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Cidades

"Não teve como não lembrar", diz refém de sequestro a ônibus 19 anos depois

Janaína saiu de MS e no RJ ficou conhecida por escrever, com batom vermelho, recados aterrorizantes no para-brisa de ônibus

Aline dos Santos e Maressa Mendonça | 21/08/2019 11:34
"Não teve como não lembrar", diz refém de sequestro a ônibus 19 anos depois
Janaína era passageira do ônibus 147, sequestrado em 12 de junho de 2000, no Rio de Janeiro.

Na rapidez de segundos, Janaína Lopes Silva viu o tempo retroceder em 19 anos e voltar para 12 de junho de 2000, quando foi refém no ônibus 174, no Rio de Janeiro. “Não tem como não lembrar do dia do sequestro, fiquei imaginando a angústia das pessoas que estavam ali”. Naquele ano, ela havia trocado Campo Grande (MS) pelo Rio.

A lembrança foi disparada ontem (dia 20) ao saber de um novo sequestro de passageiros de ônibus. Desta vez, o veículo com 38 reféns parou atravessado na ponte que liga o Rio de Janeiro e Niterói. Após duas horas de negociação, o sequestrador foi baleado por atiradores de elite e morreu no hospital.

De volta a 12 de junho de 2000 o sequestro do 174 foi marcado pela tortura psicológica imposta às reféns. O desfecho foi com duas mortes: de uma passageira e do sequestrador. Nesse ônibus estava Janaína, a moça lembrada por escrever, com batom vermelho, recados aterrorizantes no para-brisa. “Ele vai matar geral às 6h” e “Ele tem pacto com o diabo”.

Quase duas décadas depois, Janaína, 42 anos, está casada, é mãe e ainda mora no Rio de Janeiro. Ao Campo Grande News, ela conta que recebeu mensagem no aplicativo WhatsApp noticiando o sequestro do ônibus na ponte Rio-Niterói. Dedicada aos cuidados com o filho, que está com pneumonia, passou a acompanhar o noticiário pela televisão quando o sequestro já tinha terminado.

“É claro que ninguém deseja a morte de ninguém. A partir do momento que o sequestrador foi alvejado e morto, fiquei pensando no alívio das outras pessoas”, diz.

Além das lembranças, a terça-feira foi marcada pela procura de familiares e amigos, que mandaram mensagens para saber como Janaína estava. No ano 2000, por uma coincidência, a então estudante tinha marcado para começar terapia no dia seguinte ao sequestro do 174, o que foi fundamental para seguir em frente.

“Tinha acabado de chegar ao Rio e queria fazer faculdade, trabalhar, viver minha história. Não queria voltar para Campo Grande naquela época. Não tinha razão para voltar. A terapia me ajudou nesse sentido”, afirma.

Foi preciso vencer o medo de usar ônibus para se deslocar pela cidade. “Eu sentia medo, achava que poderia ser um assalto e já descia, Por bastante tempo isso aconteceu. Nunca mais peguei o 174. Depois, trocaram o número do ônibus, virou documentário. Não tem como esquecer, isso vai ficar marcado para sempre”.

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