ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEGUNDA  25    CAMPO GRANDE 34º

Artigos

Telerreabilitação em grupo no SUS

Vanessa dos Santos Rodrigues, Luciana Laureano Paiva e Marina Petter Rodrigues (*) | 12/11/2022 08:30

A Incontinência Urinária (IU) é o sintoma de perda de urina de forma involuntária, ou seja, a pessoa não consegue controlar o escape de urina. Homens e mulheres podem apresentar essa queixa, porém ela é mais frequente no sexo feminino. Há diversas formas de tratar esse problema, geralmente envolvendo a terapia comportamental (mudança de hábitos) e o treinamento dos músculos do assoalho pélvico – musculatura presente na região íntima que, dentre outras ações, ajuda a evitar a perda de urina, ou mesmo fezes e gases, além de contribuir para o suporte do peso dos órgãos localizados na pelve, como bexiga e útero, por exemplo.

O tratamento pode ser desenvolvido de diversas formas, presencialmente, ou à distância, individual ou em grupo. No caso do nosso trabalho, desenvolvido no Projeto de Extensão Fisioterapia Voltada à Saúde da Mulher, em parceria com o Ambulatório de Uroginecologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), utilizamos a telerreabilitação em grupo por videochamada pelo whatsapp para tratar a IU com o objetivo de verificar a severidade do quadro, a satisfação e a adesão ao tratamento online em grupo.

A ideia surgiu no trabalho de doutorado de Marina Rodrigues, que uniu o tratamento em grupo para IU – já utilizado pelo Grupo de Fisioterapia Pélvica HCPA/UFRGS desde meados de 2014 – à modalidade online, em alta após o início da pandemia de covid-19. O público atendido no estudo foram mulheres, todas pacientes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) diagnosticadas com IU. Elas foram incluídas em grupos do whatsapp onde recebiam o atendimento via chamada de vídeo, uma vez por semana, durante oito semanas. O protocolo de tratamento foi o mesmo para todas as pacientes e contou com exercícios de respiração/relaxamento globais, além de mobilidade, contração e alongamento dos músculos do assoalho pélvico. Também fizeram parte do protocolo orientações sobre hábitos modificáveis e espaço de troca de experiências, pensando na melhora dos sintomas das pacientes.

Segundo os dados preliminares, a equipe de Fisioterapia Pélvica atendeu 59 pacientes. Mulheres com mediana de 59 anos e queixa de IU mista (perda de urina durante o sintoma de urgência para fazer xixi e durante esforços físicos) foi o padrão mais presente (61%). Ao final do tratamento, 42 pacientes permaneceram, tendo sido observado que a mediana do escore inicial de 14,5 pontos no questionário de severidade da IU (International Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form) reduziu para 13 pontos. Apesar de se manter como IU severa, valores mais baixos indicam sintomas mais brandos.

No questionário de satisfação com o tratamento, criado no doutorado de Marina Rodrigues, 66,66% ficaram totalmente satisfeitas, 23,8% ficaram muito satisfeitas e 78,57% recomendariam fortemente o teleatendimento. Segundo a percepção de melhora, 9,52% melhoraram completamente, 23,8% melhoraram bastante e 49,99% melhoraram ou melhoraram parcialmente. Quanto à adesão, 28,57% participaram de todos os encontros, 61,9% participaram de 5 a 7 encontros e 16,66% participaram de até 4 atendimentos.

Como sinalizado anteriormente, o tratamento em grupo para IU já vinha sendo praticado pelo Grupo de Fisioterapia Pélvica do HCPA. Esse tipo de atendimento possibilita absorver maior demanda do serviço de saúde, além de reduzir os custos com o tratamento.

Com a pandemia – quadro em que atendimentos presenciais eletivos, como no caso da fisioterapia para IU, foram cancelados –, o tratamento online possibilitou realizar o atendimento fisioterapêutico em um contexto de isolamento social. Conseguimos, assim, oferecer uma opção de assistência a mulheres com sintoma de perda de urina, mesmo com a necessidade de nos mantermos distanciados fisicamente.

Embora pudesse ser um obstáculo o fato de as pacientes precisarem ter telefone celular e acesso à internet, um ponto importante que observamos foi o benefício de facilitar o atendimento a mulheres que residem em municípios longe de Porto Alegre, que por vezes teriam dificuldades ou até mesmo impossibilidade de realizar tratamento presencialmente na capital. Além disso, fizemos experiências de grupos online em horários noturnos para oportunizar a participação de mulheres, principalmente trabalhadoras, que não tinham disponibilidade em horários diurnos, o que dificilmente poderia ocorrer de forma presencial no hospital.

Dessa maneira, a telerreabilitação em grupo se mostra mais uma estratégia terapêutica benéfica não só em contexto de distanciamento social, mas também como mais uma possibilidade de tratamento conservador e acompanhamento das pacientes, contribuindo de forma relevante para a prática clínica da Fisioterapia Pélvica no tratamento da incontinência urinária feminina, sobretudo no cenário do Sistema Único de Saúde.

(*) Vanessa dos Santos Rodrigues é acadêmica do curso de Fisioterapia da UFRGS e bolsista de Iniciação Científica.

(*) Luciana Laureano Paiva é professora associada II do curso de Fisioterapia da UFRGS e coordenadora do Projeto de Extensão e do Ambulatório de Fisioterapia Pélvica do HCPA.

(*) Marina Petter Rodrigues é fisioterapeuta e doutora em Ciências da Saúde: Ginecologia e Obstetrícia pela UFRGS.

Nos siga no Google Notícias