amplo processo de inclusão, recuperação de empregos perdidos, geração de novos postos de trabalho e retomada do crescimento econômico em níveis mais elevados do que antes da pandemia.
Temos, assim, compromissos relevantes a serem cumpridos, que incluem, necessariamente, um plano eficaz de vacinação de nosso povo contra o novo coronavírus, essencial para a normalização plena das atividades. São inadiáveis, também, as reformas estruturais, como a tributária e administrativa, fundamentais para destravar investimentos, proporcionar mais equilíbrio fiscal e viabilizar a expansão do PIB. E em grau compatível com nosso potencial demográfico, de recursos naturais, do agronegócio e de setores industriais e de serviços que, apesar de todos os obstáculos, são bem-estruturados e competentes. É de se esperar, assim, que a Câmara dos Deputados e o Senado, que contam com novas mesas diretoras este ano, o Executivo e o Judiciário trabalhem de modo mais sinérgico e assertivo para o bem maior do País.
Afinal, a retomada do crescimento econômico em níveis capazes de resgatar do desalento os cerca de 14 milhões de desempregados e de prover educação, trabalho digno e melhor vida às presentes e futuras gerações exigirá políticas públicas eficazes. Temos plenas condições de vencer os desafios da nova década, promovendo a inclusão socioeconômica dos brasileiros, por meio de um projeto eficaz de desenvolvimento sustentado.
Possuímos indústria sólida e meios privilegiados para cultivar alimentos sem desmatar. Somos um dos líderes mundiais na produção de etanol e o sétimo país em energia eólica, que agora será impulsionada com a geração off shore. Estamos entrando de maneira competitiva na solar e dispomos de recursos hídricos abundantes. Basta, agora, inteligência para trabalhar em um modelo que proteja o ambiente e gere renda para a população. Numa perspectiva de responsável otimismo, temos tudo para ser um dos líderes globais na agenda ambiental e na retomada da economia, respondendo de maneira muito competente a essas duas demandas prioritárias da humanidade.
Muitos haverão de alegar as dificuldades de se realizar, em plena pandemia, o que não temos conseguido fazer de modo eficiente nas últimas décadas. Porém, é nas grandes crises que as nações têm a oportunidade de demonstrar sua verdadeira capacidade de mobilização, luta, reação às adversidades e poder de superação. Está na hora de o Brasil tornar-se sujeito de sua própria história e protagonista global.
(*) João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos - EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).