Retorno escolar: É seguro?
Não existe um local livre do risco de contágio. Estamos em um momento de retomada de várias atividades, e o risco existe em todas elas. Não podemos ensinar às crianças que a escola é a grande vilã desta pandemia.
Sabemos dos inúmeros benefícios do ambiente escolar que vão além do aprendizado, como as interações sociais, desenvolvimento físico e mental, rede de proteção de abuso, violência, gravidez precoce, fome e depressão. O risco não é abrir as escolas, mas sim mantê-las fechadas.
Até o momento, as crianças são pouco suscetíveis a Covid-19. Menos de 8% dos casos em todo mundo ocorreram em crianças e adolescentes, sendo a maioria com sintomas leves da doença, com baixas taxas de hospitalização e mortalidade. No caso da gripe, as taxas de infecção, complicações e óbitos entre as crianças é duas vezes maior que o Covid-19. Além disso, a maioria das crianças que ficaram doentes foram infectadas por um familiar dentro de casa, sugerindo que o maior foco de infecção infantil parece estar no local em que a criança mora.
Dados de vigilância epidemiológica em todo o Brasil apontam para uma tendência de queda no número de casos, óbitos e transmissão. A Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu um documento defendendo que o processo de retomada deva envolver a análise individualizada da realidade de cada município, com a participação de técnicos das áreas de saúde e educação, com a responsabilidade compartilhada entre pais, professores e gestores locais.
Dados e experiências em alguns países mostram que é seguro reabrir as escolas. Na Alemanha, Bélgica e na França, com a reabertura, não houve impacto na curva de transmissibilidade ou de óbitos. Na Suécia, onde escolas de educação infantil não foram fechadas, indica que não houve maior infecção entre professores.
Entretanto, no Brasil temos realidades diferentes. A escola, seja pública ou privada, precisa estar preparada seguindo as normas recomendadas pela secretaria da saúde e da educação. A reabertura de forma gradual é uma oportunidade para adquirir experiências e realizar os ajustes necessários nos protocolos contra covid-19 antes de um retorno oficial.
A volta presencial deve ser opcional para o estudante. Aulas virtuais devem ser mantidas para àqueles que convivem com pessoas do grupo de risco ou que não se sentem seguras em retornar nesse momento. O impacto emocional do afastamento escolar também deve ser avaliado, com apoio psicológico antes mesmo deste retorno. Pode ser necessário, regularmente, fazer uma avaliação dos dados epidemiológicos de cada município, com novos focos de contaminação e considerar protocolos específicos para estes casos.
Por fim, não considero este ano perdido. O aprendizado em relação às regras de etiqueta respiratória e à responsabilidade social de cada cidadão deveriam ser incorporados pela sociedade como a maior lição desta pandemia.
(*) Daniela Piotto é pediatra e reumatologista infantil