Se você respira e tem empatia, use máscara e tome vacina
Não é só por você, mas é por todas e todos no seu entorno, é por entendimento, empatia, altruísmo, respeito pela vida e responsabilidade social. A vacinação e medidas não farmacológicas para sair da pandemia devem ser encaradas como um pacto coletivo pela vida. Pessoas vacinadas têm menor chance de se infectar e pouco mais de 90% dos casos de infectados no mundo estão ocorrendo entre os não vacinados.
Um estudo, ainda na forma de preprint, publicado no dia 25/08/2021 mostrou que pessoas vacinadas, quando infectadas, têm em geral uma carga viral menor e ficam com o vírus por um período menor, em comparação com as pessoas não vacinadas que são infectadas pelo Sars-Cov-2. Se as pessoas se recuperam mais rápido, elas transmitem o vírus por menos tempo e isso diminui a taxa de transmissão da doença.
Estudos no mundo real com as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca mostram que a vacinação reduz a transmissão domiciliar em até 50%, inclusive apenas com a primeira dose de qualquer uma das duas vacinas, ou seja, pessoas que moram na mesma casa, quando não vacinadas, sendo infectadas, contaminam o dobro de pessoas na mesma casa. Isso pode ser extrapolado para outras vacinas contra covid-19 também.
Um outro estudo publicado no dia 28/09/2021 na revista PLOS Medicine, conduzido pela Universidade de Oxford e pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido, envolvendo 273.618 pacientes, mostrou que 37% das pessoas recuperadas da covid-19, permanecem com, pelo menos, um sintoma da doença por até seis meses. Segundo o estudo, as pessoas mais idosas e os homens têm mais sintomas como dificuldades respiratórias e problemas cognitivos, enquanto os jovens e as mulheres têm mais dores de cabeça, sintomas abdominais, ansiedade ou depressão.
Será preciso vacinar crianças e adolescentes
Para controlarmos a pandemia, precisaremos vacinar nossos adolescentes de 12-17 anos e num futuro breve, nossas crianças de 5-11 anos. Isso será fundamental nesse processo de bloquear a transmissão e a circulação do vírus. Crianças também podem morrer de covid, podem ter sequelas graves e Covid-19 longa, com sintomas que podem durar por meses. Crianças e adolescentes infectados também podem transmitir a doença, embora menos, pois pessoas vacinadas têm menor carga viral, transmitem menos o vírus, têm quadros mais leves e se recuperam mais rapidamente da doença pois o organismo elimina o vírus mais rapidamente.
Outro ponto importante é que a Ciência está mostrando que a capacidade evolutiva do vírus é menor em pessoas vacinadas, o que significa que o vírus sofre menos mutações em pessoas vacinadas, em comparação com maior número de mutações que ocorrem em pessoas vacinadas. São muitas as vantagens para tomar as vacinas, pessoas vacinadas têm menos chance de serem infectadas, mais chances de terem casos mais brandos no caso de infectados e transmitem menos o vírus quando infectados.
Nossas crianças, jovens e adolescentes precisam voltar para a escola em segurança, sem culpa e sem medo. São muitos os atores envolvidos na volta às aulas, afetando não só os familiares, mas os servidores das escolas, os professores, motoristas de ônibus, vans, enfim todas e todos no entorno do dia a dia escolar de nossas crianças e adolescentes.
A vacina é a nossa melhor estratégia para combater a doença, diminuir o espalhamento do vírus e o contágio, diminuir casos graves com hospitalização e morte, mas elas são apenas umas das camadas de proteção. Mesmo vacinados, nós precisamos de outras ferramentas de proteção como as medidas não farmacológicas, o uso de máscaras, hábitos de higiene das mãos, evitando aglomerações e locais fechados e com pouca ventilação.
Os benefícios da vacinação são muito maiores do que os eventuais riscos ou efeitos adversos. As vacinas são seguras, eficazes e continuam sendo avaliadas na fase de farmacovigilância quanto a possibilidade de eventuais eventos adversos acontecerem. Na maioria das vezes, há apenas uma relação temporal, não de causa e efeito entre o efeito observado com a vacinação. A campanha de vacinação deve seguir as evidências científicas e continuar firme em seu propósito de alcançar uma ampla cobertura vacinal.
Sobre imunidade híbrida - 1a parte
Um artigo publicado no dia 25/06/2021 na prestigiosa revista científica Science, sugere que pessoas que possuem a chamada imunidade híbrida, estariam mais protegidas contra as novas variantes do vírus Sars-CoV-2. Mas quem possuiria a tal imunidade híbrida, considerada tão especial? Em princípio, pessoas que foram infectadas por uma das variantes do Sars-CoV-2, mas que posteriormente tomaram pelo menos uma dose das vacinas baseadas na plataforma de RNA mensageiro (mas talvez seja verdade para todas as vacinas).
Seria uma combinação de imunidade natural adquirida com a infecção, com a imunidade gerada pela produção de anticorpos neutralizantes induzida pelas vacinas. Em resumo, os títulos de anticorpos neutralizantes contra a variante Beta após a vacinação de pessoas recuperadas de covid-19 foram aproximadamente 100 vezes maiores do que em pessoas infectadas pela mesma variante, mas não vacinadas e cerca de 25 vezes maiores do que em pessoas vacinadas, mas nunca infectadas pelo vírus.
A proposta da imunidade híbrida é baseada em uma suposta evolução dos anticorpos neutralizantes que são produzidos após a infecção natural. Com a vacinação, os novos anticorpos seriam muito mais numerosos e potentes e seriam mais resistentes às evoluções naturais do vírus. Em combinação, esses estudos sugerem que em pessoas que já foram infectadas, a vacinação posterior reduz muito o risco de reinfecção. Há uma quantidade maior de anticorpos em comparação com a infecção natural e com a vacinação homóloga.
Sobre imunidade híbrida - 2a parte
Vamos considerar neste texto que a imunidade natural é a proteção imunológica obtida como resposta à infecção pelo Sars-Cov-2. E vamos considerar o termo imunidade conferida pelas vacinas, como a resposta de proteção imunológica após tomar qualquer uma das vacinas contra a covid-19. Nesses casos, a memória imunológica é a fonte da imunidade protetora, embora a imunidade natural e a imunidade gerada pelas vacinas como resposta ao Sars-CoV-2 são na verdade, caminhos diferentes para a proteção conferida pelo sistema imunológico.
Nós estamos aprendendo que a potência ou a efetividade de anticorpos neutralizantes em combater as novas variantes de atenção reduz com o passar do tempo tanto para a imunidade natural como para a imunidade gerada pelas vacinas. Aí entra o conceito de imunidade híbrida, que é considerada uma imunidade mais robusta que se desenvolve em pessoas com imunidade natural adquirida após infecção pela covid-19, que são posteriormente vacinadas. Ocorre uma resposta de proteção de células B de memória (que produzem anticorpos) e de células T mais robustas, resultante de uma combinação de imunidade natural e imunidade induzida pelas vacinas. É como se a qualidade e a robustez dessas células B de memória aumentasse com a exposição aos antígenos das vacinas. O vírus está tentando se adaptar ao hospedeiro, que somos nós seres humanos. Nesse processo, o vírus sofre mutações aleatórias com o objetivo de escapar da resposta de proteção conferida pelas vacinas, como uma pressão da seleção natural para escapar da imunidade gerada pelo hospedeiro.
A infecção natural com o Sars-CoV-2 gera células B de memória de alta qualidade após a infecção original, mas que aumentariam em qualidade e quantidade após a aplicação de vacinas, oferecendo uma proteção cruzada mais ampla contra novas variantes. O sistema imunológico de pessoas recuperadas de covid-19 identifica a exposição ao antígeno das vacinas como uma ameaça mais grave a ser combatida. A resposta de imunidade híbrida foi observada para pessoas recuperadas tanto de casos leves como de casos graves de covid-19.
Intercambialidade - A combinação de plataformas vacinais diferentes, ou vacinação heteróloga, aparentemente pode funcionar como no conceito de imunidade híbrida e levar à respostas de proteção mais robustas e consistentes.
Segunda dose da Janssen aumenta proteção contra covid-19
A Johnson & Johnson havia descrito em um estudo publicado no dia 02/09/2021, que a vacina Ad26.COV2.S induzia proteção significativa contra COVID-19 até oito meses após a vacinação inicial. Dados recentes do estudo ENSEMBLE 2, mostram que uma dose de reforço da vacina da Janssen (Ad26.COV2.S) administrada 2 meses após a dose única da mesma vacina aumenta a proteção em 94%, levando a um incremento de cerca de 4 a 6 vezes no nível de anticorpos, 14 dias após o reforço vacinal. Se a dose de reforço é administrada após 6 meses da dose única, ocorre um aumento de 12 vezes no nível de anticorpos, independente da idade.
Cerca de 14 dias após a dose de reforço, a proteção observada foi de 100% contra casos graves e 75% de proteção contra Covid sintomática. A proteção contra doença leve a moderada é menor e as pessoas ainda podem se infectar e transmitir a doença. O estudo incluiu 390.000 pessoas que receberam a vacina da Johnson & Johnson e os resultados foram comparados com um grupo placebo de cerca de 1,52 milhão de pessoas não vacinadas, conduzidos de março até o final de julho de 2021. A Janssen já havia publicado no dia 16/09/2021 um estudo mostrando que a eficácia contra casos graves de Covid-19 no mundo de real, em locais com a variante Delta circulando é de de 79% para infecções e 81% para hospitalizações, 14 dias após a dose única.
SOBRE NOVAS VACINAS
Fiocruz poderá produzir nova vacina contra covid
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) anunciou no dia 21/09/2021, a escolha do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) da Fiocruz e da empresa biofarmacêutica Sinergium Biotech, na Argentina, como centros da América Latina para produzir uma nova vacina contra a covid-19, com o objetivo de ampliar o acesso a vacinas na região. A candidata vacinal é baseada na tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), expressando a proteína Spike, como nas vacinas da Pfizer e da Moderna, mas também a proteína N do vírus (proteína do nucleocapsídeo, que fica lá dentro do vírus), com o objetivo de ampliar a resposta de proteção imunológica. Além da Fiocruz, cerca de trinta empresas e instituições científicas latino-americanas participaram de uma chamada mundial da OMS. Se essa empreitada for bem-sucedida, será uma conquista científica gigantesca, pois permitirá ao Brasil dominar o conhecimento tecnológico para o desenvolvimento de futuras vacinas para o tratamento de outras doenças. É Ciência que chama, viu gente?
Resultados dos testes da Butanvac
Resultados preliminares publicados na plataforma de preprints MedRxiv no dia 22/09/2021, envolvendo estudos clínicos de fase 1 conduzidos na Tailândia, mostram que a candidata vacinal Butanvac (chamada de NDV-HXP-S) é segura e apresenta forte resposta de imunogenicidade. A Butanvac está sendo testada também aqui no Brasil e no Vietnã. O estudo clínico envolveu a participação de 210 voluntários (82 homens e 128 mulheres entre 18 e 59 anos), foi randomizado e controlado por grupo placebo. Cada voluntário tomou duas doses com intervalo de 28 dias e os efeitos adversos foram considerados leves. A NDV-HXP-S será testada em número maior de participantes na fase 2 e se tudo correr bem, entrará na fase 3 onde será verificada a eficácia. Os estudos de fase 1 verificaram a segurança da NDV-HXP-S e a seleção de dose mostrou que as formulações de 3 microgramas e de 3 microgramas mais adjuvante foram selecionadas para serem avaliadas na fase 2. Leia mais detalhes sobre a Butanvac.
Sobre os lotes recolhidos da Coronavac
O Butantan publicou no dia 28/09/2021, nota anunciando o recolhimento de aproximadamente 8 milhões de doses da CoronaVac, por orientação da Anvisa. A Anvisa determinou o recolhimento dessas doses, pois elas foram envasadas em fábrica da Sinovac não inspecionada pela agência, o que fere os termos da Autorização Temporária de Uso Emergencial da vacina CoronaVac. O Butantan analisou a qualidade e integridade das vacinas, não encontrou problemas e vem monitorando os efeitos adversos relatados por pessoas que tomaram doses desses lotes e concluiu que o perfil de segurança é o mesmo dos outros lotes envasados em fábricas aprovadas pela Anvisa. O Butantan orienta que não há necessidade de revacinação e afirma que a eficácia da vacina não muda. Segundo a Anvisa, os lotes interditados serão destruídos ou inutilizados.
ESTUDOS SOBRE A VACINA DA PFIZER
Incluir dose de reforço na bula
A Anvisa recebeu um pedido da Pfizer para incluir a dose de reforço da vacina Comirnaty na bula da vacina. Hoje, a bula contém duas doses e é recomendada para indivíduos com idade igual ou superior a 12 anos. A solicitação da Pfizer inclui dados de segurança e da eficácia para aplicação de uma dose de reforço e diz respeito à vacinação homóloga, para ser aplicada em pessoas que receberam as duas doses da vacina Comirnaty, sendo o reforço a ser aplicado com a mesma vacina, 6 meses após a segunda dose.
É segura e imunogênica para crianças de 5 a 11 anos
Resultados preliminares de um estudo clínico de Fase II/III com cerca de 4.500 crianças de entre 6 meses e 11 anos nos Estados Unidos, Finlândia, Polônia e Espanha, sugerem que a vacina Comirnaty, da Pfizer é segura e induz resposta robusta de produção de anticorpos em crianças de 5 a 11 anos. O estudo foi dividido em 3 grupos por faixa etária: (1) 6 meses a 2 anos de idade; (2) 2 a 5 anos de idade e (3) 5 a 11 anos de idade. As cerca de 2.268 crianças de 5 a 11 anos que participaram do estudo receberam duas injeções com dose menor, de 10 microgramas cada dose (a bula da vacina da Pfizer traz para maiores de 12 anos, a dose de 30 microgramas para cada dose). O objetivo do estudo foi avaliar a quantidade de anticorpos neutralizantes produzidos em crianças em comparação com a quantidade observada nos estudos anteriores em adultos. A vacina mostrou ótimo perfil de segurança, com efeitos adversos leves e comparados aos que foram observados em voluntários na faixa de 16 a 25 anos de idade.
Dose de reforço aumenta anticorpos de quem tomou Coronavac
No Uruguai, pouco mais de 74% da população já tomou 2 doses das vacinas contra a covid-19. Um estudo preliminar, apresentado em uma conferência de imprensa, conduzido por cientistas do Instituto Pasteur (IP) de Montevidéu e da Universidade da República (Udelar) mostra que a aplicação de uma dose de reforço da vacina da Pfizer aumentou em até 20 vezes o nível de anticorpos em pessoas imunizadas com as duas doses da Coronavac. O estudo avaliou a evolução dos níveis de anticorpos específicos contra o coronavírus e verificou que, 18 dias após a dose de reforço com a vacina da Pfizer, os participantes tiveram um aumento de cerca de 20 vezes no nível de anticorpos em comparação com o nível de anticorpos observados 18 dias após a segunda dose da CoronaVac. A ciência ainda está buscando entender qual o correlato de proteção com o objetivo de determinar qual o nível de anticorpos neutralizantes está associado à eficácia das vacinas contra a Covid. Embora ainda não se conheça o tempo de duração da proteção, são resultados muito importantes.
(*) Luiz Carlos Dias é Professor Titular do Instituto de Química da Unicamp.